No centenário do nascimento de Úrsula Machado Castelhano
Nasceu há 100 anos, feitos ontem, 28, Úrsula Machado Castelhano, dedicada militante do Partido nos duros anos da clandestinidade. Trabalhou nas tipografias clandestinas, foi presa e torturada, e a tudo resistiu.
Mesmo nas piores condições, é possível resistir
Ao longo dos seus 103 anos de vida, o PCP nunca deixou de assentar a sua intervenção num colectivo dinâmico, corajoso, coeso e fraterno.
Na impossibilidade de lembrar cada um dos militantes, o destaque à vida e participação de alguns dos protagonistas desta história deve ser entendido como parte de uma homenagem mais vasta a todos os que lutam ou lutaram pela construção da sociedade livre da exploração do homem pelo homem, que prosseguimos todos os dias.
Ontem, 28, deu-se o centenário do nascimento de Úrsula Machado Castelhano. Natural de Vale de Vargo, Serpa, terra de vasta tradição de luta contra a exploração (note-se que no II Congresso do Partido, em 1926, participaram delegados desta localidade), cedo conheceu as agruras da vida paupérrima dos operários agrícolas. Cedo, também, conheceu quem a levasse aos caminhos da luta e da resistência contra os agrários e o seu governo fascista. Aderiu ao Partido em 1955. Em 1957 já desempenhava um vasto conjunto de tarefas clandestinas e, em 1960, passa à clandestinidade como funcionária do Partido, com o seu companheiro José Lobato Pulquério.
Dedicação sem limites
Desempenhou tarefas nas tipografias clandestinas na região de Lisboa. Pelas suas mãos passaram, entre 1960 e 1968, centenas de edições do Avante! e de O Militante, para além de outros materiais de propaganda.
Às quatro da madrugada de 20 de Agosto de 1968, a PIDE irrompeu pela casa onde estava instalada a tipografia, na Damaia, Amadora. Úrsula ainda conseguiu queimar papéis com informação que interessava à polícia. Presa com o seu companheiro e com a filha mais nova do casal, não deixou de denunciar, enquanto era arrastada para o carro pelos agentes da PIDE, a sua condição de comunista e de presa política.
Ao longo de semanas foi brutalmente torturada. Para além das violentas agressões físicas e da tortura do sono, usaram a sua filha e o seu companheiro como armas psicológicas para lhe tentar arrancar a mais pequena informação. Não o conseguiram! Úrsula Machado Castelhano honrou a sua condição de membro do PCP e a polícia nada lhe arrancou, não sem dano para si. Nos meses que se seguiram à tortura foram-se agravando perturbações psíquicas que até obrigaram os carcereiros a hospitalizá-la.
Libertada a 20 de Novembro de 1972, a sua saúde estava irremediavelmente arrasada (a própria reconhecia esta condição nos relatos que fez da sua experiência prisional). Após o 25 de Abril e enquanto teve capacidade, continuou a desempenhar tarefas, trabalhando na sede do Partido.
Faleceu a 10 de Julho de 2001. O seu exemplo de dedicação à causa da classe operária e do povo permanece: quando muitos tentam apagar o que foi o fascismo em Portugal, a vida de Úrsula Machado Castelhano merece ser conhecida, pois denuncia a brutalidade do regime, mas, acima de tudo, mostra que mesmo perante as condições mais difíceis é possível resistir e vencer!