«A nossa luta é uma contribuição para a luta do povo de Portugal»
O legado de Amílcar Cabral constitui um inestimável contributo para a luta dos povos pela liberdade, a soberania e o progresso
Fundador do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), dirigente revolucionário da luta de libertação nacional dos povos guineense e cabo-verdiano, Amílcar Cabral nasceu em Bafatá, na Guiné, a 12 de Setembro de 1924, faz agora 100 anos. Foi assassinado, a 20 de Janeiro de 1973, em Conakry, por agentes do colonialismo português, que nem com esse crime vil conseguiu travar a vitoriosa conquista da independência.
O legado de Amílcar Cabral constitui hoje um inestimável contributo para a luta dos povos pela liberdade, a soberania e a independência nacional, pelo progresso social, e um património de todos os que lutaram contra o regime fascista e colonialista português e pela libertação dos povos africanos do jugo colonial.
Tendo estudado e trabalhado em Portugal, entre 1945 e 1960 (com excepção do período de 1952 a 1954, em que viveu na Guiné), Amílcar Cabral era um amigo sincero do povo português, que distinguia firmemente do fascismo e colonialismo português.
Em Março de 1961 – já depois de ter deixado Portugal para se dedicar inteiramente à luta emancipadora –, Amílcar Cabral escreveu, numa mensagem ao PCP pelos seus 40 anos, que «para o nosso povo, que vai liquidar completamente o colonialismo português, o PCP é um aliado e, até agora, o único depositário e intérprete da vontade do povo português de viver na amizade e na colaboração com todos os povos do Mundo na base de igualdade de direitos e deveres».
Em Julho de 1966, numa entrevista transmitida pela rádio Voz da Liberdade, em Argel, contou: «(…) Eu e outros camaradas meus, antes de começarmos a lutar pelo nosso povo, lutámos pelo povo português. Alguns camaradas meus, como Vasco Cabral, Agostinho Neto e outros, estiveram presos vários anos nas cadeias de Salazar, não por lutar pela Guiné, Cabo Verde ou Angola, mas por lutarem pelo povo português. Eu fui chamado à PIDE não por estar a lutar pela Guiné ou por Cabo Verde mas porque assinei o documento do povo português contra a OTAN, contra o dinheiro que se ia gastar em material de guerra, enquanto o povo vive mal».
Na mesma altura, reiterou: «Esta nossa luta é comum. Lutando em Cabo Verde, na Guiné e também nas outras colónias portuguesas, estamos a contribuir seriamente para o desenvolvimento da vossa luta [em Portugal]. E, na medida em que a vossa luta se desenvolva, ela ajudará a que vençamos rapidamente esses inimigos tremendos dos nossos povos que são os fascistas colonialistas portugueses».
Mais tarde, em 1971, numa saudação pelos 50 anos do PCP, Amílcar Cabral assegurou: «Nós, os patriotas nacionalistas da Guiné e Cabo Verde, não esquecemos nunca que o vosso Partido, desde o seu Congresso de 1957, proclamou sem rodeios o direito dos povos coloniais à independência e tem sabido dar à nossa luta todo o apoio moral e político possível». E mais: «Nesta luta difícil, já longa, mas plena de sucessos, nós consideramos o povo trabalhador de Portugal como aliado. (...) Consideramos ainda que a nossa luta é uma contribuição eficaz para a luta do próprio povo de Portugal pela liberdade, pelo progresso e pela paz».
Em 1989, numa entrevista a um jornal cabo-verdiano, Álvaro Cunhal, então Secretário-Geral do PCP, recordou as relações entre comunistas portugueses e patriotas africanos: «A amizade, fraternidade, solidariedade e cooperação combativa com os movimentos de libertação nacional das antigas colónias portuguesas inscrevem-se como princípios de ouro na história do PCP e do próprio povo português».
E destacou que «a íntima associação da luta contra o colonialismo e contra o fascismo tornou possível a confluência de históricas vitórias comuns coroando a heróica luta dos nossos povos: a libertação do povo português da ditadura fascista com a Revolução de Abril de 1974 e a conquista da independência pelos povos então submetidos ao jugo colonial português».