Prémio Camões entregue a Chico Buarque
O compositor, cantor e escritor brasileiro Chico Buarque recebeu, no dia 24, o Prémio Camões que lhe foi atribuído em 2019. A cerimónia de entrega do galardão realizou-se no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra, e contou com a presença, entre outros, dos chefes de estado português e brasileiro, Marcelo Rebelo de Sousa e Lula da Silva.
O músico e escritor, autor de músicas emblemáticas de crítica social, defesa da liberdade e contestação à ditadura, foi o vencedor da 31.º edição do Prémio Camões na sequência de uma decisão unânime do júri constituído por Manuel Frias Martins e Clara Rowland (Portugal), Antonio Cícero e Antonio Hohlfeldt (Brasil), Ana Paula Tavares (Angola) e Nataniel Ngomane (Moçambique). Na sua declaração o júri afirmou que a atribuição do Prémio Camões a Chico Buarque «reconhece o valor e o alcance de uma obra multifacetada, repartida entre poesia, drama e romance», um trabalho que «atravessou fronteiras e se mantém como uma referência fundamental da cultura e do mundo contemporâneo».
Na altura, Chico Buarque manifestou-se «muito feliz e honrado por seguir os passos de Raduan Nassar», o seu compatriota distinguido em 2016. No entanto, meses depois, o então presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deu a entender que não assinaria o diploma do Prémio Camões, cuja entrega formal estava prevista para Abril de 2020, em Portugal. Entretanto, a cerimónia de entrega do prémio acabou por ser adiada devido à epidemia da COVID-19, tendo sido remarcada para coincidir com as celebrações do 25 de Abril e com a visita de Estado de Lula da Silva a Portugal.
No discurso proferido, segunda-feira, na cerimónia, Chico Buarque revelou o reconforto que sentia por o ex-presidente brasileiro ter tido a «rara fineza de não sujar» o diploma do seu Prémio Camões, «deixando o seu espaço em branco para a assinatura do nosso Presidente Lula». Deixou ainda claro que «por mais que leia e fale de literatura, por mais que publique romances e contos, por mais que receba prémios literários”», gosta de ser reconhecido no Brasil «como compositor popular, e em Portugal como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim».
«Valeu a pena esperar por esta cerimónia, marcada não por acaso para a véspera do dia em que os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos», afirmou ainda: «No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda a parte», acrescentou.