Arejar ideias
Ir à Festa do Avante! faz bem e por mais razões do que à partida se poderia pensar. É divertido e ao mesmo tempo tranquilo, a oferta cultural é excelente e a gastronomia de primeiríssima água. Há sempre coisas para ver e para fazer, mas também se pode simplesmente descansar ou conviver. O espaço, agradável, presta-se a tudo isso.
Mas não é a frescura das árvores, a vista de rio, a programação ou a camaradagem que se pretende valorizar nestas linhas (disso falamos, com destaque, no interior do jornal). A nossa intenção é outra: mostrar como uma visita à Festa pode ajudar, e muito, a desconstruir preconceitos e a arejar ideias, não só sobre os comunistas – que afinal são gente normal, divertida até, e que com toda a certeza não comem criancinhas ao pequeno-almoço –, mas também relativamente a uma certa visão maniqueísta do mundo, made in USA, que todos os dias nos entra pelos olhos e ouvidos adentro.
Como habitualmente, estiveram presentes na Festa representantes de partidos comunistas e forças progressistas de vários países. Nos pavilhões do Espaço Internacional e em diversos momentos de debate, foi possível ouvi-los acerca dos desafios colocados aos seus povos.
Soubemos de palestinianos que cresceram refugiados, expulsos que foram das suas casas pelos ocupantes sionistas, e que por estes dias vêem os seus filhos e netos sofrerem o mesmo destino – ou, muitas vezes, ainda pior. De Cuba vieram relatos de como o desumano e ilegal bloqueio norte-americano interfere na vida quotidiana: na energia que falha, no combustível que falta, no medicamento inacessível.
Ouvimos angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdianos e são-tomenses referirem-se ao pesado legado do colonialismo e às relações económicas desiguais impostas hoje pelo imperialismo, perpetuando a dependência. E brasileiros, venezuelanos, colombianos, peruanos, chilenos e uruguaios denunciarem a ingerência permanente dos EUA na América Latina, que vêem como o seu quintal das traseiras.
Sarauís e cipriotas falaram de ocupações e das suas consequências e os representantes de Espanha, Suíça, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos revelaram como no próprio coração do capitalismo desenvolvido alastram a pobreza e as desigualdades. Libaneses, iranianos e bielorrussos explicaram como é viver sob ameaça constante de guerra por parte da maior potência militar do planeta, enquanto vietnamitas e chineses revelaram o atribulado caminho que houve que trilhar para superar atrasos seculares e o que falta fazer no sentido do desenvolvimento e do progresso.
Derrubaram, todos, ideias difundidas sobre a benevolência do «Ocidente», a superioridade do capitalismo ou a ausência de alternativas: a História não acabou e alguns dos seus construtores passaram por cá. E voltarão para o ano.