Custo de vida reclama aumento dos salários e pensões e freio na especulação
O aumento dos salários e pensões a par do controlo e regulação dos preços de produtos e serviços essenciais constituem medidas inadiáveis para fazer face às dificuldades crescentes da população. Há milhares de pessoas já privadas de aceder a bens como a comida, alerta o PCP.
Tudo aumenta menos os salários e pensões
«Ter mais do que uma refeição quente por dia, infelizmente, não é possível para todas as pessoas», lamentou a presidente do Grupo Parlamentar do PCP, resumindo dessa forma a realidade de proporções dramáticas que atinge amplas camadas da população, muito em particular os trabalhadores e os reformados e pensionistas.
Os factos assim o demonstram e não permitem outra interpretação: «em média, os lacticínios aumentaram mais de 25%, as frutas e legumes mais de 30%, a carne e o peixe mais de 20%, em comparação com o período homólogo», apontou Paula Santos, que levou o assunto a debate no dia 1 em declaração política em nome da sua bancada.
Descrevendo mais pormenorizadamente esse quadro com que hoje se confrontam as famílias, sobretudo as de mais baixos rendimentos, a parlamentar comunista lembrou os aumentos verificados na energia e nas telecomunicações, assim como na habitação. Quanto a esta, face aos elevados preços praticados na venda e arrendamento, o que temos é mesmo um «obstáculo» para a ela aceder, disse Paula Santos, observando que as dores de cabeça não são menores para quem tem casa, atendendo aos aumentos «absolutamente insuportáveis» dos prestação mensal do crédito bancário.
Como se tudo isto não bastasse, à inflação de 2022 acresce a inflação deste ano, cujo valor ascende já a 8,1%, «a maior das últimas décadas», realçou a parlamentar do PCP, vendo aqui «um novo e brutal aumento dos preços».
Lucros versus pobreza
Verdadeiramente chocante é, entretanto, o contraste entre as dificuldades sentidas pela generalidade dos portugueses, que sentem na pele a vida cada vez mais cara - em que «tudo aumenta e só os salários é que ficam para trás» -, e a abastança dos grupos económicos que fazem crescer os lucros para níveis estratosféricos (ver caixa).
«O que falta no bolso dos trabalhadores e dos reformados, sobra no bolso dos grupos económicos», censurou Paula Santos, antes de acusar estes últimos de «aproveitamento» da guerra e da inflação e o Governo PS e partidos à sua direita de serem coniventes com a situação por não quererem confrontar os interesses daqueles grupos «nem beliscar os seus lucros».
A reter da declaração política da bancada comunista ficou ainda de modo assertivo a sua recusa à ideia de que o País possa estar condenado a «uma política de exploração e empobrecimento». Dando como exemplo o travão imposto à política do período da troika pela acção e luta dos trabalhadores e do povo, Paula Santos reafirmou que será essa luta contra as crescentes injustiças e desigualdades, por uma vida com dignidade, envolvendo trabalhadores, reformados, imigrantes, jovens, mulheres, que será «determinante para romper com este caminho», e construir «uma política alternativa».
Uma luta que no imediato se afirma na exigência de aumentos de salários e pensões, na imposição de um controlo e regulação dos preços que estanque os aumentos de bens e serviços essenciais, no combate firme à especulação e contra o favorecimento dos interesses dos grupos económicos, pelo incentivo à produção nacional e pelo reforço e qualidade dos serviços públicos.
Por um aumento intercalar das pensões
Anunciado por Paula Santos, no mesmo dia em que fez a declaração política, foi a entrega no Parlamento de uma proposta para o aumento intercalar das pensões, com efeitos imediatos, em 9,1%, num valor mínimo de 60 euros.
Com esta valorização de todas as pensões, uma medida que considera da mais elementar justiça, o PCP pretende combater a degradação das condições de vida dos reformados, pensionistas e idosos e «dar expressão mais efectiva à recuperação de rendimentos e direitos».
Como é salientado no preâmbulo do projecto de resolução comunista, as situações de pobreza entre estas camadas da população têm vindo a agravar-se, devido ao valores muito baixos das suas pensões, incompatíveis com o acesso a «uma alimentação cuidada» e o assegurar do pagamento das despesas essenciais, como a habitação, a electricidade, o gás ou os medicamentos.
«São pessoas que trabalharam uma vida inteira e que merecem ver a elevação das suas condições de vida e, especialmente, merecem viver com dignidade», sublinham os deputados comunistas na recomendação ao Governo, na qual lembram que o valor médio da pensão de velhice do regime contributivo foi em Dezembro de 2021 de 508,63 euros.
Contraste chocante
Nunca é demais lembrar o gigantesco fosso que separa, por um lado, aqueles cujos rendimentos advêm do seu salário ou da sua reforma ou pensão – insuficientes para fazer face ao custo de vida -, e, por outro lado, os grupos económicos, que acumulam lucros colossais.
E foi o que fez a líder parlamentar comunista ao trazer de novo para primeiro plano esse ultrajante contraste entre as condições de vida dos trabalhadores e do povo, a suportarem um quadro em que «tudo aumenta, só os salários é que ficam para trás», e esses lucros gigantescos de sectores como a energia, a banca ou a grande distribuição.
Os números têm vindo a lume e dispensam comentários:
«A GALP obteve lucros recorde de 881 milhões de euros.
A EDP renováveis obteve 681 milhões de euros de lucro.
Os lucros da Sonae e da Jerónimo Martins nos primeiros nove meses de 2022 aumentaram mais de 30%.
As seguradoras aumentaram os seus lucros em 39%, para 900 milhões de euros.
O Banco Santander duplica o lucro para 568 milhões de euros.
Os lucros do BPI aumentam em 50% para 207 milhões de euros».
Certeiras foram, pois, as palavras de Paula Santos quando afirmou: «o que falta no bolso dos trabalhadores e dos reformados, sobra no bolso dos grupos económicos» e «só não vê quem não quer».