Dar força à solidariedade, exigir o fim do massacre

Num momento em que foram retomados, e com redobrada violência, os bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza e em que a violência cresce também na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ganham ainda mais força os apelos à elevação da mobilização pela paz no Médio Oriente e em solidariedade com o povo palestiniano. Amanhã, 8, há manifestação em Lisboa.

Israel mata em média, na Faixa de Gaza, 270 pessoas por dia

Depois de sete dias de cessar fogo, durante o qual centenas de detidos foram libertados, Israel retomou os ataques na Faixa de Gaza, com bombardeamentos aéreos de grande intensidade e operações terrestres: só no sábado, 2, cerca de 700 palestinianos foram mortos, grande parte dos quais crianças.

Em 59 dias de agressão ao povo palestiniano (cumpridos na segunda-feira, 4), tinham já sido mortas quase 16 000 pessoas, uma média de 270 por dia. O massacre em curso na Faixa de Gaza é, de longe, o mais sangrento das últimas décadas.

Entretanto, e ao mesmo tempo que continuam os ataques no Norte do território, as forças ocupantes concentram-se agora na segunda maior cidade da Faixa de Gaza, Khan Younis, no Sul (aquela que, há dias, era a «zona segura» para a qual a população do Norte se deveria encaminhar). O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, alerta para o facto de não haver nenhum sítio seguro em Gaza. O mesmo afirma a organização Save the Children (Salvem as Crianças), que há décadas trabalha nos territórios palestinianos ocupados, para quem mais de um milhão de crianças – todas as daquele território – estão hoje em risco de vida. À semelhança do que tem feito, também no Sul Israel visa escolas, hospitais, instalações religiosas e bairros residenciais.

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA, na sigla inglesa) confirmou a morte, até ao momento, de 130 dos seus funcionários na Faixa de Gaza. Confirma ainda que 1,9 milhões de pessoas – 85 por cento da população – foram forçadas a abandonar as suas casas. Destas, quase 1,2 milhões estiveram ou estão refugiadas em 156 instalações da agência em todo o território.

Mas a violência sobre a população palestiniana também tem vindo a crescer nos outros territórios palestinianos. As Nações Unidas denunciam que só na Cisjordânia militares e colonos israelitas assassinaram, desde 7 de Outubro, pelo menos 63 menores, ou seja, mais do que um por dia. Isto representa um significativo agravamento relativamente aos primeiros nove meses daquele que era já, desde 2005, o ano com mais mortes entre as crianças e os jovens, acrescenta a Save the Children. No total, mais de uma centena de menores foram mortos naquele território, três vezes mais do que em 2022 (até então o pior ano desde aquela data).

Desde 7 de Outubro, as Nações Unidas registam 143 famílias (incluindo 388 crianças) expulsas das suas casas na Cisjordânia, devido à violência dos colonos e às restrições de circulação.

 

Pela paz no Médio Oriente, pelos direitos do povo palestiniano

Promovida pelo CPPC, CGTP-IN, MPPM e Projecto Ruído – Associação Juvenil, a manifestação de amanhã, 8, com concentração às 15h00 no Martim Moniz e desfile até ao Largo José Saramago, conta já com a adesão de muitas outras organizações.

Para além das reivindicações urgentes (ver caixa), os promotores sublinham ser preciso que, «após muitas décadas de promessas incumpridas, seja concretizado um Estado palestiniano independente, com controlo soberano das suas fronteiras e recursos». A paz de que a Palestina e o Médio Oriente precisam passa pelo «reconhecimento e cumprimento dos direitos nacionais do povo palestiniano».

A manifestação de amanhã segue-se a muitas outras acções nos últimos dias. No âmbito da Semana de Solidariedade com o Povo Palestiniano, realizou-se uma concentração em Lisboa, no Martim Moniz, com centenas de pessoas presentes. A começar teve lugar um Die-In, com um grupo de pessoas a deitar-se no chão, numa ação artística de solidariedade com as vítimas do massacre em Gaza. As intervenções estiveram a cargo de Inês Caeiro (Projecto Ruído), João Barreiros (CGTP-IN), Carlos Almeida (MPPM), Rui Garcia (CPPC) e a palestiniana Serenah Sabat. Sofia Lisboa leu testemunhos de habitantes de Gaza.

A poesia, a música e a cultura também marcaram presença, através da participação de Maria Emília Castanheira, Fernando Rebelo, Jorge Rivotti, Rui Galveias eFernando Jorge Lopes.

No mesmo dia realizou-se uma concentração no Funchal, no Largo dos Vazadouros. Perante dezenas de pessoas, empunhando cartazes e faixas exigindo paz e um cessar fogo imediato e permanente, Carolina Cardoso, do CPPC, reivindicou o cumprimento dos direitos nacionais do povo palestiniano.

Em Coimbra destacam-se duas acções: a iniciativa simbólica de 28 de Novembro, com a colocação de pequenas bandeiras sobre a palavra «paz», em homenagem aos milhares de mortos na Faixa de Gaza; e, no dia 5, a mostra de cartazes produzidos por dezenas de ilustradores, que mostram através do seu trabalho a revolta que sentem com o que todos os dias acontece na Palestina.

 

Mais de 100 personalidades apelam a um cessar-fogo imediato

Mais de uma centena de personalidades ligadas às artes, à cultura, à ciência e à academia subscreveram um apelo, divulgado no dia 29, reclamando um cessar-fogo imediato, duradouro e sustentado que «conduza à cessação da actual escalada de violência na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e em Israel».

Os subscritores assumem o conteúdo da resolução adoptada a 27 de Outubro pela Assembleia Geral das Nações Unidas, sobre a protecção dos civis e o cumprimento das obrigações legais e humanitárias face à grave deterioração da situação na Faixa de Gaza e nos restantes territórios palestinianos ocupados.

A resolução exigia o fornecimento «imediato, contínuo, suficiente e sem entraves de bens e serviços essenciais aos civis em toda a Faixa de Gaza». Reclamava ainda a revogação da ordem de Israel, potência ocupante, aos civis palestinianos, ao pessoal das Nações Unidas e aos trabalhadores humanitários e médicos, para evacuar todas as áreas da Faixa de Gaza a Norte do Wadi Gaza e deslocarem-se para Sul. E rejeitava, firmemente, quaisquer tentativas de transferência forçada da população.

Na resolução, tal como no apelo, reafirma-se que uma solução justa e duradoura «só pode ser alcançada por meios pacíficos, com base nas resoluções relevantes das Nações Unidas e em conformidade com o direito internacional».

O texto integral e os subscritores podem ser consultados aqui: https://cppc.pt/102-o-cppc/2817-por-um-cessar-fogo-imediato-duradouro-e-sustentado-levando-a-cessacao-da-actual-escalada-de-violencia.

 

Profissionais de Saúde indignados e solidários

Quase 350 subscritores tinham já assinado, na segunda-feira, o apelo promovido por profissionais de Saúde portugueses exigindo um cessar fogo permanente e imediato e a urgente ajuda humanitária às populações e profissionais e serviços de saúde na Faixa de Gaza e noutros territórios palestinianos.

Indignados e horrorizados com os bombardeamentos e ataques do exército israelita contra hospitais e outras infra-estruturas e serviços de saúde, os subscritores lembram que só num mês a Organização Mundial de Saúde «registou mais de uma centena de bombardeamentos a serviços de saúde em Gaza, resultando em milhares de mortes e feridos entre a população, incluindo centenas de profissionais de saúde em serviço».

Denunciam ainda que os ataques de Israel «têm como alvo preferencial instalações médicas, profissionais de saúde, doentes e feridos», e que os ataques a hospitais e veículos de transporte pré-hospitalar «impedem o acesso seguro dos feridos e doentes, na sua maioria crianças, mulheres e idosos, a cuidados de saúde essenciais e urgentes».

O bloqueio à entrada de ajuda humanitária, garantem, tem «restringido brutalmente o fornecimento de medicamentos e equipamentos essenciais, bem como de combustível indispensável ao funcionamento dos geradores hospitalares»: há cirurgias realizadas sem anestesia, à luz de velas ou de telemóveis, e a falta de energia já levou à suspensão de procedimentos, provocando a morte a recém-nascidos e doentes críticos.

O apelo pode ser assinado em https://peticaopublica.com/?pi=PT118764.

 

Manifestação em Lisboa amanhã, 8

É preciso com urgência:

• um cessar-fogo imediato e permanente

• pôr fim aos bombardeamentos e ataques israelitas

• assegurar que o massacre acabe de uma vez por todas

• impedir a expulsão dos palestinianos das suas casas e terra

• garantir a ajuda humanitária e a reconstrução da Faixa de Gaza

• pôr fim à violência dos militares e colonos israelitas na Cisjordânia

• pôr fim a 17 anos de desumano cerco da Faixa de Gaza

• libertar todos os detidos

É preciso que, após muitas décadas de promessas incumpridas, seja concretizado um Estado Palestiniano independente, com controlo soberano das suas fronteiras e recursos.

 



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