«Fugas» no Pentágono

Ângelo Alves

Ficará conhecida como Pentagon Leaks a suposta fuga de informações «secretas» para a Discord, uma rede social de gamers, usada pela extrema-direita e militares, e posteriormente, para o Whatsapp e o Twitter. Segundo as notícias, trata-se de dezenas de páginas, senão mais de cem, que teriam sido fotografadas na cozinha de Jack Teixeira, um jovem aviador de primeira classe da Guarda Nacional Aérea, a terceira patente mais baixa na força aérea dos EUA, que se alistou em Setembro de 2019 e que, espantosamente, teria autorização para acesso a documentos ultra-secretos desde 2022.

E a pergunta é inevitável: por que raio um jovem aviador, com três anos de serviço, teria acesso a documentos ultra-secretos, produzidos por diferentes agências e departamentos de inteligência e espionagem, militares e civis, documentos que, segundo as mais básicas regras de protecção de informação, só «se encontram» quando entregues a oficiais de topo ou responsáveis políticos. E mais, como é possível que nenhuma das 17 agências de segurança e espionagem dos EUA se tenha apercebido que tais documentos foram impressos, fotografados e estiveram na Internet pelo menos três meses?

Provavelmente nunca saberemos a origem da «fuga», quem a decidiu e realizou. Olhando para os conteúdos arriscamos duas conclusões. A primeira é que não nos trazem novidades. Há muito que se sabia que os EUA, Reino Unido e vários países europeus estão envolvidos directamente na guerra na Ucrânia; que os EUA espiam os seus inimigos, os seus «aliados» e a ONU; que o discurso triunfalista de Biden e Zelensky sobre a imparável contra-ofensiva da Primavera está longe da realidade; e que os EUA estão muito preocupados com o comportamento de vários países, nomeadamente do Médio Oriente, que recusam ser arrastados para a sua estratégia de confrontação e guerra.

Restam, portanto, duas hipóteses, não contraditórias. As contradições nos EUA relativamente à guerra na Ucrânia estão a aumentar face a reais dificuldades. As «fugas» podem servir ou para naturalizar o envolvimento directo do «Ocidente» na guerra e justificar novos passos ou para preparar o campo para recuos. Uma coisa é certa, até já o Pentágono confirma o que o PCP afirma: são os EUA que conduzem esta guerra.




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