Uma infame resolução

Sandra Pereira

Na última sessão plenária do Parlamento Europeu (PE) em Estrasburgo, foi votada uma resolução intitulada Os hediondos ataques terroristas do Hamas contra Israel, o direito de Israel a defender-se de acordo com o direito humanitário e internacional e a situação humanitária em Gaza.

Ainda que o título escolhido possa ser já suficientemente elucidativo sobre o viés que transporta, vale a pena escrutinar o texto da resolução para perceber o que afirma e o que deliberadamente oculta.

O apelo ao dito direito à legítima defesa serve apenas para dar carta branca ao massacre que Israel está a impor à população palestiniana, ignorado na resolução. Um justo apelo ao direito internacional implicaria, no mínimo e uma vez que não conseguem condenar as acções de Israel, exigir o fim da actual barbárie, algo que a resolução não faz.

A posição facciosa encontra-se ao longo de todo o texto com a condenação dos ataques que vitimaram civis israelitas mas com dificuldades em denunciar a agressão israelita a civis palestinianos.

Foram apresentadas alterações ao texto que, a serem aprovadas, contribuiriam para um texto menos desequilibrado ou, pelo menos, para o registo de referências históricas indispensáveis à compreensão da situação actual, para a condenação da ocupação de Israel, que dura há 75 anos, ou do bloqueio que impõe à Faixa de Gaza há 16 anos. Mas não só! Houve outras alterações que condenavam o bombardeamento israelita e o cerco total da Faixa de Gaza ou que lamentavam os bombardeamentos sangrentos perpetrados por Israel contra diversas escolas, hospitais, ambulâncias, veículos e instalações dos serviços de emergência, até da própria ONU. Mais ainda: reiterava-se o pedido para o fim do bloqueio à Faixa de Gaza, e, para além de apelar à paz, pedia-se o fim da ocupação dos territórios palestinianos, em conformidade com a Resolução 2334 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Também se lamentava a atitude da Presidente da Comissão Europeia que durante a sua visita a Israel assumiu apoio incondicional ao Governo de Israel e ignorou as terríveis retaliações contra civis palestinianos na Faixa de Gaza. A repressão e até proibição de organizações pacíficas e de símbolos de solidariedade para com o povo palestiniano também eram condenadas, apelando-se aos Estados-Membros a anulação de tais decisões. Todas estas alterações foram rejeitadas com os votos do PS, PSD e CDS.

O pedido de uma «pausa humanitária», que foi aprovado também com o nosso voto, não apaga o conteúdo e insuficiência do texto, nem pode obliterar o facto de o PS, PSD e CDS terem votado contra o apelo a um cessar-fogo.

A resolução foi aprovada com os votos de PS, PSD, CDS e BE. O PCP votou contra.




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