Os exames preparam-nos melhor para a vida?

Catarina Menor

Uma avaliação regida por uma prova tão injusta como um exame não valoriza a aprendizagem e o esforço

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Quase 150 mil estudantes realizam Exames Nacionais para acesso ao Ensino Superior, durante os meses de Junho e de Julho. 150 mil estudantes que, no final, serão encaixados numa tabela de rankings por escolas que, como aquela que por estes dias veio a público, provará o que a JCP e o PCP têm afirmado desde sempre: os Exames Nacionais são injustos e agravam as desigualdades!

Enquanto se fala dos rankings e do novo modelo de acesso ao Ensino Superior que o Governo do PS aprovou no início deste mês, os estudantes questionam-se: será que os Exames Nacionais nos preparam melhor para a vida?

Olhamos para a escola e ao invés desta atender às especificidades, dificuldades e necessidades de cada um, com um ensino que tenha em conta as suas capacidades e condições objectivas, ao contrário de ser um espaço que estimule a criatividade, a pesquisa, o querer saber, é cada vez mais uma oficina de preparação para os exames, desvalorizando as diferenças que se assistem nas várias escolas por todo o País e entre os estudantes.

Põe-se em pé de igualdade os estudantes que estejam numa turma sobrelotada, onde não há professores (muitas das vezes em disciplinas que requerem exame), de uma escola sem as mínimas condições materiais de aprendizagem, onde falta a biblioteca ou um espaço de estudo adequado e aqueles cuja turma é mais reduzida, que permite ao professor esclarecer todas as dúvidas, de escolas com todas as condições, com computadores, livros ou projectores apropriados.

Compara-se um estudante que trabalha e não tem tempo para estudar (muito menos para ler, fazer desporto e descansar) e um que tem acesso a explicações, materiais de apoio e um ambiente sadio para o seu estudo.

Sem tempo para ensinar e aprender

Os exames desvalorizam o processo de aprender e de ensinar, tal como este deve ser considerado. Com um programa extenso para dar num curto espaço de tempo, os professores são obrigados a restringir-se ao manual, sem poder passar por outras fontes importantes de aprendizagem. Aspectos que deviam ter primazia na sala de aula, como a leitura, a escrita ou o debate, essenciais para fomentar a reflexão e espírito crítico perante o mundo que nos rodeia, são desvalorizados sob o pretexto de não haver tempo de cumprir o programa, de não ser essencial e de não preparar os estudantes para o exame.

Por exemplo, não é possível estudar a obra de Camões, Gil Vicente ou Saramago no seu mais amplo sentido, com toda a sua mensagem e papel que têm, ou devem ter, se, ao invés de olhar para o seu imenso valor, os estudantes se tiverem que dedicar quase exclusivamente com a sintaxe de uma frase ou com as figuras de estilo, com vista à preparação para perguntas-tipo de exames.

Tão pouco é possível estudar a Revolução de Abril e a sua importância no seu tempo, no presente e no futuro quando exigem que saibamos a que horas é que os tanques chegaram ao Largo do Carmo, porque pode sair no exame, mas não se pode discutir o contexto, as origens, a natureza do fascismo ou a luta popular.

 

Pela escola de Abril

Qualquer estudante sabe que a resposta à pergunta «será que os Exames Nacionais nos preparam melhor para a vida» é não!. Porque sabem que uma avaliação regida por uma prova tão injusta como um exame não valoriza a aprendizagem e o esforço, apenas promove o «marranço», o decorar a matéria para depois a esquecer, a ansiedade de fazer um teste que definirá o nosso futuro, ignorando inúmeros factores. Para além de acentuarem diferenças que vêm de trás.

A escola pública deve ser um sítio para aprender, falar, brincar e crescer. Um espaço em que os estudantes se sentem livres para ter a sua opinião e o seu sentido crítico é estimulado, onde podemos ler, desenhar, pintar, discutir e participar e não ter apenas um papel passivo e de escuta.

A escola de Abril tem de valorizar o trabalho e o esforço de todos ao longo do percurso de doze anos de ensino obrigatório e procurar formar integralmente todos os seus estudantes. Tem de valorizar verdadeiramente a avaliação contínua, de forma a enfrentar as dificuldades e especificidades de cada estudante.

Com ainda muito por cumprir, a juventude segue na luta pela escola que é sua por direito, pelo fim dos Exames Nacionais, por uma avaliação contínua e justa e pela escola de Abril.




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