Sinais dos tempos mediáticos

O facto mediático que dominou a última semana da vida política nacional foi o processo atribulado de eleição do Presidente da Assembleia da República pelos deputados eleitos a 10 de Março. Os factos são relativamente simples de resumir: o PSD apresentou um candidato que não conseguiu recolher a maioria absoluta de votos dos deputados eleitos a 10 de Março até à quarta votação. Tudo o resto que alimentou horas e horas, ao longo de 24 horas, de comentário político partiu (mais uma vez) de uma declaração de André Ventura e de declarações sucessivas do Chega. De novo, o Chega foi colocado no centro do debate pelos decisores mediáticos, que se enredaram e nos tentaram fazer perder a todos na ladainha que se pode resumir da seguinte forma: aconteça o que acontecer, André Ventura anda de xeque-mate em xeque-mate, e o Chega sairá por cima, fortalecido de qualquer episódio por si criado. Numa era em que os comentadores (que, na verdade, são todos eles intervenientes políticos mascarados de jornalistas ou especialistas nisto ou naquilo) ocupam horas infindáveis de emissão, o facto de (quase) todos eles afinarem pelo mesmo diapasão é revelador. Como reveladoras são as opções de entrevistados pela CNN Portugal, recebendo já por duas vezes Ventura desde as eleições: uma logo a 11 de Março, outra após o imbróglio institucional criado pela não-eleição de Aguiar-Branco nas primeiras três votações. A segunda entrevista é especialmente interessante de acompanhar para perceber a forma como o discurso do Chega é cooptado pela máquina mediática (ou vice-versa). Ao longo de mais de dez minutos, foram poucas as vezes que Ventura foi interrompido enquanto respondia a perguntas que dificilmente poderia encaixar melhor no seu discurso, com o jornalista a assumir mesmo expressões insistentemente utilizadas pelo entrevistado, como a rábula da «humilhação». Cereja no topo do bolo, termina a entrevista questionando se não haverá desilusão por parte de quem depositou um «voto de protesto» no Chega ao ver que aquele partido não votou no candidato do PSD, permitindo a Ventura responder com as «centenas ou milhares» de mensagens que terá recebido de eleitores do PSD arrependidos após o acordo com o PS para garantir aquela mesma eleição. Tudo isto para lá do tratamento pelo primeiro nome entre entrevistador e entrevistado: «André» para aqui, «Nuno» para ali… Uma familiaridade perturbadora, na forma e no conteúdo. Entretanto, passado o fim-de-semana pascal, surgem duas entrevistas de rajada de um economista português radicado no Reino Unido a propósito do livro que lançou… há meio ano. Numa, ao ECO, não hesita em categorizar o PCP como partido antidemocrático, já o Chega é «uma coisa vaga». Na outra, ao DN, usa a condição de economista para dizer que «é absurdo e factualmente falso dizer que a culpa do atraso do país em 1974 era do Estado Novo». Podendo parecer acontecimentos sem relação, os sinais dos tempos mediáticos estão aí, suscitando fundadas inquietações.



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