Museu Nacional Resistência e Liberdade na Fortaleza de Peniche

José Pedro Soares

O Museu é uma importante conquista que resultou da iniciativa popular

A 27 de Abril terá lugar um dos mais importantes e simbólicos acontecimentos nas celebrações dos 50 anos da Revolução de Abril: a inauguração do Museu Nacional Resistência e Liberdade, na Fortaleza de Peniche.

Concretiza-se assim um objetivo e um sonho afirmado há 50 anos, quando logo no acto da libertação dos presos políticos, vencidas as resistências spinolistas, soou a exigência de transformar a Fortaleza de Peniche em Museu da Resistência Antifascista. Foi naquele dia 27 de Abril que, enquanto lá dentro os presos exigiam «ou saem todos ou nenhum», que essa ideia ganhou corpo e em uníssono presos, famílias, advogados, membros da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, MFA e a grande mobilização popular realizada para exigir a libertação dos presos, expressam esse desejo de ver transformado o Forte em Museu.

Durante alguns anos a Fortaleza teve outras ocupações, até que a Câmara Municipal de Peniche – de presidência CDU –, em conjunto com a URAP, iniciou a recuperação de alguns espaços prisionais para poderem ser visitados. Assim aconteceu com o Parlatório, o Segredo (de onde fugiu António Dias Lourenço) e o 3.º piso do Bloco C (de onde, em 1960, se realizou a grande fuga de Álvaro Cunhal com um conjunto de outros camaradas).

Na continuação dessa colaboração foi realizado o levantamento, um a um, dos presos da cadeia de Peniche, para um futuro Memorial ao qual se viria a juntar uma outra peça, da autoria de José Aurélio.

Em 28 de Setembro de 2016, recebeu-se com choque e surpresa o anúncio do governo em integrar a Fortaleza de Peniche no Programa Revive, com o objectivo de a concessionar a privados para fins hoteleiros. O choque foi grande, mas também grande foi a luta que se seguiu. Desde logo, a URAP dinamizou o amplo movimento de democratas, antifascistas, ex-presos políticos e familiares, confrontando o governo com uma petição pública com cerca de 10 mil assinaturas. O PCP, por seu lado, assumiu igualmente uma frontal oposição contra a decisão, exigindo a concretização do Museu.

Vitória do povo

Os fortes clamores e o pronto e vigoroso protesto forçaram o Governo a recuar. A 10 de Novembro de 2016 o Governo retira o Forte de Peniche do Programa Revive, cria o Grupo Consultivo e a 27 de Abril de 2017 determina a elaboração de um plano de recuperação da Fortaleza para a instalação de um Museu Nacional dedicado à luta pela liberdade e a democracia.

Ele é hoje uma realidade, fruto da iniciativa popular. Dia 27 de Abril vai ser inaugurado. A cidade de Peniche vai de novo encher-se de gente do povo que celebra Abril,com a sua participação na inauguração, acto que será sublinhado por um amplo desfile popular promovido pela URAP.

O desfile popular inicia-se pelas 14h30, junto aos Bombeiros Voluntários, em Peniche, seguindo pelo centro da cidade até à Fortaleza, sempre acompanhado pela centenária Banda Musical Fraternidade Operária Grandolense. Desfile que terminará numa cerimónia com breves intervenções.

A velha Fortaleza de Peniche, onde o fascismo instalou uma das mais sinistras cadeias, será a partir de agora um moderno Museu que dará a conhecer aos seus visitantes a natureza repressiva do regime que perseguiu, prendeu, torturou e assassinou os que lutavam pela liberdade.

Será um interessante e histórico espaço de memória para mostrar e dar a conhecer os crimes do fascismo, a miséria e o atraso em que manteve o país, o aparelho repressivo e prisional que criou para sobreviver e servir poderosos interesses de grupos económicos.

Mostrará também a luta e a resistência ao regime fascista fora e dentro das prisões. As lutas dos trabalhadores e do povo pela liberdade e a democracia, pelo fim da guerra colonial, pela paz.

Sábado lá nos encontraremos para celebrar a abertura do MNRL, esta extraordinária conquista resultante da iniciativa popular para celebrar os 50 anos do 25 de Abril e da libertação dos presos políticos.

Agora que as forças reacionárias e fascizantes tentam por todo o lado ganhar terreno, é importante informar e esclarecer, abanar a indiferença, participar, exercer e defender as conquistas e erguer como bandeiras os avançados valores de abril

Este museu, o MNRL, é em si uma lição de história, um percurso indispensável de formação cívica, onde está presente a coragem, a entrega e a generosa dimensão humana do número incalculável de homens e mulheres que, na prolongada luta antifascista e de resistência, contribuíram para deixar às gerações seguintes esse grande presente que foi e continuará a ser a Revolução de Abril. O Museu é mais um cravo, uma vitória do povo e da sua memória e dignidade.

 



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