Para lá das promessas importa parar o massacre
A resolução aprovada na segunda-feira, 10, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, acompanha outros esforços em curso mas pode não ser dado o historial de incumprimento do direito internacional por parte de Israel.
Israel tem um longo historial de incumprimento de resoluções da ONU
Israel, hoje e no passado, não cumpre as resoluções do Conselho de Segurança e de outras instâncias da ONU, como o Tribunal Internacional de Justiça, e continua impunemente a agir à margem do direito internacional.
O texto, aprovado no Conselho de Segurança por 14 votos favoráveis e a abstenção da Rússia – que considera que contém questões «vagas» –, poderá abrir caminho para negociações com base num plano de três fases.
Numa primeira fase, a proposta prevê um cessar-fogo imediato; a libertação de todos os presos israelitas em troca de prisioneiros palestinianos detidos por Israel; o regresso dos deslocados da Faixa de Gaza aos seus lares; e a retirada total das forças ocupantes da Faixa de Gaza cercada e atacada há mais de oito meses.
A segunda etapa prevê um cessar-fogo permanente com o acordo de ambas as partes e a terceira inclui um plano plurianual de reconstrução do território palestiniano e a devolução dos restos mortais dos presos entretanto falecidos.
Em paralelo, o plano rejeita todas as tentativas de modificação territorial ou demográfica na Faixa de Gaza, incluindo qualquer acção para reduzir o território palestiniano, ao mesmo tempo que refere a importância de unificar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia sob a Autoridade Palestiniana.
A delegação norte-americana junto do Conselho de Segurança informou que Israel terá aceite a proposta, pelo que pediu o acordo do Hamas, através da Jordânia e do Egipto. Entretanto, na passada terça-feira, o alto responsável do Hamas, Sami Abu Zuhri, anunciou que o grupo aceitou a resolução de cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) e está pronto para negociar os detalhes.
Em votações anteriores no Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA vetaram em diversas ocasiões propostas de cessar-fogo, dando assim cobertura à continuação dos massacres na Faixa de Gaza. Com eleições à porta e a contestação a crescer, existe a forte possibilidade de esta resolução ser, para os EUA, um mero instrumento de propaganda eleitoral, sem que haja uma real intenção de garantir a sua implementação.
A ligação estreita entre os EUA e Israel é por demais conhecida e foi anunciado há dias um novo negócio milionário de armamento envolvendo os dois países.
Questões por responder
O texto aprovado deixa várias questões por responder, nomeadamente, se Israel aceitará parar a sua ofensiva militar que provocou já 37 mil mortos em pouco mais de oito meses. Para já, o representante israelita junto da ONU insistiu na «destruição» do Hamas como objectivo do governo de extrema-direita liderado por Benjamin Netanyahu.
Pouco antes, o embaixador permanente da Rússia nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, alertou para certas questões «vagas» no texto aprovado e destacou que, embora se tenha pedido à resistência palestiniana que apoie o «acordo», não está claro se Israel o aceita formalmente, como estipula a resolução.
Recorde-se que as resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança têm um carácter vinculativo. Neste caso, um porta-voz da ONU declarou que a organização prosseguirá os esforços para a paz e a reconstrução da Faixa de Gaza.
Por sua parte, o embaixador da Argélia, Amar Bendjama, considerou o documento aprovado como «um passo para um cessar-fogo imediato e duradouro», considerando que «este texto não é perfeito, mas oferece um raio de esperança aos palestinianos, já que a alternativa é continuar a sofrer e morrer. Votámos a favor desta resolução para dar uma oportunidade à diplomacia».
Palestina denuncia novos massacres
A autoridades palestinianas responsabilizam os EUA pelos massacres israelitas na Faixa de Gaza, incluindo o recente assalto ao campo de refugiados de Nuseirat, que provocou centenas de mortos e feridos.
Os palestinianos criticam, pelas consequências para a população civil, a operação militar das forças de Telavive, no sábado, 8, visando libertar quatro prisioneiros israelitas, responsabilizando plenamente a administração norte-americana pelos massacres que as autoridades de ocupação estão a cometer e exigindo que pare esta guerra, realçou.
As autoridades Palestinianas consideram que o ataque a Nuseirat é uma mensagem de desafio à comunidade internacional e às suas decisões. O bombardeamento do campo de refugiados, que acolhe dezenas de milhares de deslocados, é um crime e um massacre, considerou.
Segundo a agência Wafa, durante a operação morreram 210 palestinianos e outros 400, pelo menos, ficaram feridos. Durante mais de duas horas, a artilharia e os aviões de combate israelitas levaram a cabo intensos e violentos ataques em várias zonas daquela região, no centro da Faixa de Gaza.
O exército israelita anunciou que a operação resgatou com vida quatro presos detidos pelas milícias palestinianas, omitindo que nesta, porém, matou outras três.
Estima-se que as milícias palestinianas ainda mantenham em seu poder uma centena de israelitas, que só aceitam libertar como parte de uma troca de prisioneiros, num acordo que inclua o fim da agressão na Faixa de Gaza.
Legisladores árabes pelo fim da guerra
A legisladora árabe-israelita Aida Touma-Sliman exigiu uma vez mais o fim da guerra na Faixa de Gaza e defendeu um acordo sobre a troca de prisioneiros entre Israel e as resistência palestiniana.
«Só o cessar da guerra e um acordo imediato porão fim ao sofrimento de tanta gente, mas o governo criminoso decide o contrário», afirmou a parlamentar criticando o governo de extrema-direita de Israel.
Por seu turno, o deputado Ofer Cassid, da coligação progressista Hadash e do Partido Comunista de Israel, denunciou os ataques dos colonos israelitas contra os palestinianos na Cisjordânia ocupada. «Bandidos desprezíveis voltam a arrasar [a aldeia de] Qusra, queimando campos, casas e veículos e, inclusivamente, disparando tiros», acusou, revelando que a polícia e o exército apoiam os grupos armados dos colonatos.
A organização israelita Paz Agora exigiu ao governo israelita um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza e um acordo de intercâmbio de presos. «Não podemos permitir mais mortes inocentes, mais sofrimento nem mais destruição. Já não podemos suportar a dor e a desesperança», declarou.