Por que lutam os agricultores?
Quase trinta e oito anos volvidos, o lastro de destruição é evidente. Mais de quatrocentas mil explorações agrícolas foram perdidas, mais de setecentos mil postos de trabalho foram destruídos, a superfície agrícola útil reduziu-se brutalmente, assistiu-se ao abandono do mundo rural, à concentração da propriedade e da produção.
Com a entrada na CEE/UE, em 1986, Portugal escancarou portas à concorrência desleal com produções de outros países, altamente subsidiadas, o que teve um impacto brutal na agricultura nacional. As sucessivas reformas da Política Agrícola Comum (PAC), no sentido da sua liberalização – sempre caucionadas pelos governos nacionais de PS, PSD e CDS – agravaram a situação. A balança agroalimentar nacional é preocupantemente deficitária. Os pagamentos aos agricultores foram progressivamente desligados da produção, permitindo que alguns grandes proprietários recebam rios de dinheiro sem obrigatoriedade de produzir. Estas são algumas das consequências de mais de três décadas de aplicação da PAC em Portugal, a que se somam as consequências da desregulação e liberalização do comércio internacional promovida pela UE.
Também noutros países, as consequências da PAC levaram milhares de agricultores a saírem às ruas nos últimos dias.
A situação não é igual em cada país, as motivações dos agricultores podem ter cambiantes; as consequências da PAC são diversas em dimensão e profundidade de país para país, dependentes do grau de desenvolvimento das forças produtivas, do tipo de produção e da dimensão das explorações. Mas há um fundo comum nos problemas que existem e na revolta sentida pelos agricultores. Esta PAC não serve a maioria dos agricultores, especialmente os pequenos e médios agricultores e a agricultura familiar. Os acordos de livre comércio promovidos pela UE, que oferecem a agricultura como moeda de troca para a abertura de novos mercados à indústria dos países do centro, com a Alemanha à cabeça, atacam a soberania alimentar de cada país e prejudicam os produtores.
Estas manifestações são um libelo acusatório sobre a PAC, sobre as políticas do «livre comércio» e sobre as opções e forças políticas que promoveram ambas. Em Portugal, e desde o início, que PS, PSD e CDS têm sido protagonistas desta política, mas também o Chega e a IL a têm apoiado.
Também em Bruxelas, e frente ao Parlamento Europeu, os agricultores se manifestaram. E lá estivemos, como tantas outras vezes, junto de uma delegação da Confederação Nacional da Agricultura. Lá estivemos em defesa de uma política alternativa também para a agricultura. Em defesa do aumento dos rendimentos para os agricultores, de justiça na distribuição dos pagamentos da PAC, da soberania alimentar, dos interesses das populações do mundo rural.