Na rua e nas escolas a luta não vai parar
Com muito forte participação, não obstante a imposição de serviços mínimos, professores e educadores fizeram greve nos dias 2 (distritos do norte e centro) e 3 (centro e sul), encheram as ruas centrais de Lisboa e do Porto, no dia 4, mantêm o protesto visível, nos estabelecimentos de ensino ou em locais visitados por governantes, e muitos estarão hoje a acompanhar, na rua, a negociação suplementar no Ministério da Educação.
A desvalorização da profissão docente ataca a própria Escola Pública
Perante os muitos milhares de professores que, na tarde de sábado, dia 4, se reuniram junto da Assembleia da República, no final de uma grande manifestação iniciada no Rossio, o Secretário-geral da Fenprof assegurou que «a luta não vai parar», apesar dos obstáculos que continuam a ser-lhe colocados.
À mesma hora, no Porto, outra grande manifestação enchia o percurso entre a Praça do Marquês e a Avenida dos Aliados.
Falando em nome das nove estruturas sindicais que promoveram o protesto e que estão em convergência nas negociações com o Governo e no programa de lutas, Mário Nogueira disse que «a indignação cresce e os professores sentem cada vez mais que a luta tem de continuar», frisando que «não vão conseguir submeter» estes «profissionais de liberdade», que «estão a ensinar cidadania aos seus alunos».
A fase suplementar da negociação com o ME, requerida pelos sindicatos e agendada para hoje, a partir das 10h30, representa «a última oportunidade para o Governo chegar a acordo» com os representantes dos docentes. No entanto, como acusou Mário Nogueira, a posição terá de ser muito diferente do que foram as «aproximações» elogiadas pelo ministro e desmontadas em alguns exemplos:
– o aumento do número de QZP (quadros de zonas pedagógicas) foi proposto pelo ME, como reivindicado pelos sindicatos, mas surge um limite (QZP adjacentes) a permitir que um professor seja colocado a 150 quilómetros de onde mora, e a impedir que outro professor, deslocado para muito longe, concorra para a área da sua residência;
– sendo positiva a vinculação de dez mil professores contratados, há mais de cinco mil que ficam de fora, embora com os mesmos anos de serviço (por não terem o contrato activo no último dia de 2022); no primeiro ano, ficam no QZP do estabelecimento onde estão contratados, mas no ano seguinte têm de concorrer a nível nacional;
– aos condenados «conselhos locais de directores» é mudado o nome, mantendo-se a composição e a atribuição de distribuir serviço e elaborar os «horários compostos».
O Secretário-geral da Fenprof sublinhou que «a vida dos professores não se faz só de concursos», matéria a que o ME tem limitado as negociações, enquanto os sindicatos persistem em discutir também outros problemas – como a contagem integral do tempo de serviço, o fim das vagas e das quotas, a aposentação, os horários de trabalho, a carga burocrática, a mobilidade por doença –, que são determinantes para a valorização da profissão docente e o aumento da sua atractividade e rejuvenescimento.
«Um alerta» para o perigo de manter a actual situação, como referiu o dirigente, foi o facto de, na área de Físico-Química, estarem 580 professores à beira da aposentação, mas apenas três docentes terem chegado à profissão docente este ano.
Haverá mais
Se o Governo continuar a não dar respostas às reivindicações, «haverá mais lutas dos professores, dos não docentes e de todos os trabalhadores», afirmou a Secretária-geral da CGTP-IN, em declarações aos jornalistas, dia 4, em Lisboa. Isabel Camarinha integrou, com Andrea Araújo e Fernando Gomes, membros da Comissão Executiva, a delegação da Inter que, em expressão de solidariedade, participou na manifestação.
PCP apoia luta justa
«Estamos aqui para manifestar a nossa solidariedade, o nosso apoio a uma luta que é justa, em torno de reivindicações que há muito andam em cima da mesa das negociações e para as quais o Governo não tem dado soluções», afirmou Jorge Pires, admitindo que, «enquanto isto acontecer, estas jornadas de luta irão manter-se».
Num depoimento durante a manifestação em Lisboa, o responsável pela área da Educação na Comissão Política do Comité Central do PCP assinalou que «temos assistido a uma desvalorização social, a uma desvalorização profissional, a uma desvalorização salarial dos professores e dos educadores», considerando que esta «é uma estratégia que o Governo tem utilizado para a desvalorização da escola pública».
Nas manifestações de dia 4 e na luta dos docentes, salientou, «o que está em causa não são apenas as questões sócio-laborais, que dizem respeito aos professores e aos educadores, é a existência da Escola Pública tal como a defendemos, tal como está consagrada constitucionalmente».
Da delegação do PCP que saudou a manifestação fizeram também parte Paula Santos, membro da Comissão Política do CC e deputada, e Teresa Chaveiro, do Comité Central do Partido.