Triste comédia
Não fossem trágicas as consequências e olhar-se-ia para o processo do novo aeroporto com aquela disposição de quem se recria na presença de uma qualquer comédia. Assim seria se, atendendo estritamente ao que de ridículo e jocoso está presente naquela expressão teatral, fossemos levados a perder de vista as motivações prevalecentes na condução de um processo orientado para beneficiar uma multinacional e desconsiderar o interesse nacional.
Sob comando da Vinci e dos seus interesses, aí temos um desfiar de manobras dilatórias. Entre infindáveis estudos de impacto ambiental, a sucessão de conciliábulos alinhados com o guião pré-definido, a criação de uma «comissão técnica» e a abertura de um leilão de localizações candidatáveis, prossegue com alargadas conivências a operação de negação ao país do direito a uma infraestrutura indispensável ao seu desenvolvimento.
Na charlatanice em curso ficámos a saber que à falta de uma localização, montou a 17 as localizações que concentrarão o laborioso escrutínio. Sempre se poderia dizer que não há fome que não dê em fartura, não se desse o caso de a resultante ser a de deixar o interesse nacional à mingua. Como se comprova!
Uns anos depois de ouvir Ulrich sentenciar o povo a «ai aguenta, aguenta», aí temos agora, vindo da comissão técnica, submersa que estará em dossiers e cansativas deslocações aos intermináveis locais passíveis de lá encaixar um aeródromo, o anúncio ao País que se contente com a Portela por mais 10 anos no pressuposto de que «aguenta os impactos», conclusão seguramente alicerçada no pressuposto de que se o povo aguenta, uma pista de aviação também.
No entretanto faz-se o caminho que a Vinci determina sob o olhar patrocinador de PS e PSD, o gáudio da doutrina liberal, libertando a multinacional de construir o novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete, privando o País dessa infraestrutura estratégica e de centenas de milhões de euros que vão para os bolsos da Vinci em vez dos cofres nacionais.