À cimeira da guerra contrapor um caminho de paz

Enquanto do outro lado do Atlântico, na cimeira da NATO, se preparava o prolongamento da confrontação e da guerra e a corrida aos armamentos, por cá exigia-se paz, desarmamento, cooperação e – essencial para assegurar tudo isto – a dissolução da NATO.

«A guerra não é um jogo de vídeo nem um filme de Hollywood»

Lisboa

Lisboa

O CPPC e a CGTP-IN convocaram e foram muitos os que compareceram nos actos públicos «Não à Guerra! Paz Sim! NATO Não!», realizados nos dias 8 e 9, respectivamente em Lisboa e no Porto. Em causa esteve a denúncia dos objectivos da cimeira da NATO (que hoje termina em Washington), e do próprio bloco político-militar belicista, que em 2024 cumpre 75 anos.

No fundo, tratou-se de contrapor à NATO e ao que ela sempre traz de guerra, chantagem e militarismo, um caminho alternativo, baseado nos princípios da Carta das Nações Unidas, da Acta Final da Conferência de Helsínquia e da Constituição da República Portuguesa, que os consagra e desenvolve. Nas várias intervenções, falou-se do desarmamento geral, simultâneo e controlado e da urgência de Portugal aderir ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares; denunciou-se o desvio de crescentes recursos para a guerra, que tanta falta fazem na saúde, na educação, na protecção social, nos salários e nas pensões; rejeitou-se a retórica militarista, que ameaça com uma guerra de grandes proporções, e recusou-se que os nossos jovens voltem a ter perante si o espectro da guerra. O 25 de Abril também se fez para que todos tivessem a certeza de que – como diz a canção – «quando eu for grande não vou combater».

A guerra não é um jogo

O Secretário-Geral do PCP, presente na acção de Lisboa, referiu-se a este aspecto, lamentando a leviandade com que muitos, hoje, falam da guerra. «A guerra não é um jogo de vídeo nem um filme de Hollywood», destacou Paulo Raimundo, lembrando que na guerra não é possível fazer «reset» e as vidas perdidas desaparecem «para sempre».

O dirigente comunista apelou em seguida a que se abandone definitivamente «este caminho da guerra», instando o Estado português a corresponder «aos caminhos da paz». Comentando a realização da cimeira da NATO, considerou estar-se a definir, naquele exacto momento, «quais são os caminhos de prolongamento da guerra e quais são os caminhos de mais meios, mais recursos e mais dinheiro para o militarismo».

Os resultados estão à vista, acusou Paulo Raimundo: «milhares de mortos, países destruídos, gente massacrada, civis massacrados» – na Ucrânia, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, no Iémen, na Líbia, na Síria, na Jugoslávia… «É preciso parar com isto, tudo o que seja para dar continuidade a isto é uma desgraça», concluiu.

Militarização e genocídio

Porto

Porto

Os objectivos centrais da cimeira da NATO estão há muito decididos: acelerar a corrida armamentista, prosseguir a confrontação com a Rússia e a China, continuar a dar «carta branca» a Israel para massacrar os palestinianos. Aliás, apesar de todas as manobras retóricas para esconder o apoio – ou melhor, a participação activa – dos EUA e da NATO no genocídio em curso na Faixa de Gaza, governantes israelitas vão participar em iniciativas paralelas à cimeira da NATO.

E continuarão a ser norte-americanas, britânicas, alemãs ou francesas muitas das bombas que assassinam crianças, mulheres, médicos, jornalistas, funcionários das Nações Unidas naquele território palestiniano. Também no caso do Leste da Europa, o caminho é este – mais e mais armas –, para satisfação do complexo-militar industrial, que lucra como nunca. Para 2024, aliás, está proposto o maior aumento anual de sempre no seio da NATO, na ordem dos 18 por cento.

Importará recordar, a este propósito, que os 32 membros da NATO já representam bem mais de metade das despesas militares mundiais e que os EUA, sozinhos, assumem 60 por cento do total da NATO e 40 por cento do total mundial. Esta supremacia militar – com a qual o imperialismo procura a todo o custo manter a outra, económica – é também expressa nas centenas de bases militares espalhadas pelo mundo, cujo desmantelamento se exigiu igualmente nas acções de Lisboa e do Porto.

 

Saramago e a força moral dos defensores da paz

Em Lisboa, a acção realizou-se no Largo José Saramago, em frente à fundação que tem o nome do escritor, também ele um empenhado lutador pela paz. Idália Tiago, da Fundação, intercalou as intervenções com a leitura de excertos de Saramago – de livros, cartas ou discursos. O que abaixo se publica é extraído de Folhas Políticas, de 1985. A actualidade é espantosa.

«Que faremos então? Mobilizemo-nos todos para a luta pela paz. É certo que há uma terrível desigualdade entre as forças materiais que proclamam a necessidade da guerra e as forças morais que defendem o direito à paz, mas também é certo que nada, em toda a história, pôde vencer a vontade dos homens, excepto a vontade de outros homens.

Trata-se de entrar na mobilização geral para a luta pela Paz: é a vida da Humanidade que estamos defendendo, esta de hoje e a de amanhã, que talvez se perca se não começarmos a defendê-la agora mesmo.

A Humanidade não é uma abstracção retórica, é carne sofredora e espírito ansioso, e é também uma esperança inesgotável. A Paz é possível. Mobilizemo-nos para ela, nas consciências e nas ruas.»

 



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