Arte de luta numa casa aberta à vida
Os autocolantes são uma forma de comunicação política muito eficaz
O Centro de Trabalho Vitória, no coração da cidade de Lisboa, tem por estes dias patente uma exposição de autocolantes, promovida pela Organização de Artistas Plásticos, Designers e Fotógrafos, que já vai na sua terceira edição.
Os autocolantes em exposição dividem-se em dois grupos: uns foram produzidos especialmente para a ocasião por designers e artistas visuais, focando direitos consagrados na Constituição da República Portuguesa; outros, relativos a Centros de Trabalho do PCP, são mais antigos, tendo sido recuperados da rica e exaltante história do Partido. Todos, sem excepção, constituem peças artísticas únicas que combinam forma e conteúdo, primor estético e eficácia de comunicação.
Relativamente aos primeiros, destacam-se princípios constitucionais e conquistas revolucionárias como o salário mínimo nacional, o Serviço Nacional de Saúde, a educação e a cultura, a habitação, a igualdade entre mulheres e homens, os direitos das crianças e dos jovens, mas também ao trabalho, à greve e à manifestação, as liberdades de reunião e de associação (incluindo a liberdade sindical), as eleições livres, a paz e o fim da guerra colonial e dos blocos político-militares: se a actualidade dos direitos escolhidos é flagrante, a forma de os expressar é a mais diversa – do naïf ao geométrico, do retro ao vanguardista.
Quanto ao segundo grupo de autocolantes, remetem-nos para os meses e anos após a Revolução de Abril, quando abriam um pouco por todo o País os Centros de Trabalho do PCP: alusões à clandestinidade, à Reforma Agrária e a particularidade da região em que cada um se inseria são marca destes relevantes documentos históricos. E já que falamos de Centros de Trabalho, a exposição dos autocolantes no CT Vitória evidencia que as casas do Partido estão de portas abertas à vida e à arte.
Expressão de vida
Dizia o maestro Fernando Lopes-Graça que a arte «não é adorno da boa sociedade», mas «expressão fremente de vida», em todas as suas vertentes. Daí que tudo possa ser expresso através da arte, na multiplicidade das suas disciplinas: a representação (ou reconstrução) da realidade natural e social, a complexidade dos sentimentos humanos, as utopias, os projectos políticos alternativos, a luta revolucionária.
A ligação entre a arte e o movimento comunista é antiga e foram muitos os artistas consagrados que colocaram o seu talento ao serviço da causa da emancipação social dos trabalhadores: contam-se, entre eles, Pablo Picasso, David Siqueros ou Vladimir Mayakovsky.
As formas, essas, foram e são aquelas que, em cada contexto, mais se adaptam às necessidades (e possibilidades) de intervenção e à criatividade dos militantes artistas: cartazes, folhetos, pinturas murais, poesia, música, filmes e, claro, autocolantes.
O PCP tem um imenso património de militantes artistas (José Dias Coelho, Margarida Tengarrinha, Rogério Ribeiro e muitos outros, de tantas outras artes), que nos deixaram obras extraordinárias de comunicação política. Um património que, como se vê pelos novos autocolantes expostos, continua a ser enriquecido.