Silêncios e outras operações

A operação mediática em torno das eleições legislativas de 10 de Março prossegue. Com o aproximar das eleições estreita-se o campo para o apagamento do PCP e da CDU, mas não a sua menorização nos alinhamentos noticiosos. Tivemos nos últimos dias um exemplo disso mesmo, com a opção de vários órgãos de comunicação social a ignorar a presença do Secretário-Geral do PCP na manifestação pela paz no Médio Oriente.

Teremos um aprofundamento destas opções ao longo do início do mês de Fevereiro, com a repetição de um modelo de debates frente-a-frente que cria já não duas, mas uma espécie de três divisões: a primeira, em que figura apenas o debate entre PS e PSD, num simultâneo RTP, SIC e TVI (só visto nestas ocasiões, em que a guerra pelas audiências é suspensa por motivos de interesse superior); a segunda, onde cabem os restantes debates em que participam PS e PSD, as únicas forças políticas que debatem sempre em canal aberto; e a terceira, com os debates dos restantes, remetidos para os canais de notícias do cabo. Eis a função de condicionamento da comunicação social em todo o seu esplendor, alimentando artificialmente a bipolarização com um exercício que, tal como as sondagens, serve essencialmente para conduzir e condicionar opções de voto, não para promover uma melhor e mais efectiva informação do que está em jogo nestas eleições (que, vale sempre a pena repetir, não são para primeiro-ministro) e das diferentes propostas de cada força política.

Mas as últimas semanas revelaram também um aprofundamento da deturpação e da manipulação do que o PCP e a CDU afirmam. Vimo-lo a propósito da cobertura mediática do Encontro Nacional do PCP do passado sábado, onde as várias intervenções sobre a realidade do País, as propostas do Partido, a sua intervenção e estilo de campanha foram, em larga medida, reduzidas ao posicionamento face ao PS. Em que, apesar de grande parte das críticas que ali se expressarem visarem o PSD, o CDS, a IL, o Chega, e os verdadeiros donos disto tudo, os grupos económicos ao serviço de quem aqueles partidos estão, a tónica em muitas das peças noticiosas vão exclusivamente para as críticas ao PS, somando para a sua vitimização, que tanto contribuiu para a conquista da maioria absoluta em 2022.

Mas vimo-lo também na passada segunda-feira, quando as estações de televisão presentes na iniciativa sobre privatizações ignoraram o tema e transformaram, para os seus efeitos mediáticos, o testemunho do desastre e do crime que estas representaram para o País numa declaração sobre a formalização da dissolução da Assembleia da República. Depois de três dias em que a corrupção encheu noticiários pela boca daqueles que tanto a enchem sem acertar na origem do fenómeno, é sintomático que tenham passado ao lado da iniciativa que tratou de processos, da ANA à PT, absolutamente exemplares da submissão do poder político ao poder económico, o terreno mais fértil para a grande corrupção.

 



Mais artigos de: PCP

Semana de 35 horas sem redução de salário

Semana de trabalho de 35 horas para todos sem redução dos salários: é esta exigência «fundamental e urgente» que o PCP destaca num boletim dirigido aos trabalhadores informáticos do distrito de Lisboa.