Cimeira UE-CELAC: antevisão
Nos próximos dias 17 e 18 de Julho decorrerá, em Bruxelas, a terceira Cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia e da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caraíbas. No centro da agenda estará o reforço das relações birregionais entre ambos os lados do Atlântico.
Da parte da UE não será difícil adivinhar quais os objectivos concretos e quais os resultados que pretendem desta reunião.
Por um lado, avançar na concretização do chamado «Caminho 2023», apresentado no ano passado por Josep Borrell como «o redescobrimento» da América Latina e Caraíbas (ALC) pela UE. Esta caracterização, bem como subsequentes declarações de Borell, é bem demonstrativa de qual a natureza e objectivos do tal caminho.
Uma estratégia de natureza neocolonial, que visa a criação de novas dependências e que serve unicamente os interesses dos grandes grupos económicos da UE e da sua avidez de lucro, em detrimento dos trabalhadores e dos povos da ALC. O que a UE pretende, de forma pouco surpreendente, é abrir caminho para que as multinacionais europeias explorem e se apropriem dos recursos que só aos povos da ALC pertencem.
Pretendem fechar o mais rapidamente possível os processos de negociação e ratificação dos Acordos de Comércio Livre com a América Central, com o México, o Chile e em especial com o Mercosul. Com os prejuízos que sabem que esses acordos têm e virão a acentuar para os povos dos dois lados do Atlântico.
Mas, sobre os povos e os trabalhadores da ALC, nem uma palavra por parte dos responsáveis da UE.
Nem uma palavra ao resistente povo de Cuba que luta há mais de seis décadas contra um criminoso, desumano e ilegal bloqueio imposto pelos EUA, com o qual a UE tantas vezes compactua e cujos efeitos extraterritoriais nunca combateu.
Nem uma palavra quanto às sanções impostas pela UE contra o povo da Venezuela, nem sobre a ingerência externa também por ela promovida naquele país soberano.
Nem uma palavra sobre todos os processos de ingerência e desestabilização que os EUA, com a participação activa ou passiva da UE, têm promovido em muitos países da ALC como são exemplo o Brasil, a Nicarágua, a Bolívia, o Paraguai, as Honduras ou mais recentemente o Peru.
Mas, como até aqui, serão esses povos da ALC de que a UE não quer falar, a travar os seus nefastos intentos.
O povo, tal como no passado, estará nas ruas de Bruxelas a defender relações mutuamente vantajosas entre os Estados-Membros da UE e os países da ALC, baseadas no respeito pela soberania e independência sem ingerências externas, no cumprimento dos princípios da Carta das Nações Unidas. E o direito desses povos de escolher livremente o seu próprio caminho de desenvolvimento e progresso social.