Mil razões para a luta da juventude

Francisco Araújo

Por estes dias milhares de jovens, estudantes e trabalhadores, estarão em luta pelos seus direitos

«Resignados», «apáticos», «desinteressados de politiquices», «aparentemente confortáveis» e «submissos». É assim que comentadores e peões do grande capital descrevem repetidamente a juventude. Nada mais errado, mais uma profecia que não se confirma, e estes dias mostram-no bem.

O 24 de Março e o 28 de Março, dias nacionais do Estudante e da Juventude, respectivamente, muitos anos volvidos das acções juvenis que, durante o fascismo, lhes deram origem, continuam reservados à luta nas agendas de milhares de jovens, para infortúnio dos que, do PS à direita, tanto gostariam de confinar esta data a qualquer museu ou cerimónia solene.

Em boa verdade, os estudantes não ficam à espera e lutam todos os dias, como já este ano aconteceu com a exigência de obras na ES de Amares, no distrito de Braga, ou na ES António Gedeão, em Almada, com a denúncia do encerramento da cantina do Crasto, na Universidade de Aveiro, e no Conservatório Nacional de Lisboa com a exigência de estudar e ensaiar em espaços dignos e nunca em tendas improvisadas.

A luta continua e destaca-se, por estes dias, a resposta ao apelo do Movimento Voz aos Estudantes com protestos, concentrações, afixação de faixas, entrega de abaixos-assinados ou apitões anunciados em cerca de duas dezenas de escolas básicas e secundárias de todo o País ao longo desta semana, com reivindicações desde a contratação de professores, funcionários e psicólogos, ao fim dos exames nacionais. Os estudantes do Ensino Superior antecipam para hoje, 23, um dia de luta nacional com acções em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Aveiro, Algarve, Évora e Castelo Branco, numa jornada que conta com o envolvimento de mais de duas dezenas de associações de estudantes e académicas, para além de muitos outros núcleos ou tunas. Exigem a gratuitidade do Ensino Superior, o reforço da Acção Social Escolar, democracia nas Instituições.

Lutas que crescem na medida em que olham para os exemplos de vitórias alcançadas na ES Alexandre Herculano, com a realização de obras, nas Escolas Secundárias de Oeiras, com a derrota de um calendário semestral que limitava períodos de avaliação ou na Escola Profissional Profitecla, no Porto, em que o regime punitivo de faltas foi aliviado.

Os jovens portugueses não são, nem poderiam ser, indiferentes ao sentimento de indignação e protesto que percorre a sociedade portuguesa, face às injustiças crescentes a cada dia e à inacção e cumplicidade do Governo do PS. Sobram razões também aos jovens trabalhadores para prosseguir e intensificar a sua luta. Depois da massiva presença na manifestação nacional da CGTP-IN de 18 de Março, já no dia 28, na Manifestação Nacional da Juventude Trabalhadora, convocada pela Interjovem/CGTP-IN, exigirão respostas para os seus problemas – o salário que é baixo e obriga a emigrar, a incerteza da precariedade que compromete os planos de futuro, as rendas que impossibilitam a emancipação, os horários desregulados que roubam uma vida cheia.

Uma luta que é tão grande e diversa como a ofensiva ideológica que enfrenta, todos os dias nas TV e escolas, bem palpável na perseguição de dirigentes sindicais ou mesmo trabalhadores sindicalizados em tantas empresas ou nas chamadas à direcção da escolas e ameaças aos «pequenos subversivos e agitadores», que mais não fazem do que defender a sua escola. Em tanta acção importa, ainda, destacar o papel militante dos milhares de activistas da JCP. Enquanto expressão do movimento juvenil são também os jovens comunistas que se envolvem, articulam e organizam com todos aqueles que aspiram a uma vida melhor.

O que é certo é que, nestes dias, milhares de jovens estarão, pela primeira vez, em luta mobilizados por qualquer uma das mil razões ou mil problemas. E, seguramente, muitos serão os que iniciam aqui uma vida de luta e de lutas. «São os imprescindíveis».




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