Cumplicidade genocida

Jorge Cadima

Em 11 meses, Israel não destruiu a resistência palestiniana

Há notícias que ainda espantam. O jornal Times of Israel (5.8.24) titula declarações do Ministro das Finanças israelita, Smotrich: «Pode ser “justificado e moral” causar a morte à fome de 2 milhões de gazenses, mas o mundo não nos deixa.» Um holocausto “justo e moral”? As palavras que deviam ser motivo de revolta foram ignoradas pela comunicação social. Não houve condenações, sanções, ameaças. O assassino Smotrich só tem razão quando diz que «o mundo não deixa», se se refere aos povos. Porque o genocídio dura há mais de 11 meses e os governos padrinhos de Israel não só “deixam”, como armam e financiam. Quatro dias depois da declaração de Smotrich, Biden enviou mais 3,5 mil milhões de dólares para Israel comprar armas norte-americanas (CNN, 9.8.24).

O apoio político a Israel atingiu entretanto o absurdo. O presidente da Câmara de Nagasáqui decidiu não incluir Israel na lista dos embaixadores convidados para assistir às cerimónias do 79.º aniversário da destruição nuclear pelos EUA daquela cidade japonesa. Talvez ao ver as imagens da destruição de Gaza se tenha lembrado da sua própria cidade em 1945. Mas a Al-Jazeera informa (8.8.24) que, em protesto pelo embaixador israelita não ser convidado, os embaixadores no Japão dos restantes países do G7 (EUA, França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Canadá) e o representante da União Europeia não iriam participar nas cerimónias. Repare-se no grotesco: o país autor das barbáries nucleares que vitimaram centenas de milhar de pessoas no Japão e o país dos crimes nazis não assistem às cerimónias porque o autor do genocídio do povo palestiniano não foi convidado! É a “solidariedade” entre genocidas. O absurdo contém uma lição importante: a da verdadeira, eterna, natureza do imperialismo. São estes os seus “valores”, mesmo quando disfarçado de “democracia ocidental”. O genocídio dos palestinianos é a sua política. Os horrores nucleares e nazis são a sua história.

Em 31 de Julho, Israel assassinou Ismael Haniyeh em Teerão, onde fora assistir à tomada de posse do novo presidente iraniano. Haniyeh era o principal negociador, pelo lado palestiniano, do “cessar-fogo” que os EUA e os seus vassalos alegam querer para Gaza. Ao matar o negociador palestiniano, Israel quis matar qualquer hipótese de acordo. Ao matá-lo no Irão, quis fazer uma provocação que pudesse conduzir ao alastramento da guerra a todo o Médio Oriente, com o envolvimento dos EUA e seus vassalos. E eis que os chefes de Estado ou de governo dos EUA, Alemanha, França, Inglaterra e Itália emitem comunicado conjunto (12.8.24) onde, sem referir sequer o assassinato de Haniyeh no Irão, exprimem «o nosso apoio à defesa de Israel contra uma agressão iraniana». Como de costume, trocam a vítima e o carrasco. Como de costume, estão ao lado do Israel genocida. Como de costume calaram quando, esta semana, Israel bombardeou mais uma vez a Síria.

Mas apesar do sofrimento indescritível do povo palestiniano, ao fim de 11 meses, Israel não alcançou o seu objectivo proclamado de destruir a resistência. Israel está-se a afundar numa enorme crise económica, política, militar e moral. Por isso quer generalizar a guerra, numa fuga para a frente. À cumplicidade dos genocidas contrapõe-se a solidariedade dos povos com o heróico e mártir povo palestiniano em luta. A Palestina vencerá!

 



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