Corrupção, inflação e a culpa dos outros
A última sessão plenária do ano ficou marcada pelo debate em torno do caso «Qatargate» e das suspeitas de corrupção que envolvem Eva Kaili, à data das acusações deputada grega do PASOK e vice-presidente do Parlamento Europeu (PE), do grupo Socialistas e Democratas. A comprovarem-se as alegações de corrupção, tal comportamento só pode ser repudiado!
Mas distanciamo-nos daqueles que, como a maioria do PE e a sua presidente, querem fazer crer que os casos de corrupção se limitam à «interferência estrangeira», numa manobra que pretende passar por cima do papel que a institucionalização dos lóbis tem nas instituições da União Europeia (UE) e da promiscuidade entre o poder económico e o poder político que lhe está subjacente.
Perante o escândalo «Qatargate», o debate sobre «Fazer face ao custo de vida: aumento dos salários, tributação dos lucros, fim da especulação» quase passou despercebido. Pelo menos para a direita, que pouco participou e esteve quase ausente do hemiciclo. O aumento do custo de vida que os trabalhadores e os povos estão a sentir não é, para alguns, suficientemente mobilizador.
Os deputados do PCP no PE lá estiveram, a defender o aumento dos salários e das pensões como uma emergência para fazer face ao constante e gravoso aumento do custo de vida, para dinamizar a economia, promovendo o emprego com direitos e uma mais justa redistribuição da riqueza produzida. Para o comissário Paolo Gentiloni, as causas para este aumento do custo de vida não se encontram nas políticas desastrosas da UE e muito menos nas sanções. A culpa é da guerra e da Rússia!
E as respostas da UE limitam-se à conhecida cartilha: a Diretiva dos Salários Mínimos (que, em Portugal, não terá nenhum impacto positivo e, comprovando-o, os trabalhadores que auferem o salário mínimo nacional não conseguem enfrentar o custo de vida); o plano energético RePower (que está longe de responder às necessidades dos povos, de garantir a equidade socioeconómica e de respeitar a soberania dos Estados); ou o aumento da competitividade europeia (que, entenda-se, não pode agora aumentar salários para não enfraquecer face à China).
Também no debate sobre «a Garantia para a Infância», os deputados do PCP alertaram para o facto de a sua aplicação nos Estados-Membros já permitir conclusões: os meios alocados não chegam sequer para compensar a perda de rendimentos familiares devido ao surto inflacionário, às consequências das sanções e da guerra. Se o objectivo de retirar cinco milhões de crianças da pobreza for para levar a sério, é necessário o reforço de financiamento da dita Garantia acompanhado de medidas estruturais como o trabalho com direitos dos pais e cuidadores, remunerações dignas e tempo para as crianças. É por isso que continuaremos a lutar!