A operação das 20 horas

Rui Fernandes

O que re­al­mente im­porta é ace­lerar va­lo­ri­zação dos pro­fis­si­o­nais


De forma surpreendente, eis que surge um anúncio de uma comunicação do primeiro-ministro às 20h00. Às 20h00, aquela hora usada para comunicações solenes. E às 20h00 lá apareceu o primeiro-ministro rodeado da ministra da Administração Interna, da ministra da Justiça, dos responsáveis máximos das forças de segurança e do director da PJ, para dizer coisa nenhuma dizendo, contudo, muito com aquele acto.

A im­por­tância desta ope­ração de Mon­te­negro não deve ser ob­ser­vada pelos ele­mentos de ordem ob­jec­tiva, mas sub­jec­tiva. A pri­meira das quais pela in­dução da ideia de que os re­sul­tados ob­tidos pelas forças de se­gu­rança ou pela Po­lícia Ju­di­ciária se devem à con­dução do Go­verno. Ora, a con­dução das in­ves­ti­ga­ções com­pete ao Mi­nis­tério Pú­blico. De­pois, ar­rastou para esta ope­ração de apro­vei­ta­mento po­lí­tico os res­pon­sá­veis má­ximos das res­pec­tivas forças, o que se de­sa­con­selha. Por fim, trans­mitiu a ideia de um Es­tado mus­cu­lado.

Sendo óbvio que os di­versos de­par­ta­mentos do Es­tado têm de agir pe­rante os fe­nó­menos de na­tu­reza cri­minal, com o uso pro­por­ci­onal da força, é coisa di­fe­rente o agi­gan­ta­mento do uso do medo como ins­tru­mento de con­trolo so­cial. Aliás, vemos como o uso do medo per­passa cada vez mais pelo es­paço co­mu­ni­ca­ci­onal de massas – sobre pan­de­mias, o es­tado de tempo, a pro­pó­sito da guerra, etc.

A ini­ci­a­tiva de Mon­te­negro, po­dendo ter so­mente a sim­ples lei­tura do ri­dí­culo, não deve ser ig­no­rada nos seus as­pectos pro­fundos, in­se­rindo-se na agenda da ma­ni­pu­lação emo­ci­onal e re­tró­grada. Aliás, a re­acção do Chega fin­gindo de­mar­cação não con­segue es­conder o agrado com a cena pro­ta­go­ni­zada pelo Go­verno.

Dito isto, para anun­ciar 20 mi­lhões para vi­a­turas não era ne­ces­sário todo aquele apa­rato, além do mais para vi­a­turas que só mar­carão pre­sença lá para 2026, res­tando ve­ri­ficar o que acon­teceu às an­te­ri­or­mente anun­ci­adas pelo go­verno PS.

 

O que re­al­mente im­porta

Aquilo que re­al­mente im­porta o Go­verno fazer é ace­lerar as me­didas de va­lo­ri­zação dos pro­fis­si­o­nais das di­fe­rentes áreas – seja da Jus­tiça ou da Ad­mi­nis­tração In­terna. Dotar as ma­gis­tra­turas de meios há muito re­cla­mados e iden­ti­fi­cados, in­cluindo os meios hu­manos. Re­solver os pro­blemas dos fun­ci­o­ná­rios ju­di­ciais, pro­fis­si­o­nais fun­da­men­tais para a ope­ra­ci­o­na­li­zação do sis­tema de jus­tiça. Com de­ter­mi­nação, va­lo­rizar os pro­fis­si­o­nais das forças e ser­viços de se­gu­rança, porque é curto, muito curto, re­petir à exaustão que au­mentou o su­ple­mento. Aliás, o pro­blema da atrac­ti­vi­dade mantém-se, bas­tando cons­tatar o nu­mero de vagas que foram abertas e o nu­mero de po­li­cias em for­mação.

É pre­ciso va­lo­rizar os sa­lá­rios. É pre­ciso va­lo­rizar as car­reiras. É ne­ces­sário um plano con­creto para re­solver o pro­blema do alo­ja­mento e não um plano de “pesca à linha” pro­cu­rando atirar para cima das au­tar­quias res­pon­sa­bi­li­dades. É pre­ciso pagar a tempo e horas o tra­balho pres­tado em re­gime de re­mu­ne­rado, mas cuidar também que esse re­gime não tru­cide o di­reito ao des­canso, as­pecto que em pro­fis­si­o­nais que exercem estas fun­ções deve ser visto como um dever. É fun­da­mental re­flectir sobre a se­lecção e a for­mação.

São ne­ces­sá­rias po­lí­ticas pú­blicas que ata­quem pro­blemas so­ciais, onde se in­sira a pre­sença das forças de se­gu­rança na ló­gica de pro­xi­mi­dade e pre­venção. Aliás, a este pro­pó­sito será útil re­vi­sitar a origem da ini­ci­a­tiva do PCP, com 26 anos, de cri­ação dos Con­se­lhos Mu­ni­ci­pais de Se­gu­rança.



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