Draghi, Comissão Europeia e uma certa ideia de competitividade

João Oliveira

As políticas da União Europeia (UE) estão cada vez mais distantes das necessidades dos povos e isso torna também mais exigente o exercício da sua maquilhagem. Mas nada consegue disfarçar a natureza de classe das políticas da UE ao serviço dos monopólios e das multinacionais.

Cruzando o relatório Draghi com as orientações políticas definidas para cada um dos comissários fica claro o caminho que está a ser feito e a quem servem as políticas da UE.

O relatório Draghi trata de importantes questões económicas (e também sociais) mas fazendo delas uma análise subordinada ao conceito da competitividade, vista pelo prisma dos grupos económicos e das multinacionais, das suas condições de competição no plano global, das medidas necessárias para a maximização dos seus lucros.

O relatório faz a análise e traça os planos da UE para acelerar a transferência da riqueza do trabalho para o capital, favorecendo as multinacionais, concentrando poder de decisão na UE e retirando-o aos Estados, acentuando os desequilíbrios entre as grandes potências europeias e os países periféricos, aprofundando o militarismo.

Em consequência disso desconsideram-se as questões sociais, vistas na perspectiva da resposta necessária aos problemas dos povos, secundarizam-se objectivos políticos como a elevação das condições de vida dos trabalhadores e das camadas populares, a coesão económica e social, o desenvolvimento económico equilibrado e sustentado.

Em vez de apontar soluções para a melhoria dos salários e das pensões, para o aprofundamento dos direitos laborais e sociais, para a resposta ao problemas da habitação, da saúde ou da educação, em vez de identificar medidas para apoiar as PME e os sectores produtivos, o relatório Draghi aponta à privatização da Segurança Social e à entrega das pensões à roleta da especulação dos fundos de pensões internacionais, propõe a suspensão das regras da concorrência para criar grandes grupos monopolistas nas telecomunicações, na energia, na produção de equipamento militar, promove o negócio da doença e os lucros das multinacionais farmacêuticas sobre os escombros dos serviços públicos de saúde.

E propõe que sejam os povos (e os países mais periféricos) a pagar uma factura adicional de 800 mil milhões de euros anuais dessa política que serve os interesses dos monopólios e das multinacionais (e as grandes potências da UE). Directamente a partir das transferências para o orçamento da União Europeia, indirectamente através da emissão de dívida (que sempre acabará por ter de ser paga pelo mesmo orçamento da UE), ou de forma complementar, através de impostos europeus.

A opção de ter um relatório destes como base de enquadramento e justificação pública das opções de estruturação da Comissão Europeia e das suas orientações políticas revela os interesses que servem as políticas da UE a prioridade que lhes é dada.

Aos trabalhadores e aos povos cabe lutar para que o futuro não seja pintado com as cores desta competitividade.



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