Almoço em Alter do Chão confirma Partido que não fecha para férias
«Há os que falam, gritam, há os que aparentam discordâncias, e há o PCP, que procura soluções e propostas que respondem à vida das pessoas», frisou Paulo Raimundo, que, nesse sentido, sublinhou que «o País, os trabalhadores e o povo precisam de um PCP mais forte».
A propaganda e a ilusão confrontam-se com a vida dura de quem trabalha
Num almoço de casa cheia no sábado, 19, em Alter do Chão, o Secretário-geral comunista deu vários exemplos que distinguem o PCP dos demais partidos e criticou aspectos e denunciou consequências da política que os une, bem como os interesses que servem. Dirigindo-se à cerca de centena e meia de camaradas e amigos presentes, os quais nem o calor abrasador afastou da iniciativa política, Paulo Raimundo começou desde logo por salientar que este é «um Partido que não pára nem fecha para férias, assim como não vão de férias os problemas e a situação que enfrentamos».
Entre aqueles estão, com particular actualidade, a crescente perda do poder de compra por parte das camadas populares, a contrastar com a galopante a concentração da riqueza numa pequena minoria. «Uma situação em que se confrontam a propaganda, a ilusão e a vida dura de todos os dias», em que «se procura empurrar e determinar os assuntos em prol da agenda deste ou daquele».
Agenda, prosseguiu, que revela «desfaçatez, demagogia, consciência pesada e clareza nas opções de classe», como sucede no caso do «dito debate em torno dos impostos». E explicou: «PS, PSD IL e Chega votaram contra as nossas propostas de justiça fiscal, há cerca de um mês. Propostas que, a serem aprovadas, diminuíam os impostos sobre todos os trabalhadores e os reformados, que diminuíam o IVA na electricidade, gás e telecomunicações».
Claro como água
Ou seja, insistiu o Secretário-geral do PCP, «todos e a uma só voz votaram contra. E agora é ouvi-los, a todos e a cada um, parece que não se passou nada», revelando que se estão «nas tintas para os trabalhadores», que «o que querem, a reboque deste assunto, é garantir que os grupos económicos continuem a salvo». Doutro modo, teriam aprovado as propostas comunistas para «tributar os lucros dos grupos económicos, dos bancos, da energia».
Quanto aos objectivos, Paulo Raimundo acusou PS, PSD IL e Chega de, «a partir da afirmação de que há impostos a mais, esconder duas realidades: não são os impostos mas sim sobre quem recai de facto o maior peso desses, por isso propusemos alívio do IRS sobre os trabalhadores e reformados e o aumento da tributação sobre os lucros». Por outro lado, «a grande questão, a grande emergência nacional, é o aumento geral dos salários e das pensões» a um nível que «reponha o poder de compra perdido e acumulado». Ora, «sobre este assunto, ou nem um pio ou só generalidades», apontou.
No fundamental, o que pretendem «os centros do capital e os partidos ao seu serviço», são «mais benefícios fiscais para o grande capital e os seus lucros, iludir ou impedir o indispensável aumento dos salários, (…) reduzir as despesas do Estado, ou seja, cortar nos serviços públicos, na saúde, na educação, nos apoios sociais», reafirmou. Ou dito doutro modo, ainda, visam «garantir que no fim os grupos económicos paguem ainda menos impostos e, ao mesmo tempo, criar condições para que ganhem ainda mais com o negócio da saúde ou da educação, que o Estado deixaria de garantir a todos. Seria o capital a ganhar em todos os tabuleiros à custa dos salários, reformas e direitos sociais dos trabalhadores e do povo».
A injustiça fiscal só não é maior porque, «graças à força que tivemos entre 2016 e 2019, foi possível ir corrigindo a injustiça fiscal criada com o enorme aumento dos impostos decidido pelo governo PSD-CDS, partidos em que então se integravam actuais dirigentes da IL e do Chega», acusou também Paulo Raimundo, antes de realçar que «há os que falam, falam, gritam, gritam, há os que aparentam discordâncias, e há o PCP, que procura soluções e propostas que respondem à vida das pessoas».
Responsáveis, sim
Mas as responsabilidades dos executantes e acólitos da política de direita não se esgota nos impostos. «São os mesmos que, pela sua acção ou cumplicidade, hipocritamente vêm queixar-se de que os serviços não funcionam, mas são os primeiros a contribuir para a sua destruição».
São, continuou, «os mesmos que querem explicar tudo com a chamada produtividade, mas que desprezam a produção nacional», alertou o dirigente comunista. Socorrendo-se dos números divulgados pelo INE acerca da produção de cereais em Portugal, considerou, depois, que «a seca tem as costas largas. O que é um facto é que a área semeada já foi uma das menores de sempre. E isso não foi apenas por causa da seca. Os agricultores não lançaram as sementes à terra pelos elevadíssimos custos de produção, designadamente dos combustíveis, dos adubos, dos pesticidas, pela incapacidade do Governo de definir apoios claros e de garantir preços justos, por falta de planeamento que leva a que as melhores terras sejam ocupadas, não pelo que faz falta à alimentação do povo português, mas por culturas superintensivas, que ainda por cima exigem quantidades imensas de águas», explicou.
Outro exemplo de opções de classe que estão a ser pagas pela esmagadora maioria do povo, encontra-se na política de habitação, «questão que, face aos brutais aumentos dos juros, das prestações e das rendas, face à especulação dos preços, está a levar a que milhares estejam todos os dias a privar-se do possível e do impossível para aguentar o seu tecto, o seu lar».
«Este é um drama real», por isso, o Secretário-geral do Partido voltou a reivindicar «medidas urgentes e que tenham consequências efectivas na vida das pessoas», tais como «proteger a habitação de moradia; uma moratória de dois anos à semelhança do que houve no período da pandemia, para travar penhoras e despejos; um spread máximo de 0,25% a praticar pela CGD; pôr os lucros da banca a suportar o aumento das taxas de juro».
«Medidas e propostas que já apresentámos e que foram chumbadas. Mais uma vez, entre as dificuldades das famílias e os lucros da banca, PS, PSD, Chega e IL, optaram pela banca», denunciou.
Há alternativa
A terminar, Paulo Raimundo deixou palavras de esperança e determinação. Sendo certo que «quando o PCP tem mais força e influência, quem ganha são os trabalhadores, os reformados, os pensionistas, os jovens», então «o País, os trabalhadores e o povo precisam de um PCP mais forte».
Assim, o dirigente comunista apelou à «iniciativa e acção», ao «contacto com os outros e à mobilização para a luta de massas, a única que poderá determinar um rumo de progresso e justiça social».
«Esta é mesmo uma importante e empolgante tarefa das nossas vidas: a construção de uma outra política, de uma outra forma de viver, sem exploradores nem explorados. Porque, afinal de contas, não estamos condenados a uma realidade imutável, ela é transformável. E isso depende de todos nós, dos trabalhadores e do povo», concluiu.