Edições Avante!, 50 anos de actividade editorial

Francisco Melo

A actividade editorial constitui um dos principais sectores de informação, propaganda e acção ideológica

As Edições Avante!, sendo a editora do Partido Comunista Português, distinguem-se da generalidade das editoras portuguesas, pois esse facto determina que os seus objectivos e a sua actividade editorial, ao serviço da democracia e do progresso social, estejam inseparavelmente ligados à história e à luta travada pelo PCP pela liberdade, a democracia e o socialismo.

As Edições Avante! iniciaram a sua actividade na legalidade em Maio de 1974, na sequência da liberdade conquistada com o 25 de Abril. A sua primeira edição foi, naturalmente, o Programa do PCP, que regista no seu cólofon a data de 31 desse mesmo mês de Maio. A essa edição, com uma tiragem de 75 000 exemplares, seguiu-se a dos Estatutos, com uma tiragem de 50 000 exemplares, e depois uma edição conjunta do Programa e Estatutos com uma tiragem de 10 000 exemplares. Mas em Outubro, com a realização do VII Congresso (Extraordinário), o qual, tendo em conta a nova situação política, veio introduzir alterações ao Programa e Estatutos que vinham de 1965 (aprovados no VI Congresso), foi publicado o novo Programa e Estatutos – a maior tiragem de sempre das Edições Avante!: 100 000 exemplares! Nos sete meses de 1974 a tiragem total dos 17 títulos publicados ultrapassou o meio milhão de exemplares!

No ano seguinte, prosseguiu e ampliou-se a actividade editorial tendo o número de títulos publicados subido para 80, com uma tiragem total de 1 387 530 exemplares. Em 1976, a produção editorial baixaria para 64 títulos e 505 202 exemplares em consequência da situação política criada com o golpe militar contra-revolucionário do 25 de Novembro de 1975. No seu relatório ao VIII Congresso do PCP, realizado em Novembro de 1976, intitulado A Revolução Portuguesa. O Passado e o Futuro, Álvaro Cunhal não se esquece de apontar a explicação para esta redução: «As actividades editoriais sofreram, tal como a imprensa, um sério golpe com a vaga de terrorismo que levou a cabo a destruição de milhares de livros nos Centros de Trabalho, e paralisou praticamente durante muito tempo a distribuição e a venda em vastas regiões.»

Os números citados são elucidativos quantitativamente da actividade editorial então desenvolvida, contudo não revelam os seus objectivos essenciais:

  a) O esclarecimento de amplas massas populares, vítimas de meio século do mais primário obscurantismo;

  b) A formação política de dezenas e dezenas de milhares de novos militantes do Partido, tanto mais necessária quanto a originalidade e a complexidade do processo revolucionário português exigiam (e continuam a exigir) a par da firmeza nos princípios, uma grande capacidade de adaptação às situações concretas, exigências estas a que só uma sólida preparação político-ideológica permite responder;

  c) O combate ideológico para subtrair as massas populares à propaganda dos inimigos da Revolução e ao domínio da ideologia burguesa que, como Lénine ensinou, continua ainda por muito tempo a ser a ideologia dominante, mesmo depois de destruídas as relações de produção de que são expressão;

  d) Contribuir para a formação humanista e o enriquecimento cultural de todos os trabalhadores e democratas.

Estes objectivos, com o avanço do processo contra-revolucionário, alargaram o seu âmbito focando-se igualmente no desenvolvimento da luta em defesa dos direitos e pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo, pela ruptura com a política de direita, por uma alternativa política patriótica e de esquerda como elemento de uma democracia avançada inspirada nos valores de Abril.

Em síntese: mobilizar para a acção, formar democratas e revolucionários, combater a reacção, defender as conquistas e os direitos da classe operária e de todos os trabalhadores, apontar os caminhos para o socialismo nas condições concretas do nosso país – tais foram os objectivos que têm norteado e continuam a nortear a nossa actividade editorial.

Não se trata de uma tarefa fácil. Um processo histórico complexo e irregular como o que se foi e vamos vivendo punha e põe sempre novos problemas, altera as prioridades e as possibilidades. Foi e é difícil acertar o passo da produção editorial – sempre morosa mas mais ainda com os nossos reduzidos meios – pelo ritmo das exigências das situações, em constante modificação. Daí as inevitáveis insuficiências. Nunca esquecemos a orientação aprovada na Resolução Política do já longínquo VIII Congresso do PCP: «A actividade editorial do Partido constitui um dos principais sectores de informação, propaganda e acção ideológica. Há entretanto que alargar o leque editorial, com maior variedade de assuntos e edições de actualidade, que respondam aos grandes problemas que se põem ao Povo português e contribuam para a elevação da sua formação política e cultural. Particular atenção deve continuar a ser dada à qualidade e rigor das versões a publicar, nomeadamente à dos textos dos clássicos do marxismo-leninismo.»

Livros que sobem ao povo

É também de salientar que as Edições Avante!, porque editora de um partido de massas e ao serviço delas, vieram revolucionar o mercado tradicional do livro, quer quanto ao público quer quanto aos circuitos de distribuição e venda. Os nossos leitores ultrapassaram o reduzido âmbito da pequena burguesia com acesso à cultura e os nossos livros saíram das estantes das livrarias para a banca de rua e dos Centros de Trabalho, para a porta do comício e de outras realizações partidárias (cursos, encontros, conferências, congressos), para o local de trabalho e para a barraca de feira e de festa populares — subiram ao povo! Não encarávamos, como continuamos a não encarar, a nossa actividade como um mero trabalho de gabinete. Fazia e faz parte integrante dele desde a promoção de iniciativas, como exposições, sessões e debates com base nos nossos livros, não apenas em espaços partidários mas também em espaços e organizações culturais públicas, até à sua venda em iniciativas de carácter cultural e em realizações de massas ou, mais recentemente mas com grande sucesso, por intermédio da Internet.

Um outro aspecto ainda torna as Edições Avante! uma editora de tipo diferente. Não éramos e nem somos uma fábrica de produzir e vender livros-mercadoria como as editoras burguesas, porque sempre o que nos preocupa e absorve grande parte dos nossos esforços quando produzimos e quando vendemos é o destino ulterior do livro, em diversos sentidos. Este tipo de preocupações diferenciam-se radicalmente das que animam e visam a generalidade das editoras para quem a produção editorial é um investimento de capital que rende lucros e o livro é, de um modo geral, um veículo de difusão da ideologia dominante, um instrumento, directa e indirectamente, de alienação e de intoxicação ideológica ao serviço do grande capital.

 



Mais artigos de: Argumentos

Problemas objectivos e teias que se tecem

Quem faz uma vez, não faz duas necessariamente, mas quem faz dez, com certeza faz onzeCharles Chaplin Não valerá a pena ocupar espaço de texto a explicar tudo o que nos últimos três meses se tem passado com as forças e serviços de segurança, tendo como temática central o denominado...