Que comissários para que políticas?
(Re)eleita a presidente da Comissão Europeia, abriu a época da discussão sobre a composição da próxima Comissão, em especial sobre a personalidade nacional sobre a qual poderá recair a escolha para ocupar o lugar que cabe a Portugal.
Esta discussão é, em regra, resumida a um exercício especulativo ou de palpite, mais ou menos sustentado em critérios de escala elástica associados à «notoriedade» da figura em causa, ao «reconhecimento» dentro e fora de fronteiras, ao «percurso» académico, profissional ou institucional, à «proximidade aos centros de decisão» e frequência de círculos com eles conexos, à «capacidade de sedução» pelo cargo em dose suficientemente forte para retirar das ocupações presentes uma «brilhante» e «notável» figura para que assim se entregue ao serviço a partir de Bruxelas.
Assim feita, esta discussão não serve para tratar nada daquilo que verdadeiramente interessa ao povo, ao País, ao futuro nacional. Para que tenha algum sentido útil é preciso que se pergunte pelas políticas a desenvolver.
Depois de Ursula von der Leyen ter sido reeleita afirmando uma perspectiva de continuidade de políticas que se têm revelado prejudiciais para o povo português e para Portugal, é útil saber se a escolha do(a) futuro(a) comissário(a) português(guesa) terá ou não em conta a necessária defesa das políticas que efectivamente defendam os interesses nacionais. Se está de acordo com o aprofundamento do rumo militarista, federalista e neoliberal da União Europeia ou se discorda dele? Se vai contribuir para a concretização das prioridades que daí decorrem ou, pelo contrário, se será uma voz afirmativa de um caminho diferente? Que posicionamento tem quanto às ditas reformas estruturais, aos critérios da «governação económica», aos mecanismos de vigilância e sanções da UE? Entre muitos outros importantes aspectos.
Vale ainda a pena saber que visão da realidade nacional leva para a Comissão Europeia. Que opinião tem sobre as condições para o desenvolvimento de acordo com os interesses dos trabalhadores e do povo? Que opinião tem sobre políticas da União Europeia que se destacam pelos seus impactos fortemente negativos em países como Portugal, por exemplo em matéria de liberalização de mercados, de política de taxas de juro, de acordos de livre comércio ou da política de maior favorecimento das multinacionais com as teorias do apoio aos designados «campeões europeus»? Está de acordo com o caminho de desmantelamento e privatização dos serviços públicos, designadamente na saúde e na educação, ou será uma voz em defesa do investimento que neles deve ser feito?
Não é de crer que haja muito interesse em que a discussão se faça nestes termos, mas também por isso é preciso que haja quem insista em que se vá além da espuma com que alguns procuram esconder o que é, afinal, o essencial.