Experimentalismo cinemático e videoarte

Marta Pinho Alves

O surgimento da World Wide Web, na década de 1990, ofereceu novas possibilidades para a arte digital


Nos anos 60 do século XX, foram forjadas novas modalidades cinemáticas em sintonia com os desenvolvimentos tecnológicos do período, com a eclosão de uma nova mentalidade política e cultural e com a vontade de experimentação e ruptura. As experiências originadas neste contexto levaram à criação do que se designou como um “cinema expandido”, que tinha como propósito dilatar os horizontes do cinema convencional.

A expressão cinema expandido foi utilizada, pela primeira vez, em meados dos anos 1960, no contexto das performances multimédia desenvolvidas pelos norte-americanos Carolee Schneemann, Stan Vanderbeeck e, pouco tempo depois, por Jonas Mekas. Em 1970, o mesmo termo foi sistematizado no livro Expanded Cinema, da autoria de Gene Youngblood. Neste trabalho, o autor admitia a possibilidade de expansão do cinema pela sua conjugação com as experiências realizadas no âmbito do vídeo e da informática, bem como pela sua possível hibridação com o teatro, a pintura e a música. Além disso, este assumia ainda o desejo de criação de um cinema sinestésico, capaz de ampliar a consciência e os mecanismos perceptivos, mediante a concepção de novos ambientes imersivos de exibição de imagens em movimento.

Como refere Lucas Ihlein, os artistas e cineastas associados ao cinema expandido estavam interessados em «tornar visível o dispositivo cinematográfico e em criar uma experiência ao vivo com a participação da audiência, em vez de se limitarem a mostrar registos de imagens pré-editados» (2005, 26). Estes propósitos significam uma sintonia com o que estava a ser desenvolvido noutros domínios da arte vanguardista do mesmo período, com o objectivo de redefinir as suas fronteiras.

Mais recentemente, a designação cinema expandido foi recuperada. Esta procura aludir às práticas e modalidades que propõem alternativas aos modos convencionais de construção, exibição e recepção cinematográfica, com o contributo assumido da tecnologia digital.

Foi também nos anos 1960/1970 que se desenvolveram as primeiras manifestações associadas à videoarte, cujo território se cruza, aliás, com o do cinema expandido e com algum cinema experimental. O cruzamento entre disciplinas artísticas e a sua intermedialidade originou, fundamentalmente, a partir deste momento, uma indeterminação de fronteiras e a celebração desta condição. A videoarte nasceu em resultado da integração da televisão e do vídeo analógico no campo artístico. Artistas do campo da performance e da instalação, em particular os membros do grupo Fluxus, tais como Bruce Nauman, Vito Acconci, Chris Burden, Chris Marker, Bill Viola, Gary Hill ou Jean-Luc Godard, continuaram a desenvolver trabalho nessa área, permitindo que a videoarte permanecesse com enorme vitalidade na cena artística até ao momento presente. Os referidos trabalhos contribuíram para repensar o universo artístico e alguns dos seus conceitos fundamentais. Na linha das propostas feitas no mesmo período pelo movimento Minimalista, pela Pop Arte e pela Arte Conceptual, reelaboraram as temáticas abordadas (aproximando-as do mundano e da natureza), as noções de espaço (reorganizando as galerias e a percepção do espectador, pela permissão de participação e pela sua integração na obra) e de tempo (com a seriação e a simultaneidade) e sobrepuseram vários registos artísticos, mediante happenings, performances e instalações.

No final dos anos 1960, os computadores também entraram na arte vanguardista, introduzindo novas plataformas de exploração. A exposição Cybernetics Serendipity: The Computer and the Arts, apresentada, em 1968, no Institute of Contemporary Arts (ICA) de Londres, foi considerada o apogeu da arte produzida por computadores. A utilização do computador no campo artístico sofreu, contudo, um interregno que se prolongou até ao surgimento da World Wide Web que veio, na década de 1990, oferecer novas possibilidades para a arte digital.



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