Ena pá, tanta massa!
Ferraz da Costa, o antigo «patrão dos patrões», que da frequência do colégio alemão à licenciatura em Finanças, da presidência da CIP aos 30 anos à direcção do Fórum para a Competitividade aos 70, nunca teve de «se fazer à vida», voltou à ribalta para proclamar que os «que não trabalham é porque não querem».
Segundo o empresário, brindado desde o berço com o desafogo, digamos assim, da família bem instalada nos negócios na área farmacêutica, os pobres não querem trabalhar porque os apoios sociais do Estado são de tal modo generosos que são «incentivos para não trabalhar». Um discurso bem sintonizado com a retórica do Iniciativa Liberal e do Chega, com quem se identifica, considerando que «são quem tem, neste momento, alguma vontade forte de querer mudar coisas».
Ferraz não disse, nem ninguém lhe perguntou, a quanto ascende o Rendimento Social de Inserção. Mas certamente não ignora que para um indivíduo sozinho o valor do RSI é de 189,66 euros, e que num agregado com mais um adulto e um menor os valores que cada um recebe são 132,76 euros (70% do RSI) e 94,83 euros (50% do RSI), respectivamente, o que dá a exorbitância de 417,25 euros por mês, ou seja 4,6 euros/pessoa/dia, valor não acumulável com qualquer outro rendimento. Tanta massa, convenhamos, e para sossego de Isabel Jonet, nem com muita imaginação dá para arrotar a bifes todos os dias.
Foi este senhor que Marcelo Rebelo de Sousa distinguiu com a Grã-Cruz, definindo-o como figura única da sociedade portuguesa, defensor da economia de mercado e de uma democracia de tipo ocidental, «duro, constante e leal, sempre olhando para o futuro ao longe, definindo um caminho sem se afastar dele». A extrema-direita agradece.