Rumo do Governo para a RTP é o da privatização
O Governo apresentou, no dia 8, o Plano de Acção para a Comunicação Social, o qual, para o PCP, põe em curso um «objectivo, há muito prosseguido por PSD e CDS, a que se juntam Chega e IL, de menorização e mesmo privatização da RTP». O Partido reagiu, no dia 9, através de uma nota de imprensa e requereu já, para discutir esta matéria, uma audição na Assembleia da República.
Para o PCP, o Plano de Acção para a Comunicação Social anunciado pelo Governo PSD/CDS constitui um passo de particular gravidade na estratégia há muito em curso de subordinação da informação ao serviço dos grupos económicos, com tudo o que isso significa de «atentado à liberdade de informação e aos direitos dos jornalistas e demais trabalhadores da comunicação social». É uma estratégia que «tem na ofensiva contra o serviço público de rádio e televisão, um elemento estruturante», lê-se na nota emitida pelo Gabinete de Imprensa.
O claro ataque ao serviço público de informação, expresso no plano do Governo e que tem na RTP o seu principal alvo, vai mais longe do que o anúncio do fim da publicidade comercial, de forma faseada em três anos, que em si significa um «corte de 20 milhões de euros de receitas da RTP para as televisões privadas, sem compensação da quebra de receitas, com previsíveis e graves consequências na capacidade de respostas do serviço público de rádio e televisão». Trata-se, sobretudo, de um conjunto de medidas, que, «sob a cínica designação de “reorganização e modernização”», visam a redução e despedimento de 250 trabalhadores, designadamente jornalistas, a alienação de instalações e terrenos, a fusão e redução de canais, «empobrecendo o serviço de informação pública de rádio e televisão e desvalorizando a empresa».
«Em vez de se adoptarem medidas de gestão em função do serviço público que presta a RTP, o que o Governo faz é aumentar a exploração, desinvestir, desvalorizar e tornar irrelevante a RTP, para depois a poder desmembrar ou vender o que reste do património e do serviço público, em benefício deste ou daquele grupo económico-mediático», afirma.
Para os comunistas, estas opções, que «afastam a RTP do seu desígnio constitucional de empresa pública, que deve assegurar critérios de qualidade e pluralismo», aproximam-na, ainda mais, dos grupos económicos-mediáticos dominantes e do pensamento único, e diminuem os direitos individuais e colectivos dos seus trabalhadores.
Para o PCP, o caminho que se impõe para o País, é o da defesa e valorização da RTP, dos seus profissionais, de defesa do pluralismo e a liberdade de informação e imprensa, de afirmação da língua e da cultura portuguesa, de apoio, capacitação e organização da empresa e das suas delegações para o tratamento das notícias e afirmação das várias expressões regionais. Um caminho que «garanta o acesso alargado na Televisão Digital Terrestre, melhore a cobertura da rede de rádio em todo o território e responda à necessidade de investimento urgente em toda a infra-estrutura técnica de rádio e televisão».
RTP será discutida na AR
Para o PCP, o plano apresentado pelo Governo exige denúncia e combate. Nesse sentido, o Grupo Parlamentar do Partido requereu, no dia 8, uma audição, na Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República, para ouvir diversas entidades, esclarecer e poder travar as intenções do actual executivo.
Sindicatos tomam posição
A par do PCP, diversas outras estruturas tomaram posição sobre as mais recentes declarações do Governo e sobre o seu plano para a comunicação.
Num comunicado conjunto, cerca de uma dezena de sindicatos e federações representativas dos trabalhadores da RTP afirmam que o Governo, accionista da RTP, apresentou um plano de reestruturação tendo em vista a falência da empresa.
Já a CGTP-IN registou com apreensão esta proposta do Governo, sobretudo no que diz respeito ao futuro da Comunicação Social: «desde o primeiro momento que este governo tem demonstrado ao que vem, nomeadamente no que concerne sobre investimento e valorização dos serviços públicos e dos seus trabalhadores». A «mesma novela que paira sobre o SNS, a Escola Pública e a Segurança Social», chegou agora à «RTP, à Lusa, entre outros», salientam.