O princípio da derrocada do colonialismo português
O 4 de Fevereiro de 1961 simboliza o início da luta armada para a libertação dos povos das colónias portuguesas
O povo angolano, como os povos das outras colónias portuguesas em África, soube resistir ao longo de séculos à opressão e exploração estrangeiras.
Após a II Guerra Mundial, essa resistência e os ventos de liberdade que sopravam na Ásia, América Latina e África favoreceram em Angola o reagrupamento de pequenas organizações políticas clandestinas, visando combater a dominação colonialista.
Foi assim que, em 1956, surgiu o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), dinamizado por Agostinho Neto, Ilídio Machado, Lúcio Lara, Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz e outros patriotas, que seriam perseguidos pela polícia política, a PIDE, e muitos deles forçados ao exílio.
Em Junho de 1960, com parte da direcção instalada em Conakry (Agostinho Neto e Ilídio Machado estavam presos em Lisboa), o MPLA propôs ao governo português conversações para uma solução pacífica do problema colonial em Angola. Proposta semelhante foi feita na mesma altura pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), dirigido por Amílcar Cabral.
A ditadura fascista e colonialista nem sequer respondeu, preferindo a guerra à paz. Mais tarde, em 1972, Agostinho Neto, entrevistado por um jornal inglês, contou que «em 1960, o MPLA escreveu ao Governo português pedindo que se abrissem discussões sobre os problemas de Angola mas, na realidade, os portugueses não compreendiam esses problemas. Na altura, eles estavam persuadidos de que os angolanos eram incapazes de dirigir um país ou conduzir uma luta. No ano seguinte nós começámos a combater.»
Esse ano de 1961 começou, em Angola, com a revolta na Baixa do Cassanje. Os camponeses da região entraram em greve em Janeiro, recusaram-se a cultivar algodão, prática obrigatória nos terrenos da Cotonang, e deixaram de pagar impostos. Ao longo de semanas, armados de catanas, os revoltosos atacaram plantações da empresa, incendiaram armazéns, danificaram viaturas, pontes e jangadas. As autoridades coloniais responderam de forma brutal, enviando aviões que bombardearam as aldeias dos camponeses sublevados. Historiadores estimam que de Janeiro a Março morreram entre cinco e 10 mil pessoas na Baixa do Cassanje.
Entretanto, em Luanda, na madrugada de 4 de Fevereiro, um grupo de mais de 200 patriotas, armados de catanas, atacou prisões e outras instalações na capital da colónia. O objectivo foi libertar os presos políticos ligados ao «Processo dos 50» que, julgava-se, seriam transferidos em breve para o Tarrafal. O ataque falhou, morreram 15 sublevados e muitos ficaram feridos. Nos dias 10, 17 e 19 houve novas tentativas, também fracassadas, de assaltar as prisões da cidade.
Agostinho Neto, que na altura dos acontecimentos se encontrava com residência fixa na ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, escreveu mais tarde, em 1970, em plena luta pela independência de Angola: «O dia 4 de Fevereiro de 1961 assinala um acontecimento decisivo para o povo angolano. Nesse dia, os militantes do MPLA atacaram as prisões de Luanda com o objectivo de libertar os muitos patriotas que se encontravam detidos. Dias depois, as massas camponesas do Norte levantaram-se em armas contra o domínio colonialista português e o povo angolano passava assim para a vanguarda da luta revolucionária, ao lado dos outros povos do mundo que combatem a opressão, rumo a uma vida livre numa sociedade livre».
A repressão «por parte do governo fascista de Salazar» não se fez esperar: «As prisões encheram-se de patriotas angolanos e aldeias inteiras foram arrasadas pelas bombas inimigas. Uma histeria colectiva apoderou-se então dos colonialistas que, perante a iminência de um levantamento geral, desencadearam contra a população de Angola uma perseguição feroz e assassina».
O 4 de Fevereiro, em Luanda, há 63 anos, não foi só um marco da caminhada do povo angolano para a sua emancipação nacional e social. Essa data simboliza o início da luta armada de libertação dos povos das colónias africanas de Portugal (depois do MPLA, em 1961, o PAIGC pegou em armas em 1963 e a FRELIMO em 1964) – o princípio da derrocada do colonialismo português.