Jornada Mundial da Juventude

João Frazão

É impreterível juntar forças na construção de verdadeiras soluções para o País

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A realização, em Portugal, de uma iniciativa da dimensão e com os objectivos da Jornada Mundial da Juventude não pode deixar de motivar particular atenção do Partido.

A presença no nosso País de centenas de milhares de jovens, respondendo ao apelo da Igreja Católica, assumido por esta «como um convite a uma geração determinada em construir um mundo mais justo e solidário», pode constituir, para os que nela participam, uma oportunidade para a partilha desses valores.

Realidade tanto mais importante quanto a Jornada se realiza num quadro de agravamento da situação internacional com a escalada da guerra e das tensões, com o aprofundamento das injustiças e das desigualdades, com o aumento do êxodo de populações que fogem da miséria e da fome, com a degradação dos serviços públicos, a exploração desenfreada dos recursos pelas classes possidentes, com a consequente degradação do ambiente. E quando os participantes de todo o mundo encontrarão, também no nosso País, exemplos vivos de uma situação e de uma política que empurra os jovens portugueses cada vez mais para dificuldades crescentes.

A deslocação a Portugal de um tão largo número de representações de jovens de tantos países deveria permitir, assim fosse essa a intenção, dar visibilidade a todos os que sofrem às mãos das agressões do imperialismo, da Palestina à Síria, do Iémen à Líbia, à afirmação do direito dos povos à sua autodeterminação e a escolherem os seus caminhos, e à exigência do fim de todas as guerras, no Leste da Europa, no Médio Oriente, ou em África.

A Jornada deveria ainda contribuir para intensificar a mobilização da juventude em defesa do ambiente, atingido pelos interesses do grande capital na busca desenfreada pelo lucro e de afirmação da exigência da concretização dos direitos à educação com o reforço da escola pública, ao emprego estável e com direitos, à saúde, nas suas diversas componentes, à habitação digna para todos.

Esta Jornada Mundial da Juventude insere-se na acção do Papa Francisco e nas posições que vem expressando nas diversas Encíclicas, cujas formulações são expressão de avanços de sentido positivo da Doutrina Social da Igreja – a denúncia de «uma economia que mata», da exploração dos pobres, dos trabalhadores e da natureza e causa de alienação, de corrida aos armamentos e de guerra.

Perante as exigências que estão colocadas a um evento desta magnitude, ficam mais expostas debilidades existentes nos meios e a necessidade de serem tomadas todas as medidas para assegurar aos participantes na Jornada condições de alojamento e mobilidade, mas também às populações da região de Lisboa condições de vida e de trabalho durante esse período.

Alojamento, saúde, segurança, protecção civil, transportes, higiene urbana e limpeza, são aspetos concretos que não podem ser descurados. As dificuldades, os atrasos, o desconhecimento do planeamento, a falta de informação, introduzem dúvida, incerteza, receio e são geradoras de desconfiança junto da população.

Igualmente devem ser dadas todas as condições aos profissionais que vão estar directa ou indirectamente mobilizados para o serviço de apoio às diversas componentes da Jornada, (Forças de Segurança, Serviço de Saúde, Bombeiros, Serviços de Limpeza, entre outros), nomeadamente no plano da compensação salarial justa e do respeito por todos os seus direitos.

Em Portugal, e isso é ainda uma conquista de Abril, não existe uma «questão religiosa». Tal facto não escamoteia cumplicidades de classe que existem de sectores católicos com o grande capital, problemas de menos respeito pela laicidade do Estado e pela igualdade das confissões religiosas minoritárias, problemas de desrespeito pela dignidade dos crentes e de outros à guarda da igreja e outros fenómenos conexos – quadro que assume muitas e novas complexidades e impõe respostas humanistas.

A luta e a realidade do mundo de hoje tornam mais imperioso e urgente estar com os trabalhadores e o povo e «dar a mão» entre democratas e patriotas, comunistas e de outros opções políticas, católicos progressistas e outros crentes ou sem confissão religiosa, porque é impreterível juntar forças, na construção de verdadeiras soluções para o País, de uma política patriótica e de esquerda e de um Portugal soberano e desenvolvido, no caminho para firmar os valores de Abril, de liberdade, desenvolvimento e Paz, no futuro de Portugal.

 



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