Gaza: hipocrisia e cinismo da UE

João Pimenta Lopes

A posição da UE face à brutal agressão de Israel ao povo palestiniano – de há décadas, mas agravada com contornos e práticas que encontram poucos pontos de comparação na história contemporânea – é expressão inequívoca da sua hipocrisia e forma cínica como instrumentaliza direitos humanos ou o direito internacional, em função dos seus interesses e aliados, obliterando os interesses dos povos.

As conclusões do Conselho Europeu de 20 e 21 de Outubro deixam bem à vista essa postura. Compare-se a posição reiterada sobre a guerra na Ucrânia com a posição sobre o «Médio Oriente».

À «guerra de agressão lançada pela Rússia», «em manifesta violação das obrigações deste país decorrentes da Carta das Nações Unidas e do direito internacional», não se encontra réplica que coloque Israel onde se lê Rússia. Além da congratulação com «a adopção do 13.º pacote de sanções» (que se repercutem e paga também o povo português), não se encontram sanções contra Israel ou apelos ao embargo de armas àquele país ou a decisão de suspender sequer o Acordo de Associação UE-Israel. À afirmação do apoio incondicional à defesa da Ucrânia, particularmente com armamento, não sucede qualquer referência ao direito do povo palestiniano de se defender – mas reiteram o «direito de Israel de se defender em conformidade com o direito internacional», expressão com que legitimaram, desde 7 de Outubro, a bárbara agressão de Israel, força ocupante, que viria a configurar uma política genocida. Quando «condena veementemente as contínuas violações dos direitos humanos cometidas pela Rússia nos territórios ucranianos ocupados», só consegue condenar «veementemente a violência por parte de colonos extremistas» e «as decisões do Governo israelita de continuar a expandir os colonatos ilegais na Cisjordânia ocupada», mas nem uma condenação ao massacre em Gaza ou à responsabilização de Israel por mais de 100 mil vítimas, com particular incidência sobre crianças, com a destruição de todo um território, a imposição da fome, do sofrimento e da morte a mais de 2 milhões de pessoas. Insistindo num jogo de equivalências, procurando confundir o agressor, Israel, com o agredido, o povo palestiniano, e através disso responsabilizar a resistência palestiniana, ficam muito aquém do necessário no imediato, quando apenas conseguem apelar a uma «pausa humanitária imediata que conduza a um cessar-fogo sustentável, à libertação incondicional de todos os reféns e à prestação de ajuda humanitária».

É Israel que está a impedir o acesso de ajuda humanitária. É sobre Israel que toda a pressão deve ser colocada para parar o massacre, para consagrar um cessar-fogo imediato e permanente e para que seja garantido o acesso incondicional à ajuda humanitária.

 



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