Ilusões desfeitas pelo Conselho Europeu
Quem estava à espera que a escolha de António Costa para a presidência do Conselho Europeu (CE) significasse uma mudança de políticas da União Europeia (UE) esperou pouco para se desenganar.
Se a ilusão começou a desfazer-se com a agenda do primeiro dia de mandato, a primeira reunião do CE presidida por António Costa desfez o que dela restaria, quer pelo que nela se tratou, quer pelo que dela ficou ausente.
Nessa primeira reunião nem um minuto se gastou a discutir as políticas e medidas que a UE deveria adoptar para garantir a elevação das condições de vida dos povos, o aumento dos salários e das pensões, o apoio ao investimento nos serviços públicos, o investimento na habitação ou a contenção dos preços para travar o aumento do custo de vida.
Nenhum desses temas, que marcam a vida diária e as preocupações de milhões de pessoas nos países que integram a UE, mereceu a atenção do CE. Já a guerra continua a ter toda a centralidade, pelas piores razões.
Ao insistir na perspectiva do prolongamento da guerra na Ucrânia, António Costa quis dar o sinal de que, com ele na presidência do CE, a UE continuará a percorrer o caminho do militarismo e da confrontação. A sua visita a Kiev no primeiro dia de mandato e a presença de Zelensky na primeira reunião do CE do mandato de Costa, somadas às declarações enfáticas que decidiu fazer a respeito do empenho da UE naquela opção, não deixam margem para dúvidas.
«Podem contar com o nosso apoio total e incondicional, custe o que custar e durante o tempo que for necessário», foram as palavras que Costa escolheu para reafirmar a opção da UE pela guerra, sacrificando o que for preciso sacrificar, até ao último ucraniano e gastando o dinheiro que for preciso gastar para que isso aconteça.
Sobre a possibilidade de haver, a partir de agora, a iniciativa diplomática que até hoje faltou para encontrar uma solução política com vista à paz, nem uma palavra.
Sobre a prioridade da construção de uma solução de fim do conflito que se trava na Ucrânia e de segurança colectiva para toda a Europa, sentando à mesa das negociações os seus intervenientes – EUA, NATO, UE, Ucrânia e Rússia – com esse objectivo, silêncio.
Sobre a necessidade de retirar das prioridades da UE o militarismo, a corrida aos armamentos e a política de confrontação, impedindo que se concretizem as orientações que definem esses objectivos como o alfa e o ómega das políticas da UE, incluindo ao nível orçamental, também nem um sussurro.
É caso para dizer que, mesmo para quem não alimentava a ilusão de que António Costa poderia fazer uma viragem de 180° nas políticas da UE, não deixa de espantar a aceleração que quer fazer mantendo o azimute nos 0°...