Expansões do Cinema
O «cinema expandido» teve como propósito dilatar os horizontes do cinema convencional
Nos anos 60 do século XX, foram forjadas novas modalidades cinemáticas em sintonia com os desenvolvimentos tecnológicos do período, com a eclosão de uma nova mentalidade política e cultural e com a vontade de experimentação e ruptura. As experiências originadas neste contexto levaram à criação do que se designou como um «cinema expandido», que tinha como propósito dilatar os horizontes do cinema convencional.
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A expressão cinema expandido terá sido utilizada pela primeira vez em meados dos anos 1960, no contexto das performances multimédia desenvolvidas pelos norte-americanos Carolee Schneemann, Stan Vanderbeeck e, pouco tempo depois, por Jonas Mekas. Em 1970, o mesmo termo foi sistematizado no livro Expanded Cinema, da autoria de Gene Youngblood. Neste trabalho, o autor admitia a possibilidade de expansão do cinema pela sua conjugação com as experiências realizadas no âmbito do vídeo e da informática, bem como pela sua possível hibridação com o teatro, a pintura e a música.
Além disso, este assumia ainda o desejo de criação de um cinema sinestético, capaz de ampliar a consciência e os mecanismos perceptivos, mediante a criação de novos ambientes imersivos de exibição cinematográfica.
Foi também nos anos 1960/1970 que se desenvolveram as primeiras manifestações associadas à videoarte, cujo território se cruza com o do cinema expandido e com algum cinema experimental. O cruzamento entre disciplinas artísticas e a sua intermedialidade originou, fundamentalmente a partir deste momento, uma indeterminação de fronteiras e a celebração desta condição.
A videoarte nasceu em resultado da experimentação da integração da televisão e do vídeo analógico no campo artístico. Artistas do campo da performance e da instalação continuaram a desenvolver trabalho nessa área, permitindo que a videoarte permanecesse com enorme vitalidade na cena artística até ao momento presente. Os referidos trabalhos contribuíram para repensar o universo artístico e alguns dos seus conceitos fundamentais.
Na linha das propostas feitas no mesmo período pelo movimento Minimalista, pela Pop Arte e pela Arte Conceptual, reelaboraram as temáticas abordadas (aproximando-as do mundano e da natureza), as noções de espaço (reorganizando as galerias e a experiência perceptiva do espectador, pela permissão de participação e integração deste último na obra) e de tempo (com a seriação e a simultaneidade) e sobrepuseram vários registos artísticos, mediante happenings, performances e instalações.
No final da década de 1960, os computadores também entraram na arte vanguardista, introduzindo novas plataformas de exploração. A exposição Cybernetics Serendipity: The Computer and the Arts, apresentada, em 1968, no Institute of Contemporary Arts (ICA) em Londres, foi considerada o apogeu da arte produzida por computadores. Destaca-se aí o trabalho pioneiro de John Whitney que começou a fazer experimentação na intersecção entre o filme e o computador, a partir da década de 1940 (2008, 10). A utilização do computador no campo artístico sofreu, contudo, um interregno que se prolongou até ao surgimento da World Wide Web nos anos 1990.
Apesar das mutações identificadas terem contribuído significativamente para o desenvolvimento de novas modalidades e práticas no campo do cinema, a dilatação da experimentação cinemática dos anos 1960/70, assim como a extensão das suas manifestações a plataformas inovadoras e a diferentes contextos de exibição, não transcendeu imediatamente os circuitos de produção e fruição artística e os seus agentes e públicos habituais.
Outros elementos tiveram de intervir para que viessem a integrar territórios mais amplos e diversificados. Um dos factores mais importantes que permitiu o despontar de novos percursos e possibilidades foi o alargamento do acesso generalizado a ferramentas tecnológicas sofisticadas, tornado possível pela redução dos seus custos e simplificação das interfaces.