Catástrofe humanitária e sanitária «indescritível» na Faixa de Gaza
Cúmplice de Israel nos crimes contra os palestinianos, os EUA continuam a impedir as tentativas no Conselho de Segurança da ONU de aprovar um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza. «A ocupação provocou deliberadamente uma catástrofe humanitária e sanitária indescritível», acusam os palestinianos.
Desde o início da escalada de agressão, 5% da população da Faixa de Gaza morreu, está ferida ou desaparecida
O representante da Palestina junto das Nações Unidas, Riyad Mansour, denunciou a pressão israelita contra os palestinianos, forçados a escolher entre «a deslocação forçada, a submissão ou o assassinato».
«O apartheid actual é possível porque os seus responsáveis sabem que não têm de prestar contas», denunciou no início desta semana o diplomata
O embaixador agradeceu as demonstrações de solidariedade em todo o mundo e denunciou a desumanização dos palestinianos nos comentários de dirigentes israelitas e dos que desconsideram as vidas dos palestinianos. Face à urgência de deter a carnificina, Mansour apelou a que se tomem medidas justas contra aqueles que classificam como inferiores os seus concidadãos, os expropriam das suas terras, abusam e matam.
O Tribunal Internacional de Justiça ainda não emitiu nenhuma decisão contra esses dirigentes, asseverou o representante palestiniano, ao considerar que o Estado israelita abusa do seu poder sem arrepender-se dos seus crimes ou lamentar as suas vítimas.
O diplomata recordou os repetidos ataques de Israel contra a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança e a ONU, a par das constantes violações da Carta das Nações Unidas e do direito internacional. «Todos temos o dever colectivo de pôr fim a este sofrimento indescritível», rematou.
Mais de 100 mil
mortos e feridos
As forças armadas israelitas mataram 30.631 palestinianos e feriram 72.043 desde o início da mais recente agressão contra a Faixa de Gaza, informaram fontes médicas em Ramala.
As autoridades de saúde palestinianas pormenorizaram, no seu relatório mais recente, divulgado no dia 5, que milhares de pessoas continuam sob as ruínas dos edifícios e outras estruturas, pelo que o número de vítimas mortais é muito superior.
As tropas israelitas mataram, nestes cinco meses, 364 profissionais de saúde e prenderam 269. Entre os detidos, estão os directores dos hospitais de diversas cidades. Os agressores inutilizaram 155 instituições de saúde e destruíram 32 hospitais, 53 instalações do sector e 126 ambulâncias. «A ocupação provocou deliberadamente uma catástrofe humanitária e sanitária indescritível que contribuiu para a propagação de epidemias e doenças infecciosas», revelaram as mesmas fontes. Acrescentaram que, hoje, há cerca de um milhão de casos de doenças infecciosas, sem que haja meios para os tratar. Agravando a situação, alastra a fome no território, em consequência da escassez de água potável e da falta de alimentos que enfrentam os habitantes na Faixa de Gaza. Aumenta o número de mortes de menores de idade, mulheres e idosos por falta de comida.
Nos últimos dias, os ataques dos militares israelitas no território palestiniano prosseguiram, com bombardeamentos aéreos registados em diversas áreas, como o campo de refugiados de Jabalia, no norte daquele território, e as cidades de Beit Lahia, no norte, e de Khan Yunis, no sul.
Campanha israelita contra a UNRWA
visa pôr fim às actividades da agência
O comissário-geral da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) considerou que a actividade desse organismo está à beira da ruptura e ameaçada por falta de financiamento em virtude do boicote dos EUA e de outros países.
Ao informar a Assembleia Geral da ONU sobre o trabalho do principal actor humanitário em Gaza, o diplomata pediu acção urgente para facilitar uma solução política que traga a paz.
Recordou que a UNRWA nasceu há 75 anos como entidade temporária das Nações Unidas e alertou para o facto da sua capacidade para cumprir o mandato outorgado pela Assembleia Geral estar hoje seriamente ameaçada.
Assegurou que, agora, a agência trabalha «ao dia», após a campanha de calúnias israelita, a pretexto da qual 16 países suspenderam o seu financiamento. A UNRWA «enfrenta uma campanha deliberada e concertada para minar as suas operações e, em última instância, pôr fim às suas actividades», denunciou. Do seu ponto de vista, isto resulta da informação errónea que foi fornecida aos doadores, desenhada para fomentar a desconfiança e manchar a reputação da agência.
O responsável agradeceu aos Estados membros e doadores que mantiveram e até aumentaram o seu financiamento, embora tenha reafirmado a pouca disponibilidade actual de fundos. Pediu aos países membros da ONU mais compromisso para facilitar o processo político há muito esperado para a paz, ao mesmo tempo que reiterou ser urgente garantir que a agência receba o apoio de que necessita.
O diplomata lamentou o assombroso número de mortes na Faixa de Gaza, em que cinco por cento da população morreu, está ferida ou desaparecida.
Barbárie e fome como armas de guerra
No dia 29 de Fevereiro, mais de uma centena de palestinianos foram mortos e 700 ficaram feridos em ataques das forças de ocupação israelitas, quando procuravam aceder a ajuda alimentar na cidade de Gaza – um crime que deixa a nu a barbárie do massacre que ocorre desde há cinco meses naquele território.
Este crime foi cometido numa situação em que Israel impõe um desumano bloqueio à Fixa de Gaza, impossibilitando o acesso a água, a comida, a medicamentos, a electricidade e a combustíveis. Segundo a Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mais de meio milhão de pessoas encontram-se na Fase 5 de insegurança alimentar, a última, considerada «catástrofe», a que acresce 1 milhão e 100 mil (50% da população) na fase 4, «emergência». Toda a população, 2,3 milhões de pessoas, está em situação de crise alimentar.
Reagindo a estes ataques, o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) afirma que este crime «é revelador dos objectivos e da brutal acção de Israel que pretende reocupar a Faixa de Gaza, matando a sua população com bombardeamentos, a tiro, de fome ou por doença ou tornando a sua vida tão difícil, ao ponto de a forçar a abandonar a Faixa de Gaza para nunca mais voltar».