Natal de forte luta no sector do comércio
Várias lojas estiveram encerradas e muitas outras abriram com número insuficiente de trabalhadores na véspera de Natal, devido à greve convocada pelo CESP exigindo aumentos de salários, condições dignas e negociação colectiva.
A greve afectou lojas e hipermecados em todo o País
A greve de 24 de Dezembro no sector do comércio provocou o encerramento de várias lojas e fortes perturbações em muitas outras. Em declarações à Lusa no próprio dia da paralisação, a dirigente do Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços (CESP), Célia Lopes, informou que «muitas lojas do Minipreço não abriram», a Loja H&M do Chiado (com quatro pisos) «estava a funcionar apenas com cinco trabalhadores» e a loja da Zara em Castelo Branco «não abriu por falta de trabalhadores».
Registou-se ainda «uma adesão muito significativa dos trabalhadores nos hipermercados, com encerramento de balcões, com grandes filas de clientes, porque temos adesões superiores a 50% em alguns locais». Remetendo para mais tarde uma avaliação global da jornada, Célia Lopes estimou uma adesão entre os 30% e os 70%, explicando que o facto de se tratar da véspera de Natal e de as lojas fecharem mais cedo, fez com que houvesse menos trabalhadores escalados.
Considerando que os objectivos da greve foram «seguramente atingidos», a dirigente sindical lembrou que os trabalhadores do sector viram, nos últimos anos, «os seus salários e carreiras profissionais absorvidos pelo valor do salário mínimo. Há algum tempo que dizíamos que no comércio havia muita precariedade e muito baixo salário e esta realidade, hoje, é cada vez mais transversal». Célia Lopes deu exemplos de trabalhadores «com 20, 25 anos de casa, quer no dito comércio tradicional quer nas cadeias de distribuição alimentar e não alimentar», que recebem apenas 20 euros acima do salário mínimo que entrará em vigor daqui a dias.
Em Lisboa, numa acção pública realizada pelo CESP, o deputado do PCP Duarte Alves manifestou o apoio dos comunistas à luta dos trabalhadores do comércio.
Travar a exploração
No comunicado em que dava a conhecer as razões da greve, divulgado no dia 22, o CESP sublinhava a realidade destes trabalhadores: baixos salários, horários incompatíveis com a vida pessoal, pressão e repressão no local de trabalho.
«De crise em crise – lê-se na nota – os trabalhadores vão perdendo qualidade de vida. Agora é a inflação, incidida sobretudo em bens essenciais e na energia, que tem feito desvalorizar os já baixos salários de quem trabalha no comércio. Estes trabalhadores diariamente colocam as etiquetas com o aumento dos preços, mas não vêem aumentos nos recibos de vencimento ao final do mês, e lêem nos jornais os lucros recorde das empresas. A inflação é real, mas como tantas outras crises, é mais uma forma de transferir o dinheiro criado pelos trabalhadores para a fortuna dos patrões.»
Acusando as associações patronais de não respeitarem os trabalhadores do sector, o sindicato da CGTP-IN definiu quatro grandes reivindicações para a paralisação: aumento dos salários de todos os trabalhadores; valorização das carreiras profissionais, negociação dos contratos colectivos de trabalho e tempo para a vida pessoal e familiar.