CDS tenta promover «revisionismo histórico»
«Esta febre neo-novembrista do CDS, 49 anos depois de 1975, tem um objectivo fundamental que se chama revisionismo histórico» e «desvalorizar o que aconteceu em Abril de 1974», afirmou o deputado comunista António Filipe, no debate requerido pelo CDS sobre uma possível sessão solene evocativa do 25 de Novembro de 1975.
Para o deputado, poder-se-á dizer que «o CDS sempre teve vontade» de comemorar o 25 de Novembro, mas que só «agora dispõe de uma maioria parlamentar capaz de o viabilizar, mas isso não é verdade».
«O CDS poderia ter feito proposta semelhante» em diversos momentos, destacou, como nos governos de Cavaco Silva ou de Passos Coelho, mas «não o fez». Para António Filipe, o CDS só o fez agora num quadro de «radicalização da direita a que temos vindo a assistir», que se traduz, em Portugal, «numa operação de falsificação do percurso histórico do povo na sua luta pela liberdade e a democracia, e de ocultação da natureza popular, democrática e progressista da Revolução de Abril».
O deputado considerou, também, que «ao contrário do que afirmam os seus detractores, a data fundadora da democracia portuguesa foi o 25 de Abril», consolidado num caminho atribulado de «tentativas golpistas» e «actos terroristas» por parte da reacção.
Tentativas como o 28 de Setembro de 1974 e o 11 de Março de 1975, e actos terroristas como os 86 «que tiveram ligar em Julho» do chamado «Verão quente», incluindo «33 assaltos, pilhagens e incêndios de centros de trabalho do PCP», aos quais se somaram 153 acções em Agosto, «das quais 82 assaltos e destruições» de sedes do Partido e do MDP/CDE, «39 incêndios, 15 atentados bombistas e, até, assassinatos».
«A ideia de que o golpe militar de 25 de Novembro de 1975 teve como objectivo evitar que o PCP impusesse uma ditadura em Portugal não tem a mínima adesão à realidade», afirmou, e lembrando que «toda a actuação do PCP» foi no sentido «de encontrar uma solução política para a crise», evitando uma guerra civil. Isto, recordou, «antes, durante e depois do 25 de Novembro», que resultou numa «alteração profunda da correlação de forças» favorável ao processo contra-revolucionário.
«O que as forças mais reaccionárias gostariam de ter atingido» era a «ilegalização do PCP, mas não a conseguiram», sentenciou.
A direita e Abril
«É agora, 50 anos passados sobre o 25 de Abril e 49 anos passados sobre o 25 de Novembro, que o CDS vem propor a realização de sessões solenes», afirmou o deputado comunista, quando, na realidade, lembrou, «todos sabemos a desvalorização que tem feito das sessões solenes comemorativas do 25 de Abril», como na altura da epidemia da COVID-19, que utilizou «como pretexto para que a Assembleia da República não realizasse a sessão solene».
Para António Filipe, «aqueles», como o CDS, «que nunca se conformaram com a Revolução de Abril e com as suas conquistas, nunca desistiram de tentar reescrever a História, numa tentativa de branquear a ditadura fascista», bem como «de negar a importância histórica da revolução democrática iniciada em 25 de Abril de 1974».
Quanto ao momento e às razões da apresentação desta proposta, o deputado recordou, a par da «radicalização da direita portuguesa», a «enorme adesão popular às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril».
O que «irrita os que pretendem contrapor o 25 de Novembro ao de 25 de Abril é a profunda adesão do povo português aos valores de Abril e a determinação de os defender. Podem os saudosistas tentar reescrever e falsear a História. Não conseguirão», disse, por fim, António Filipe.