Travar as privatizações é defender os valores de Abril

«Con­ti­nuar a re­sistir a este pro­cesso de pri­va­ti­za­ções é do in­te­resse e uma exi­gência dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País, do seu de­sen­vol­vi­mento e da sua so­be­rania.» A afir­mação é do Se­cre­tário-Geral do PCP, in­ter­vindo na sessão pú­blica A agenda pri­va­ti­za­dora e a ope­ração contra Abril – der­rotar a po­lí­tica de di­reita e os pro­jectos re­ac­ci­o­ná­rios, re­a­li­zada an­te­ontem em Lisboa.

O PCP não dará tré­guas ao crime eco­nó­mico que as pri­va­ti­za­ções re­pre­sentam


O processo de privatizações é antigo, tem 48 anos, tantos como a contra-revolução, da qual é elemento central. Isso mesmo foi assinalado pelo PCP ao final da tarde de terça-feira, 19, numa sessão pública onde se alertou para o facto de haver, por estes dias, quem se preste a prossegui-lo: o Governo da AD anunciou a quinta tentativa de privatização da TAP e o desenvolvimento daquilo que chama de “plano de reestruturação do Sector Empresarial do Estado”, inscrito na proposta de Orçamento do Estado para 2025.

Re­fe­rindo-se ao dito plano, o Se­cre­tário-Geral do PCP ga­rantiu que ele não tem como ob­jec­tivo re­solver qual­quer pro­blema na­ci­onal, mas sim «trans­ferir o má­ximo de pro­pri­e­dade so­cial para o grande ca­pital, para aqueles que vivem das rendas ge­radas pela apli­cação do ca­pital pre­vi­a­mente acu­mu­lado». A sua con­cre­ti­zação, acres­centou, pas­sará «pelas mais di­versas tác­ticas e ve­lo­ci­dades», como aliás acon­teceu em pri­va­ti­za­ções an­te­ri­ores (ver caixa).

Ao con­creto, su­bli­nhou Paulo Rai­mundo, e para além da trans­por­ta­dora aérea na­ci­onal, foi anun­ciada a re­ti­rada da pu­bli­ci­dade à RTP, que cons­titui uma forma de pri­va­ti­zação do sector, para já pri­va­ti­zando as re­ceitas que o podem sus­tentar. Na CP esse ob­jec­tivo está pa­tente na li­be­ra­li­zação do longo curso e na di­visão da em­presa em troços, dis­pen­sando-os pelas re­giões, me­didas ins­critas no pro­grama do Go­verno. Também o sector da água é um alvo, «apesar do re­tum­bante fra­casso que foram as pri­va­ti­za­ções até hoje con­cre­ti­zadas». E o alar­ga­mento para 75 anos das con­ces­sões por­tuá­rias, ins­crito na pro­posta de OE, é outra forma de pri­va­tizar.

«De­pois do pe­ríodo da troica e do pacto de agressão que em­po­breceu e ar­rasou o País, as pri­va­ti­za­ções aí estão de novo, su­por­tadas na acção do Go­verno e no apoio que lhe é dado para este fim, e que vai do PS ao Chega», de­nun­ciou o di­ri­gente co­mu­nista.

Li­ções da his­tória
A his­tória en­sina (isto, claro, se dela se souber re­tirar as li­ções de­vidas) e a his­tória das pri­va­ti­za­ções é rica em li­ções. As pri­meiras, e mais evi­dentes, são as que se sentem no dia-a-dia do País: a des­truição do apa­relho pro­du­tivo e o em­po­bre­ci­mento do perfil pro­du­tivo; a perda de re­ceitas pelo Es­tado, a re­dução do ren­di­mento na­ci­onal, o dé­fice da ba­lança de pa­ga­mentos com a cres­cente saída de re­cursos na­ci­o­nais para o es­tran­geiro e o au­mento da dí­vida ex­terna; a de­gra­dação pro­gres­siva dos ser­viços pú­blicos; a de­gra­dação das con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores com a cres­cente pre­ca­ri­zação das re­la­ções la­bo­rais; o cres­cente do­mínio do poder eco­nó­mico sobre o poder po­lí­tico de­gra­dando a de­mo­cracia; e cada vez menos so­be­rania eco­nó­mica. Tudo isto re­sulta das pri­va­ti­za­ções e da re­cons­trução do ca­pi­ta­lismo mo­no­po­lista.

Para além dos exem­plos dados por ou­tros ora­dores (ver ci­ta­ções nestas pá­ginas), Paulo Rai­mundo lem­brou um pro­cesso dis­si­mu­lado e con­cre­ti­zado por fases. Quem o ini­ciou, aliás, pro­metia o cha­mado “so­ci­a­lismo de­mo­crá­tico” para assim «es­conder a po­lí­tica de di­reita que ra­pi­da­mente abraçou».

Quanto à cro­no­logia, co­meçou-se pelos sec­tores es­tra­té­gicos para a pró­pria luta po­lí­tica, como a co­mu­ni­cação so­cial, ou os ne­ces­sá­rios para ala­vancar as res­tantes pri­va­ti­za­ções, como a banca, e só de­pois se avançou para os res­tantes; pri­meiro en­tregou-se ao grande ca­pital “apenas” partes de em­presas e só de­pois o resto; ao início foram ali­e­nadas em­presas pú­blicas a grupos na­ci­o­nais, que de­pois as en­tre­gavam ao ca­pital es­tran­geiro, e só de­pois essa trans­fe­rência se fez di­rec­ta­mente; partiu-se de pri­va­ti­za­ções “par­ciais” e, só mais tarde, to­tais; co­meçou-se pelos sec­tores não es­tra­té­gicos, avan­çando-se de­pois para estes e para os pró­prios ser­viços pú­blicos e fun­ções do Es­tado – como agora se ve­ri­fica na Saúde, na Edu­cação e na Jus­tiça.

O PCP, re­a­firmou Paulo Rai­mundo, «não dará tré­guas ao crime eco­nó­mico que elas re­pre­sentam», num com­bate que se pro­lon­gará para além do Or­ça­mento do Es­tado e que re­quer a «mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores destas em­presas e sec­tores e de todo o povo por­tu­guês». Para que Por­tugal «não con­tinue a ser ven­dido aos bo­cados».

 

Tác­ticas (ou ma­nhas) do pro­cesso de pri­va­ti­za­ções

- sub-fi­nan­ci­a­mento e sa­bo­tagem das em­presas pú­blicas, pro­cesso que con­tinua.

- in­venção de qua­dros re­gu­la­dores do Sector Em­pre­sa­rial do Es­tado cada vez mais com­plexos, mais ine­fi­cazes e menos trans­pa­rentes.

- in­serção de de­ter­mi­nadas pri­va­ti­za­ções em pa­cotes de in­ge­rência ex­terna, como os múl­ti­plos pro­cessos li­be­ra­li­za­dores da União Eu­ro­peia ou os pa­cotes im­postos pela troica.

- de­gra­dação das con­di­ções de tra­balho e re­mu­ne­ra­tó­rias do Sector Pú­blico, cor­ro­endo por dentro as em­presas, li­mi­tando a sua ca­pa­ci­dade de res­posta, e pro­cu­rando afastar os tra­ba­lha­dores da de­fesa do seu ca­rácter pú­blico e na­ci­onal.

- re­cor­rentes pro­messas aos tra­ba­lha­dores e às po­pu­la­ções das “ma­ra­vi­lhas” das pri­va­ti­za­ções, dos “preços que vão sempre descer”, dos “ser­viços que vão sempre me­lhorar”.

- re­a­li­zação sis­te­má­tica de “cam­pa­nhas ne­gras” sobre sec­tores na­ci­o­na­li­zados, ao mesmo tempo que se acen­tuou a pro­moção dos va­lores ide­o­ló­gicos do ne­o­li­be­ra­lismo, cri­ando ver­da­deiros mitos.

 

Não dar tré­guas ao crime eco­nó­mico

Paulo Rai­mundo anun­ciou al­gumas das ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas do PCP re­la­ci­o­nadas com as pri­va­ti­za­ções. Uma das pri­meiras, apre­sen­tada logo na aber­tura da le­gis­la­tura, foi pre­ci­sa­mente a da cons­ti­tuição de uma Co­missão Par­la­mentar de Inqué­rito à pri­va­ti­zação da ANA – in­vi­a­bi­li­zada então por PS, PSD, CDS e Chega.

No quadro do de­bate or­ça­mental, o PCP leva à vo­tação pro­postas para travar a pri­va­ti­zação e de­sen­volver a TAP en­quanto em­presa pú­blica. Outra visa de­fender a CP e ga­rantir a sua ope­ração em todo o ter­ri­tório na­ci­onal. O Par­tido quer ainda repor as re­ceitas que oGoverno quer re­tirar à RTP e as­se­gurar o ser­viço pú­blico de tele­visão e rádio. O res­gate das con­ces­sões ro­do­viá­rias en­tre­gues a par­ce­rias pú­blico-pri­vadas, a de­fesa e va­lo­ri­zação do SNS, re­du­zindo a trans­fe­rência dos seus re­cursos para os grupos pri­vados do ne­gócio da do­ença, são ou­tros ob­jec­tivos.

 

Ope­ração an­ti­de­mo­crá­tica in­vo­cando as co­me­mo­ra­ções do 25 de No­vembro

Na sessão da pas­sada terça-feira, o Se­cre­tário-Geral do PCP abordou o que tem sido dito a pro­pó­sito das co­me­mo­ra­ções do 25 de No­vembro, con­si­de­rando-as parte de uma ope­ração mais vasta contra Abril, suas con­quistas e va­lores. Trans­cre­vemos na ín­tegra o ex­certo da sua in­ter­venção re­fe­rente a esta questão:

Por estes dias, a di­reita mais re­ac­ci­o­nária – com a co­ni­vência da­queles que sempre com ela an­daram de braço dado – vai querer co­me­morar o golpe mi­litar do 25 de No­vembro.

Não serão as co­me­mo­ra­ções do povo, porque essas são e só as de Abril. E é com o povo que o PCP está, o povo que este ano em Abril en­cheu a Ave­nida da Li­ber­dade e tantas praças e ave­nidas deste País a co­me­morar os 50 anos da Re­vo­lução Por­tu­guesa.

Esse povo que aliado ao Mo­vi­mento das Forças Ar­madas teve a força de so­ci­a­lizar, de na­ci­o­na­lizar o es­sen­cial dos sec­tores es­tra­té­gicos da eco­nomia por­tu­guesa, de rasgar para si pró­prio ho­ri­zontes de es­pe­rança que as classes do­mi­nantes há sé­culos ju­ravam ser im­pos­sível.

Não des­va­lo­ri­zando a ne­ces­si­dade de com­bater a re­es­crita e fal­si­fi­cação da His­tória, o es­sen­cial não é nesta oca­sião de­mons­trar o que o 25 de No­vembro foi ao con­trário do que dizem ter sido (um golpe contra-re­vo­lu­ci­o­nário e não um contra-golpe); o que o 25 de No­vembro não foi mas que al­guns (não todos, faça-se jus­tiça) am­bi­ci­o­navam que ti­vesse sido - um golpe que tra­vasse a di­nâ­mica re­vo­lu­ci­o­nária e o pro­cesso de trans­for­ma­ções e con­quistas que a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa veio a con­sa­grar, re­pri­misse e ile­ga­li­zasse o PCP, li­qui­dasse o re­gime de­mo­crá­tico -, neste mo­mento o que im­porta é des­tapar e expor a ope­ração que está por de­trás das cha­madas co­me­mo­ra­ções do 25 de No­vembro que a di­reita mais re­ac­ci­o­nária há muito en­seja e que de­cidiu tentar impor.

Uma ope­ração que é uma pro­vo­cação, no ano em se co­me­mora o quin­qua­gé­simo ani­ver­sário da Re­vo­lução de Abril.

Uma ope­ração mo­vida por um re­cal­cado e an­ti­de­mo­crá­tico in­con­for­mismo com a Re­vo­lução de 25 de Abril, que pro­cura des­va­lo­rizar e afrontar os seus va­lores e con­quistas.

Uma ope­ração que se ex­plica pela cres­cente pre­sença e pro­moção de con­cep­ções re­ac­ci­o­ná­rias na so­ci­e­dade por­tu­guesa, por uma cada vez mais clara afir­mação de forças e par­tidos mo­vidos por um ideário re­tró­grado, an­ti­de­mo­crá­tico e fas­ci­zante, e pelo pro­pó­sito dos seus pro­mo­tores de levar mais longe a sua sanha des­trui­dora contra a re­a­li­dade de Abril, ainda pre­sente no País.

O que está por de­trás da ini­ci­a­tiva dos que su­portam o Go­verno da PSD/​CDS, com o apoio dos seus su­ce­dâ­neos da IL e do Chega e a cum­pli­ci­dade e anuência de ou­tras forças po­lí­ticas, é re­lançar a ofen­siva contra-re­vo­lu­ci­o­nária contra Abril e le­gi­timar as suas pró­prias op­ções e po­lí­tica des­trui­dora.

O que querem é es­conder que os ac­tuais e graves pro­blemas e di­fi­cul­dades do País, são o re­sul­tado das suas op­ções po­lí­ticas de anos e anos contra Abril, as suas con­quistas e va­lores.

As forças da re­vanche querem re­es­crever a His­tória, e apre­sentar o 25 de No­vembro, não pelo que foi, mas pelo que de­se­ja­riam que ti­vesse sido de re­gresso ao pas­sado de meio sé­culo de di­ta­dura fas­cista.

O que querem é tentar equi­valer um golpe contra-re­vo­lu­ci­o­nário, apesar de sus­tido no que de mais som­brio con­tinha no pro­pó­sito de al­guns, com a Re­vo­lução li­ber­ta­dora do 25 de Abril.

A Re­vo­lução que de­volveu a de­mo­cracia, a li­ber­dade e a paz ao povo por­tu­guês e que abriu ca­minho a um fu­turo de pro­gresso, de­sen­vol­vi­mento e eman­ci­pação so­cial que dé­cadas de po­lí­tica de di­reita tem pro­cu­rado cer­cear.

Pro­curam as­si­nalar, com um in­dis­far­çável sau­do­sismo, um revés re­ac­ci­o­nário não con­su­mado nos ob­jec­tivos que am­bi­ci­o­navam, e querem, os pro­mo­tores desta ini­ci­a­tiva, rein­tro­duzir os fac­tores de di­visão na so­ci­e­dade por­tu­guesa que mar­caram o 25 de No­vembro em de­tri­mento da­quilo que une o povo por­tu­guês sobre o que re­pre­senta Abril, as suas con­quistas e va­lores in­cluindo como pro­jecto e pers­pec­tiva para o fu­turo de Por­tugal.

O PCP re­jeita a ope­ração em curso e os seus ob­jec­tivos an­ti­de­mo­crá­ticos de des­va­lo­ri­zação e apa­ga­mento do 25 de Abril, de pro­moção de con­cep­ções e pro­jectos re­ac­ci­o­ná­rios.

Uma ampla ope­ração em que se in­sere a sessão pre­vista na As­sem­bleia da Re­pú­blica in­vo­cando o 25 de No­vembro, na qual os de­pu­tados co­mu­nistas, mar­cando a sua inequí­voca opo­sição e pro­testo, não es­tarão pre­sentes.

É Abril e os seus va­lores que os de­mo­cratas e os pa­tri­otas, os tra­ba­lha­dores e o povo em geral devem afirmar e exigir que se cumpra na sua di­mensão de trans­for­mação, igual­dade e jus­tiça.

É Abril com o acervo imenso de con­quistas e di­reitos al­can­çados – po­lí­ticos, so­ciais eco­nó­micos e cul­tu­rais - que vive e está pre­sente en­quanto re­fe­rência de fu­turo como a imensa co­me­mo­ração dos 50 anos da Re­vo­lução de Abril com­provou.

É Abril que deve ser co­me­mo­rado en­quanto o mo­mento mais mar­cante da nossa his­tória e não o que contra ele se ar­qui­tectou de cons­pi­ra­ções, golpes e prá­ticas que o negam e pre­tendem des­va­lo­rizar.

É essa luta para afirmar os va­lores de Abril que vamos pros­se­guir.

 

Dos mitos à dura re­a­li­dade

A re­a­li­dade das pri­va­ti­za­ções des­mente todos os mitos com que os seus pro­mo­tores – e be­ne­fi­ciá­rios – pro­cu­raram criar em torno delas.

Banca: o seu ca­rácter pú­blico co­locou Por­tugal na van­guarda dos ser­viços ban­cá­rios à es­cala mun­dial. Hoje, de­pois de re­ceber mais de 20 mil mi­lhões de euros de apoios pú­blicos, está con­tro­lada, com a ex­cepção da CGD, pelo ca­pital es­tran­geiro e suga a eco­nomia na­ci­onal em vez do papel que de­veria ter de es­tí­mulo ao in­ves­ti­mento e ao cres­ci­mento.

Energia: as pri­va­ti­za­ções foram con­du­zidas à bo­leia de pro­cessos de li­be­ra­li­zação. E com que re­sul­tado? Lu­cros gi­gan­tescos que essas em­presas acu­mulam e trans­ferem para fora do País e o preço cada vez mais ele­vado que su­por­tamos no acesso à energia.

Te­le­co­mu­ni­ca­ções: a pri­va­ti­zação da PT e a li­be­ra­li­zação co­lo­caram o sector nas mãos das mul­ti­na­ci­o­nais, com o povo por­tu­guês a pagar preços exor­bi­tantes pelo acesso a um ser­viço fun­da­mental que devia ser pú­blico, e que podia e devia ser pres­tado numa base uni­versal e a ca­minho da gra­tui­ti­dade.

Cor­reios: a pri­va­ti­zação dos CTT levou à de­gra­dação do ser­viço pú­blico postal, à ali­e­nação do imenso pa­tri­mónio da em­presa, ao aban­dono das po­pu­la­ções.

So­re­fame: a pri­va­ti­zação pro­metia co­locar Por­tugal a pro­duzir com­boios para o mundo in­teiro. O des­fecho foi outro: o en­cer­ra­mento da pro­dução na­ci­onal e o con­tri­buto para que o País es­teja há mais de 20 anos sem com­prar um com­boio.

Saúde: o pri­vado tem cres­cido su­gando os re­cursos do SNS. Pe­rante a “crise” que o SNS hoje en­frenta, im­porta re­cordar que foi exac­ta­mente para pre­venir esta crise que o PCP exigiu as al­te­ra­ções ao Or­ça­mento do Es­tado para 2022, que o PS re­cusou e aca­baram por ditar a sua não apro­vação.

ANA: a pri­va­ti­zação vai custar ao país 20 mil mi­lhões de euros, em contas feitas pelo pró­prio Tri­bunal de Contas. En­quanto em­presa pú­blica, a ANA su­portou toda a mo­der­ni­zação da rede ae­ro­por­tuária na­ci­onal e agora trans­fere cen­tenas de mi­lhões de euros por ano para os ac­ci­o­nistas da Vinci e atrasa todo o in­ves­ti­mento em Por­tugal.

TAP: três vezes salva de pro­cessos de pri­va­ti­zação que a iam des­truir e já mer­gu­lhada noutro pro­cesso si­milar. A ser con­cre­ti­zada, a anun­ciada pri­va­ti­zação li­qui­daria a maior em­presa na­ci­onal na ex­por­tação de ser­viços e agra­varia a de­pen­dência ex­terna do País.

 

***

Al­guns dirão que só vemos o lado negro das pri­va­ti­za­ções e é assim porque olhamos a partir dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês. Claro que há um lado bri­lhante das pri­va­ti­za­ções. Elas foram óp­timas para as grandes fa­mí­lias e para as mul­ti­na­ci­o­nais.”
Paulo Rai­mundo

A res­posta de PS e PSD para estas crises que aba­laram o sis­tema ban­cário, entre 2008 e 2015, e que ainda im­plicam hoje perdas sig­ni­fi­ca­tivas dos or­ça­mentos do Estado e oneram as contas e os juros da dí­vida pú­blica, foi sempre a mesma: na­ci­o­na­lizar o pre­juízo, per­mi­tindo a apro­pri­ação pri­vada do pro­veito e do lucro.
Mi­guel Tiago

“O crime se­guinte [de­pois da pri­va­ti­zação] foi a des­ca­pi­ta­li­zação da em­presa através da dis­tri­buição de di­vi­dendos pelos ac­ci­o­nistas. A PT foi du­rante muitos anos a ‘vaca lei­teira’ dos ac­ci­o­nistas, so­bre­tudo do BES. (…) Entre 2000 e 2015, a PT dis­tri­buiu em di­vi­dendos 8,5 mil mi­lhões de euros.
Fran­cisco Gon­çalves

Os CTT eram uma grande em­presa, com mais de 500 anos de his­tória, e foi um longo ca­minho até à sua quase des­truição. (…) A qua­li­dade do ser­viço é hoje uma des­graça e este ca­minho co­meçou a ser feito quando se co­meçou a pre­parar a pri­va­ti­zação da em­presa.
Fábio Silva

A CP é o exemplo de uma em­presa pú­blica que está sob cons­tante ataque. A CP era uma em­presa única (tinha infra-es­tru­tura, con­trolo de trá­fego e também os com­boios), tinha mais li­nhas e trans­por­tava muito mais pes­soas. (…) A em­presa foi di­vi­dida, com al­guns sec­tores já pri­va­ti­zados, como as mer­ca­do­rias.
Ca­ta­rina Car­doso

Temos neste mo­mento a de­correr um pro­grama de in­ves­ti­mento em infra-es­tru­turas de­sig­nado Fer­rovia 2020. (…) Évora-Caia: o prazo de con­clusão era 2019, a obra está em curso e é op­ti­mismo achar que es­tará pronta num ano. Me­leças-Caldas da Rainha: 2020. É uma in­cóg­nita, nin­guém con­segue prever quando es­tará pronta. Marco-Régua: 2019, ainda não co­me­çaram as obras...
Rego Mendes

Num ano que dê zero de lucro, a TAP sendo pú­blica, dá ao seu ac­ci­o­nista 120 mi­lhões de euros para a Se­gu­rança So­cial (...), pagou 100 mi­lhões em IRS, gerou 500 mi­lhões de euros em des­pesas em em­presas por­tu­guesas, pagou 640 mi­lhões de euros de sa­lá­rios em Por­tugal e gerou 2 mil mi­lhões de euros em ex­por­ta­ções, é o maior ex­por­tador na­ci­onal.
Ma­nuel Gou­veia