Arrogância e ingerência
A passagem de Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, pela Assembleia da República (AR), órgão de soberania do Estado Português, ficou marcada pela profunda sobranceria com que interveio, proferindo afirmações e recomendações que são, em rigor, as de quem se sente à vontade no exercício do paternalismo pedante e da descarada ingerência. Na sua essência, a sua postura não se distingue do caminho de chantagem, ameaças e sanções que a União Europeia (UE) tem vindo a protagonizar contra diversos países e seus povos, lamentavelmente aplaudida na AR por aqueles que por mais de 30 anos permitiram sujeitar o País às imposições e condicionalidades da UE. Não contem com o PCP para essa postura de vassalagem e submissão, que sempre energicamente repudiámos e rejeitámos.
No discurso de Metsola estiveram ensurdecedoramente ausentes as responsabilidades da UE e das suas políticas no ataque a direitos sociais, nas consequências dos processos de liberalização de sectores estratégicos, no ataque a serviços públicos, no desrespeito da expressão da vontade dos povos (nomeadamente em referendos), nas intervenções da troika (incluindo em Portugal).
No entanto, não lhe faltou a estafada tese dos ditos «extremos», promovendo simultaneamente o anticomunismo e o branqueamento da extrema-direita. Metsola escamoteia que a extrema-direita apoia as políticas da UE que intensificam a exploração e alimentam desigualdades, o cariz xenófobo, letal e explorador das políticas migratórias, as agressões contra Estados soberanos ou a cumplicidade e o apoio dado a forças de cariz fascista na Ucrânia e à escalada de guerra neste país.
Aliás, a propósito da resposta que dirigiu ao PCP, preferiu ignorar o caminho de ilegalização do Partido Comunista Ucraniano iniciado em 2014, e mais recentemente de 11 partidos, banindo e ilegalizando as forças que se opõem à xenofobia, ao nazismo, à continuação e agravamento da guerra na Ucrânia, tornando a Verkhovna Rada, que entendeu visitar, num simulacro de Parlamento, onde «falar-se livremente» é uma impossibilidade.
Menos ainda se lhe ouviram quaisquer propostas que contribuam ou abram caminho para o aumento de salários e pensões, para o fim da precariedade, para o combate à especulação e aproveitamentos, para regular o mercado e fixar preços, para interromper o aumento das taxas de juros impostas pelo BCE e garantir o direito à habitação, para defender os serviços públicos de saúde e educação, para defender o controlo público de sectores estratégicos, para promover a produção nacional.
Se alguma coisa resultou claro desta intervenção, é que, de facto, estamos em lados opostos: o PCP está do lado da paz, da soberania e da cooperação, do progresso social; Metsola não.