«Reprogramar» a política aquém dos fundos do PRR

João Oliveira

O go­verno por­tu­guês apre­sentou à Co­missão Eu­ro­peia uma pro­posta de re­pro­gra­mação dos fundos do PRR, des­vi­ando para ou­tros fins verbas que es­tavam ini­ci­al­mente des­ti­nadas à ha­bi­tação, à mo­bi­li­dade e trans­portes e a ou­tros in­ves­ti­mentos. A jus­ti­fi­cação é a de que se corria o risco de serem des­per­di­çadas verbas por in­ca­pa­ci­dade da sua uti­li­zação dentro dos prazos que estão pre­vistos nos ca­len­dá­rios do PRR.

Aten­dendo à re­a­li­dade na­ci­onal, não se olha com sur­presa para esta de­cisão. É evi­dente o es­tado de ca­rência para que Por­tugal foi ati­rado em termos de ca­pa­ci­dade de pla­ne­a­mento e exe­cução de in­ves­ti­mento pú­blico, in­cluindo a cor­res­pon­dente ca­pa­ci­dade pro­du­tiva nos mais di­versos sec­tores. Por isso, mesmo quando há re­cursos fi­nan­ceiros à dis­po­sição, são muitas as di­fi­cul­dades em con­se­guir uti­lizá-los efi­caz­mente.

Esta re­pro­gra­mação dos fundos do PRR vem pôr a nu uma re­a­li­dade para a qual o PCP tem vindo a alertar há muito tempo: um país que não va­lo­riza, não ro­bus­tece nem qua­li­fica a sua Ad­mi­nis­tração Pú­blica, que não de­sen­volve as ca­pa­ci­dades pro­du­tivas na­ci­o­nais nem di­ver­si­fica a sua eco­nomia, que não in­veste no de­sen­vol­vi­mento ci­en­tí­fico e tec­no­ló­gico e na sua in­cor­po­ração na pro­dução na­ci­onal, que não con­trola sec­tores es­tra­té­gicos e es­sen­ciais para o de­sen­vol­vi­mento na­ci­onal, é um país que, mais cedo que tarde, cons­tata que não con­segue ter nas mãos os ins­tru­mentos de que ne­ces­sita para dar res­posta aos di­versos pro­blemas que en­frenta.

A si­tu­ação a que se chegou agora a pro­pó­sito dos fundos do PRR re­vela as con­sequên­cias de dé­cadas de po­lí­ticas de di­reita que exau­riram re­cursos e ca­pa­ci­dades da Ad­mi­nis­tração Pú­blica que hoje fazem falta em pra­ti­ca­mente todas as áreas da vida na­ci­onal, in­cluindo no pla­ne­a­mento e exe­cução do in­ves­ti­mento pú­blico. E mostra como o afu­ni­la­mento da eco­nomia no sector dos ser­viços, des­pre­zando tudo o resto, deixa o país com muitas li­mi­ta­ções e di­fi­cul­dades em dar res­posta a ne­ces­si­dades e pri­o­ri­dades na­ci­o­nais.

A di­mensão dos pro­blemas eco­nó­micos e so­ciais com que es­tamos con­fron­tados exige a mo­bi­li­zação de ní­veis muito ele­vados de in­ves­ti­mento, a co­meçar pelo re­forço do in­ves­ti­mento pú­blico por via do Or­ça­mento do Es­tado, re­ver­tendo o ca­minho que tem sido feito há dé­cadas em sen­tido con­trário.

Numa ló­gica de pre­o­cu­pação ime­diata com o apro­vei­ta­mento das verbas que Por­tugal tem à sua dis­po­sição, teria feito mais sen­tido que o Go­verno se ba­tesse pelo alar­ga­mento do prazo dos fundos do PRR. Mas nem a re­pro­gra­mação dos fundos, nem o alar­ga­mento do prazo do PRR dis­pensam o es­sen­cial: o que é pre­ciso é «re­pro­gramar» a po­lí­tica que está por de­trás dos pro­blemas na­ci­o­nais, pondo fim à po­lí­tica de di­reita que, também nos fundos do PRR, com­pro­mete o fu­turo do País.

 



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