Corrupção, inflação e a culpa dos outros

Sandra Pereira

A úl­tima sessão ple­nária do ano ficou mar­cada pelo de­bate em torno do caso «Qa­tar­gate» e das sus­peitas de cor­rupção que en­volvem Eva Kaili, à data das acu­sa­ções de­pu­tada grega do PASOK e vice-pre­si­dente do Par­la­mento Eu­ropeu (PE), do grupo So­ci­a­listas e De­mo­cratas. A com­pro­varem-se as ale­ga­ções de cor­rupção, tal com­por­ta­mento só pode ser re­pu­diado!

Mas dis­tan­ciamo-nos da­queles que, como a mai­oria do PE e a sua pre­si­dente, querem fazer crer que os casos de cor­rupção se li­mitam à «in­ter­fe­rência es­tran­geira», numa ma­nobra que pre­tende passar por cima do papel que a ins­ti­tu­ci­o­na­li­zação dos lóbis tem nas ins­ti­tui­ções da União Eu­ro­peia (UE) e da pro­mis­cui­dade entre o poder eco­nó­mico e o poder po­lí­tico que lhe está sub­ja­cente.

Pe­rante o es­cân­dalo «Qa­tar­gate», o de­bate sobre «Fazer face ao custo de vida: au­mento dos sa­lá­rios, tri­bu­tação dos lu­cros, fim da es­pe­cu­lação» quase passou des­per­ce­bido. Pelo menos para a di­reita, que pouco par­ti­cipou e es­teve quase au­sente do he­mi­ciclo. O au­mento do custo de vida que os tra­ba­lha­dores e os povos estão a sentir não é, para al­guns, su­fi­ci­en­te­mente mo­bi­li­zador.

Os de­pu­tados do PCP no PE lá es­ti­veram, a de­fender o au­mento dos sa­lá­rios e das pen­sões como uma emer­gência para fazer face ao cons­tante e gra­voso au­mento do custo de vida, para di­na­mizar a eco­nomia, pro­mo­vendo o em­prego com di­reitos e uma mais justa re­dis­tri­buição da ri­queza pro­du­zida. Para o co­mis­sário Paolo Gen­ti­loni, as causas para este au­mento do custo de vida não se en­con­tram nas po­lí­ticas de­sas­trosas da UE e muito menos nas san­ções. A culpa é da guerra e da Rússia!

E as res­postas da UE li­mitam-se à co­nhe­cida car­tilha: a Di­re­tiva dos Sa­lá­rios Mí­nimos (que, em Por­tugal, não terá ne­nhum im­pacto po­si­tivo e, com­pro­vando-o, os tra­ba­lha­dores que au­ferem o sa­lário mí­nimo na­ci­onal não con­se­guem en­frentar o custo de vida); o plano ener­gé­tico Re­Power (que está longe de res­ponder às ne­ces­si­dades dos povos, de ga­rantir a equi­dade so­ci­o­e­co­nó­mica e de res­peitar a so­be­rania dos Es­tados); ou o au­mento da com­pe­ti­ti­vi­dade eu­ro­peia (que, en­tenda-se, não pode agora au­mentar sa­lá­rios para não en­fra­quecer face à China).

Também no de­bate sobre «a Ga­rantia para a In­fância», os de­pu­tados do PCP aler­taram para o facto de a sua apli­cação nos Es­tados-Mem­bros já per­mitir con­clu­sões: os meios alo­cados não chegam se­quer para com­pensar a perda de ren­di­mentos fa­mi­li­ares de­vido ao surto in­fla­ci­o­nário, às con­sequên­cias das san­ções e da guerra. Se o ob­jec­tivo de re­tirar cinco mi­lhões de cri­anças da po­breza for para levar a sério, é ne­ces­sário o re­forço de fi­nan­ci­a­mento da dita Ga­rantia acom­pa­nhado de me­didas es­tru­tu­rais como o tra­balho com di­reitos dos pais e cui­da­dores, re­mu­ne­ra­ções dignas e tempo para as cri­anças. É por isso que con­ti­nu­a­remos a lutar!




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