Ryanair chantageia Açores
Decorre neste momento um braço de ferro (uma negociação, chamam-lhe) entre a Ryanair e os Açores. A dita «low-cost» está a chantagear os açorianos de uma forma muito simples: ou pagam mais, ou abandonamos a operação nos Açores. É uma chantagem que já realizou com sucesso em muitos outros destinos. Para intensificar a pressão «negocial» cortou a possibilidade de se fazer reservas nos voos para os Açores a partir deste Inverno.
O Governo Regional respondeu que não estava demasiado preocupado pois a TAP e a SATA Internacional garantem as ligações estratégicas se a Ryanair cumprir a ameaça. Mas continua a negociar. Veremos quantos milhões mais estarão dispostos a entregar à multinacional.
Mas algo deve desde já ser destacado. E se não houvesse TAP nem SATA Internacional? Estaria o Governo tão descansado? E exigiria a Ryanair «apenas» 15 euros por passageiro mais descontos nas taxas? Pois. O que deveria fazer brotar a pergunta seguinte: Mas o Governo Regional tem a SATA Internacional à venda e defende a venda da TAP. Quando depende delas para não cair nas mãos de uma chantagem, perdão, de um hábil e expedito homem de negócio.
Um jornal regional rapidamente veio explicar que a Ryanair transporta cerca de 200 mil passageiros/ano para os Açores, e que a 100 euros de receitas para a região por cabeça (estimativa do dito jornal) o apoio de 1,5 milhões antes dado ou o apoio agora pedido não era assim tão grande. Mais uma vez, é espantosa a velocidade com que se arranjam argumentos para entregar dinheiro público a grupos privados, ao mesmo tempo que esses argumentos não valem para as empresas públicas. Que no caso dos Açores transportam o grosso dos 1,2 milhões de passageiros que a Ilha recebeu em 2022. Por exemplo, nos últimos dois trimestres com estatística publicada, a Ryanair representou 10% e 15% dos passageiros chegados a Ponta Delgada, enquanto a TAP pesou 12% e 19%, a SATA Internacional 29% e 24%, e a SATA 42% e 43%.
E quer o Governo da República deixar o país inteiro sujeito a estas chantagens?