A hipocrisia de quem condena povos ao sofrimento e à morte

João Pimenta Lopes

A 27 de Setembro, perante a Assembleia Geral da ONU, o ainda presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou a irresponsabilidade de «arrastar o Líbano para esta espiral» de escalada do conflito. Os apelos ao Governo Israelita, disse, foram «em vão». «Isto não pode continuar». Referindo-se ao direito dos palestinianos de terem o seu próprio Estado (sem afirmar em que termos), é caso para questionar, que acções tomou para mobilizar os Estados-Membros e a União Europeia a formalizarem o reconhecimento do Estado da Palestina nos termos determinados nas relevantes resoluções da ONU, com as fronteiras anteriores a 1967, com capital em Jerusalém Oriental e a efectivação do direito ao retorno dos refugiados.

Também a 27 de Setembro, Josep Borrell, ainda a segunda figura da Comissão Europeia, dava nota no X de ter afirmado no Conselho de Segurança da ONU, face a um Médio Oriente «que se move para uma guerra total», a necessidade de um «cessar-fogo imediato». É caso para perguntar que acções concretas propôs para a implementação das famigeradas sanções, ou apelos ao Tribunal Penal Internacional contra Israel e seus líderes, que a UE activamente reproduz contra países que se recusam a sujeitar-se aos seus interesses, atingindo primeiramente os povos.

A 26 de Setembro, na rede social X, dando nota de uma conversa com o primeiro-ministro do Líbano, Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, refere que «precisamos de um cessar-fogo para uma solução diplomática de acordo com as resoluções da ONU». Sem nunca referir ou responsabilizar Israel, como não o fizera em Julho quando se promoveu no Parlamento Europeu para ser reconduzida no cargo, e sem esquecer as recorrentes tiradas afirmando o «direito de Israel se defender», legitimando a brutal agressão do regime sionista sobre o povo palestiniano, é caso para questionar, que medidas concretas propôs para pressionar Israel, entre outras a suspensão do Acordo de Associação UE-Israel ou um bloqueio de armas para Israel.

Segundo um artigo da Al-Jazeera (06.07.2024), dá-se nota de como os Estados-Membros da UE compõem, atrás dos EUA, a segunda maior fonte de armamento de Israel, 1,78 mil milhões de euros entre 2018 e 2022, com a Alemanha a liderar a lista de fornecedores europeus, aumentando 10 vezes «no último ano», atingindo 326,5 milhões de euros, com a «maioria das licenças concedida depois de 7 de Outubro».

A União Europeia prossegue a sua cínica hipocrisia no que diz respeito aos desenvolvimentos no Médio Oriente. À propaganda opõe-se a prática dos mesmos que, sobre o Médio Oriente ou a Ucrânia, obstaculizam soluções políticas para os conflitos subordinados à política dos EUA e ao interesse que fala mais alto: o negócio e crescentes lucros da guerra. Pagam os povos com sofrimento e morte…

 



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