França neocolonial sofre nova derrota

Carlos Lopes Pereira

O Níger, o Mali e o Burkina Faso retiraram-se da Comunidade Económica dos Países da África Ocidental (Cedeao), acusando a organização de ser dirigida pela França e seus aliados «ocidentais».

Os chefes de Estado do Burkina Faso, Ibrahim Traoré; do Mali, Assimi Goita; e do Níger, Omar Tchiani, «assumindo todas as suas responsabilidades face à história e respondendo às expectativas, preocupações e aspirações das suas populações», decidiram «com total soberania» a saída imediata da organização.

Recriminaram a Cedeao por estar sob influência de potências estrangeiras e por ter atraiçoado os seus princípios fundadores e, mais grave ainda, por se ter convertido «numa ameaça para os seus Estados membros e as suas populações».

Um antigo ministro nigerino, Omar Idi Ago, confirmou que a decisão de sair da Cedeao foi o convencimento de que a política dessa organização regional africana é ditada em grande medida a partir de Paris. «Nos últimos meses, ficámos sem qualquer dúvida de que é a França que dirige a Cedeao, ela não dá nenhum passo sem a aprovação de Paris», garantiu.

Antigas colónias francesas, os três países da África Ocidental têm em comum sofrerem, desde há anos, ataques de grupos extremistas actuando no Sahel, os quais proliferaram, sobretudo, depois da destruição do Estado da Líbia, em 2011, pelos Estados Unidos da América e NATO.

Bamako, Uagadugu e Niamey receberam então a «ajuda» militar da França, que enviou para a zona milhares de soldados – que não só não resolveram o problema da segurança desses países como até o agravaram, ao mesmo tempo que aumentavam a pobreza e as dificuldades da maior parte da população.

A Cedeao, hoje, é acusada, tal como as tropas expedicionárias francesas, de não ter auxiliado o Mali, o Burkina e o Níger no contexto da «luta contra o terrorismo e a insegurança».

Com o agravar da guerra e o aprofundamento da crise económica e social, as forças armadas dos três países tomaram conta do poder (no Mali em 2021, no Burkina em 2022 e no Níger em 2023) e decidiram expulsar as tropas francesas dos seus territórios. Recordam, agora, que a Cedeao tentou impor, então, «sanções ilegais, ilegítimas, desumanas e irresponsáveis». Lembram também que, em Julho do ano passado, quando um grupo de oficiais depôs no Níger o então presidente Mohamed Bazoum – um aliado de Paris – alegando «a contínua deterioração da situação de segurança» e a «má governação económica e social», a Cedeao activou a sua força militar ameaçando intervir no país. Além disso, suspendeu a ajuda financeira ao Níger, fechou as fronteiras, cancelou transações comerciais e aplicou outras sanções aos novos dirigentes nigerinos, apesar do grande apoio popular que estes receberam dos seus compatriotas.

Para fazer frente às ameaças da Cedeao – a mando das potências «ocidentais» –, Níger, Mali e Burkina estabeleceram, com coragem, um pacto de defesa mútua, a Aliança dos Estados do Sahel, diversificaram as suas relações internacionais e reforçaram o combate contra o terrorismo. Desde 28 de Janeiro, com a sua retirada da Cedeao, têm melhores condições para relançar o desenvolvimento pacífico e justo nos seus países, valorizando as riquezas naturais de que dispõem no interesse dos seus povos, e assim consolidar a independência e a soberania.




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