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A Inapa, bem gerida, poderia dar proveitos a todos nós
A Inapa é das maiores empresas da Europa de distribuição de papel, material de embalagem e comunicação visual. O Estado português, através da Parpública, é o seu maior accionista. O pedido de insolvência por perdas na subsidiária alemã e a incapacidade de pagar financiamentos obtidos junto da banca, trouxeram consigo muitas perguntas, já feitas pelo PCP ao Governo. Trará também o desemprego a 200 trabalhadores em Portugal e a 1300 no estrangeiro, e o fim de uma empresa historicamente lucrativa que opera num dos poucos sectores fortes da economia nacional: a indústria de papel.
Empresas públicas dizimadas por operações nebulosas no estrangeiro tivemos várias, literalmente para dar e vender barato. Aos poucos, vai-se sabendo dos problemas de tesouraria e que a empresa pediu intervenção dos seus accionistas para um empréstimo de 15 milhões de euros, recusado pelo governo. Em comunicado, a Inapa refere que desde 2020 que insiste com a Parpública para obter uma solução de reestruturação. Perante isto, o mínimo que se exigia é que algum Ministro viesse imediatamente explicar ao país a opção de deixar falir, como tem sido gerido o grupo e os números e critérios que sustentam a «falta de viabilidade», que, aliás, é desmentida pela administração da Inapa. Qualquer coisa mais do que «É para proteger o dinheiro dos contribuintes» e «Só soubemos da situação a 11 de Julho».
Não tardou para que a escória neoliberal no Governo e no Parlamento e na opinião publicada fizesse a festa com a decisão de deixar falir para proteger “o contribuinte”, porque «a Inapa não é estratégica» e porque «o Estado não é bom gestor». Como se dar à Inapa condições de continuar a operar fosse o mesmo que injectar milhares de milhões de euros no BES, BPN, BPP, Banif e outras, onde o “dinheiro do contribuinte” nunca falta para acudir ao privado, ou como se fosse entregar 1200 milhões de euros “dos contribuintes”, por ano, às concessionárias privadas das autoestradas. Aqui “os contribuintes” nunca são, e para esta gente não têm de ser, tidos ou achados. São opções políticas e esta demagogia esconde que o Estado, em casos de insolvência, de uma forma ou de outra, fica sempre com custos a seu cargo, para além dos proveitos que perde.
Se o Estado é o maior accionista, com que cara é que um governante diz que não sabia o que se passava? Com cara de pau, como sempre. Se o Ministro não sabe, é porque o Estado não quis saber e se é o maior accionista e não manda é porque fez o frete aos privados e abdicou do poder de gestão e decisão, dando-lhes poder em desproporção do peso que têm no capital social do grupo. Se a Inapa foi gerida ao sabor dos interesses privados e o desfecho é este, é suposto louvar a gestão privada?
Como se chegou aqui? Afinal, quem manda na Inapa? Se as houve, quais foram as orientações estratégicas dadas pelo Estado à Inapa ao longo dos anos? Qual o papel dos governos PS, PSD e CDS? E os negócios no estrangeiro, porque foram feitos? Quem lhes deu aval? Quem são os gestores públicos e o que andaram lá a fazer? A quem prestam contas? Uma empresa que teve 18 milhões de euros de lucro em 2022, agora deixou de ter futuro? E os postos de trabalho? Porque é que o povo português só sabe do que é seu quando os governantes já não conseguem esconder mais? Quem ganhará com tudo isto?
A Parpública é um antro de opacidade e nem aos Deputados envia documentos solicitados para que ninguém possa saber o que realmente se passa nas empresas que são de todos nós a tempo de denunciar e impedir casos como este. Tem uma atitude de afronta permanente ao poder democrático e gaba-se de ter no currículo mais de 40 empresas privatizadas, sempre nas costas do povo. Existe para destruir e para privatizar, a mando dos governos. É ultrajante, mas é condição necessária para o festim neoliberal, de negociatas e privilégios, feitos à nossa custa. Feita a festa, descobre-se sempre o interesse público feito em cacos e o país subjugado aos interesses do capital e sem alavancas de desenvolvimento. A Inapa, bem gerida, poderia dar proveitos a todos nós. Se a Inapa desaparecer ou se o Estado sair do seu capital, a operação continuará a ser feita, por uma outra empresa, por um qualquer capitalista que ficará com os proveitos só para si. Eles chamam a isto “democracia”. Nós chamamos roubo e não o aceitamos.