O exemplo de Catarina é indissociável da luta que abriu as portas a Abril e projecta os seus valores no futuro

Manuel Rodrigues

O exemplo de Catarina Eufémia foi e é bandeira das muitas lutas do proletariado rural

Homenagem aos heróis caídos na luta

No próximo domingo, 19 de Maio, o PCP voltará a homenagear Catarina Eufémia, assassinada há 70 anos, quando, à frente da luta, reclamava uma jorna melhor.

É o assinalar de uma efeméride que se insere na justa homenagem que o PCP presta aos comunistas caídos na luta pela liberdade, a democracia e o socialismo. Comunistas que, por se encontrarem na frente da luta, de todas as lutas – contra o fascismo, pelo avanço da revolução, em defesa das suas conquistas – se tornaram imprescindíveis e cujo exemplo se projecta nas lutas da actualidade pelos mesmos ideal e projecto.

Uma vida dedicada à luta dos trabalhadores rurais

Catarina Eufémia nasceu em 1928, na aldeia de Baleizão, concelho de Beja, no seio de uma família de camponeses pobres, em zonas de latifúndio. Ainda criança e perante a morte do pai, vê-se forçada a trocar as brincadeiras com as bonecas de trapos, farinha e papel, pelo duro trabalho de sol a sol na propriedade do agrário Fernando Nunes, em troca de uma magra jorna.

Os anos 50 do século XX foram, nesta região, tempos de grandes fomes e heróicas lutas. O proletariado agrícola alentejano fervia de revolta face às aviltantes condições de trabalho e à fome. Em 1954, a luta do campesinato alentejano ganha novas e redobradas energias, com forte participação das mulheres. Disso dá-nos conta o jornal O Camponês, publicado em Março desse ano: «A participação das mulheres camponesas na luta por melhores jornas é um grande passo em frente no reforçamento da unidade. Em muitos lados elas vão à Praça de Jornas, fazem parte das Comisões com os homens e constituem também as suas próprias Comissões.»

Ingressa no PCP com 24 anos. Pouco depois, faz parte do Comité Local de Baleizão e lidera a organização das mulheres da sua terra. Casada, já com três filhos e grávida do quarto, Catarina destaca-se na luta de resistência à exploração e à fome.

A 15 de Maio de 1954, perante a recusa sistemática do agrário Fernando Nunes em pagar a jorna pretendida para a ceifa, os camponeses de Baleizão decidem entrar em greve. Ninguém vai trabalhar.

O conflito teve dramática evolução quando o agrário, tentando quebrar a unidade dos grevistas, manda buscar um rancho a Penedo Gordo. A notícia corre célere entre as gentes de Baleizão, que convencem os de Penedo Gordo das razões da sua luta. Estes decidem também não trabalhar por salários de miséria.

Chamada ao local, a GNR cerca o rancho do Penedo Gordo e obriga-o a trabalhar, sob a ameaça das armas, pela jorna decidida pelo agrário. O povo de Baleizão não desarma e volta à herdade para os demover. Uma barreira de guardas tenta impedir-lhes a marcha mas a sua determinação obriga os guardas a deixar passar um grupo de 15 mulheres lideradas por Catarina Eufémia, que avança decidida, grávida e com um filho de 8 meses ao colo.
É então que o assassino tenente Carrajola lhe salta ao caminho e lhe aponta uma pistola-metralhadora, perguntando: «O que queres, bruta?»
«O que eu quero é pão para matar a fome aos meus filhos! Quero paz! Tenho fome.»
A resposta soou em três tiros disparados à queima-roupa. Mortalmente ferida, Catarina Eufémia tomba, vítima da besta fascista.

«Catarina morreu como deve saber morrer um membro do Partido. Morreu à frente das massas, encabeçando a luta de classe, defendendo os interesses vitais dos trabalhadores» – assim evocou Álvaro Cunhal o heróico exemplo de Catarina Eufémia na homenagem que o PCP lhe prestou em Baleizão, a 19 de Maio de 1974.

Exemplo imorredoiro de Catarina

Na verdade, o exemplo de Catarina Eufémia foi bandeira das muitas lutas do proletariado rural do Alentejo e do Ribatejo, que se sucederam nos anos seguintes, e viriam a desaguar na maré alta de Abril.

Em Maio de 1962, oito anos após o assassinato de Catarina, em Baleizão e em toda a zona do latifúndio, os assalariados rurais alcançaram o horário das oito horas, acabando com o trabalho de sol a sol e infligindo pesada derrota ao fascismo, que tinha nos latifundiários um dos seus principais sustentáculos.

Foi uma conquista indissociável quer da luta e da acção persistente e determinada dos muitos homens e mulheres que, como Catarina Eufémia, enfrentaram a repressão fascista, quer da acção do Partido Comunista Português, que, assumindo o seu papel de partido dos trabalhadores, foi determinante na unidade do proletariado agrícola e na organização dessa luta heróica.

Com a Revolução de Abril, o fascismo foi derrubado, a liberdade conquistada, os operários agrícolas, respondendo à criminosa acção reaccionária dos latifundiários – que incendiaram searas, levaram gado e máquinas para Espanha, não trataram a terra, não ofereciam trabalho, numa acção clara de boicote económico para procurar travar o processo democrático –, decidiram avançar, pôr a terra a produzir, desenvolver a agricultura e criar emprego, fazendo jus à consigna «a terra a quem a trabalha», institucionalizando a reforma agrária.

Entretanto, anos e anos de contra-revolução, de política de direita e de submissão às imposições da União Europeia destruíram a Reforma Agrária e entregaram de novo a terra aos agrários.

Mas a luta não parou! O exemplo de Catarina continua a influenciar a acção do PCP, dos trabalhadores e do povo na luta por uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem, pela democracia avançada vinculada aos valores de Abril, pelo socialismo e o comunismo, por uma «terra sem amos» pela qual Catarina Eufémia entregou a vida.

O exemplo de Catarina, a par do de todos os outros comunistas caídos na luta, é indissociável da luta que hoje travamos pelos direitos, pela liberdade, pela democracia e o socialismo.

Por isso, lembrar Catarina é levar para a frente a luta por um Portugal e um mundo melhores, é afirmar Abril e os seus valores, é intensificar a luta pela concretização da política alternativa, alargar a unidade, reforçar o Partido.

É responder com confiança às exigências da situação que vivemos. É reforçar a CDU nas eleições para o Parlamento Europeu de 9 de Junho (e igualmente nas eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira). E, com uma CDU mais forte, intervir por uma Europa de cooperação, de paz e de progresso.

 



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