Ilusões desfeitas pelo Conselho Europeu

João Oliveira

Quem es­tava à es­pera que a es­colha de An­tónio Costa para a pre­si­dência do Con­selho Eu­ropeu (CE) sig­ni­fi­casse uma mu­dança de po­lí­ticas da União Eu­ro­peia (UE) es­perou pouco para se de­sen­ganar.

Se a ilusão co­meçou a des­fazer-se com a agenda do pri­meiro dia de man­dato, a pri­meira reu­nião do CE pre­si­dida por An­tónio Costa desfez o que dela res­taria, quer pelo que nela se tratou, quer pelo que dela ficou au­sente.

Nessa pri­meira reu­nião nem um mi­nuto se gastou a dis­cutir as po­lí­ticas e me­didas que a UE de­veria adoptar para ga­rantir a ele­vação das con­di­ções de vida dos povos, o au­mento dos sa­lá­rios e das pen­sões, o apoio ao in­ves­ti­mento nos ser­viços pú­blicos, o in­ves­ti­mento na ha­bi­tação ou a con­tenção dos preços para travar o au­mento do custo de vida.

Ne­nhum desses temas, que marcam a vida diária e as pre­o­cu­pa­ções de mi­lhões de pes­soas nos países que in­te­gram a UE, me­receu a atenção do CE. Já a guerra con­tinua a ter toda a cen­tra­li­dade, pelas pi­ores ra­zões.

Ao in­sistir na pers­pec­tiva do pro­lon­ga­mento da guerra na Ucrânia, An­tónio Costa quis dar o sinal de que, com ele na pre­si­dência do CE, a UE con­ti­nuará a per­correr o ca­minho do mi­li­ta­rismo e da con­fron­tação. A sua vi­sita a Kiev no pri­meiro dia de man­dato e a pre­sença de Ze­lensky na pri­meira reu­nião do CE do man­dato de Costa, so­madas às de­cla­ra­ções en­fá­ticas que de­cidiu fazer a res­peito do em­penho da UE na­quela opção, não deixam margem para dú­vidas.

«Podem contar com o nosso apoio total e in­con­di­ci­onal, custe o que custar e du­rante o tempo que for ne­ces­sário», foram as pa­la­vras que Costa es­co­lheu para re­a­firmar a opção da UE pela guerra, sa­cri­fi­cando o que for pre­ciso sa­cri­ficar, até ao úl­timo ucra­niano e gas­tando o di­nheiro que for pre­ciso gastar para que isso acon­teça.

Sobre a pos­si­bi­li­dade de haver, a partir de agora, a ini­ci­a­tiva di­plo­má­tica que até hoje faltou para en­con­trar uma so­lução po­lí­tica com vista à paz, nem uma pa­lavra.

Sobre a pri­o­ri­dade da cons­trução de uma so­lução de fim do con­flito que se trava na Ucrânia e de se­gu­rança co­lec­tiva para toda a Eu­ropa, sen­tando à mesa das ne­go­ci­a­ções os seus in­ter­ve­ni­entes – EUA, NATO, UE, Ucrânia e Rússia – com esse ob­jec­tivo, si­lêncio.

Sobre a ne­ces­si­dade de re­tirar das pri­o­ri­dades da UE o mi­li­ta­rismo, a cor­rida aos ar­ma­mentos e a po­lí­tica de con­fron­tação, im­pe­dindo que se con­cre­tizem as ori­en­ta­ções que de­finem esses ob­jec­tivos como o alfa e o ómega das po­lí­ticas da UE, in­cluindo ao nível or­ça­mental, também nem um sus­surro.

É caso para dizer que, mesmo para quem não ali­men­tava a ilusão de que An­tónio Costa po­deria fazer uma vi­ragem de 180° nas po­lí­ticas da UE, não deixa de es­pantar a ace­le­ração que quer fazer man­tendo o azi­mute nos 0°...

 



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