Novo ano política velha
Enquanto uns se entretêm e nos procuram entreter com os seus arrufos e aparentes discordâncias e altas discussões de semântica, a imensa maioria confronta-se com a realidade de todos os dias.
A azáfama que por aí semeiam na vertigem de casos atrás de casos, de entrada e saída de ministros, de gritaria e outros expedientes, da correria para ver quem assume mais e mais rapidamente protagonismo e centra o foco mediático, de acusações ocas, de horas a fio de político-novelas, com comentadores e comentaristas a acotovelarem-se, não é bastante para apagar a dura realidade.
Essa realidade que marca a vida de todos os dias de quem trabalha ou trabalhou uma vida inteira evidencia a profunda contradição entre um país que procuram pintar e as cores que realmente tem.
Agravamento das condições de vida dos trabalhadores e da população, ausência de resposta do Governo com o agrado e aplauso de quem o suporta e beneficia com as suas opções políticas. É isto que marca a realidade, é sobre isto que importa intervir e construir caminhos que respondam aos problemas e não perder tempo com lateralidades que apenas nos fazem perder tempo.
Tal como se sublinha na tomada de posição do PCP no passado dia 2, perante o aumento do custo de vida e a escalada de preços, a perda real e significativa de poder de compra dos trabalhadores e do povo, e a injusta acumulação de lucros potenciada pelo aproveitamento especulativo por parte dos principais grupos económicos, o que se impõe?
Perante as já anunciadas subidas de preços dos bens e serviços essenciais, agravando ainda mais as consequências na vida da generalidade da população, sem que os salários e as pensões as acompanhassem, o que fazer?
Perante o crescimento dos custos com a habitação, designadamente com a incomportável subida das prestações com empréstimos para aquisição de habitação própria, decorrente do brutal aumento das taxas de juro impostas pelo Banco Central Europeu, com impacto em centenas ou mesmo milhares de euros na vida de mais de um milhão de famílias ao longo de 2023, qual a opção?
Perante a realidade que é esta, o que se impõe são medidas que enfrentem os problemas, o que é preciso é aumentar os salários e as pensões, regular os preços dos combustíveis, da energia, dos bens alimentares e outros serviços essenciais, mas também das telecomunicações, dos serviços bancários, das rendas de casa, das taxas de juros praticadas nos empréstimos à habitação.
Esta é a opção a seguir, e não os caminhos de continuar a alimentar os lucros dos grupos económicos, como o Governo fez por exemplo a partir de 1 de Janeiro com a entrega directa às concessionárias de 140 milhões de euros, aos quais se somam 1,4 mil milhões de euros já pagos pelos trabalhadores e as populações, mas também por milhares de pequenas e médias empresas que todos os dias utilizam as autoestradas nacionais e as pontes 25 de Abril e Vasco da Gama.
E perante toda esta situação o que fazem os aguadeiros de serviço? Gritam pela privatização da TAP com o mesmo desplante com que se calam perante mais esta opção do Governo ou sobre o contraste que existe de critérios dos grupos privados nas remunerações de gestores e as regras para os trabalhadores, para não falar do enternecedor silêncio pela profunda injustiça na distribuição da riqueza criada.
António Costa afirmou há dias que não interessa quem são os ministros, o que interessa é a política que se desenvolve. Estamos de acordo e é aí mesmo que está o mal. É que a estabilidade desta política e das suas opções de fundo (que há quem queira acelerar) torna a vida de milhões profundamente instável.
É este rumo prosseguido pelo Governo do PS, e que PSD, CDS, Chega e IL querem ver intensificado, que precisa de ser censurado e rejeitado. O que se impõe é mudar de política e abrir caminho à política patriótica e de esquerda que serve aos trabalhadores, ao povo e ao País.
A alternativa urgente, construída com e para os que dela necessitam, uma opção que exige a ruptura com o rumo em curso e a denúncia dos seus responsáveis e dos que dela beneficiam.
A alternativa que exige um contacto permanente com os seus interessados, tal como está o Partido a fazer e terá que alargar.
Ir para junto das massas, dos trabalhadores e do povo, é este o caminho a intensificar.
Tal como fez na passada terça-feira o Secretário-geral com os trabalhadores da Exide, tal como está hoje mesmo a fazer numa acção sobre a soberania alimentar em Elvas, tal como fará amanhã na empresa FRISMAG.
Este contacto permanente, esta intervenção em torno da realidade, este ânimo e alento à justa luta e acção das vítimas da política velha e de direita, este caminho de reforço do Partido e da sua ligação às massas, constroem todos os dias a base da alternativa política.