O que é estratégico tem de ser público
O controlo público de empresas e sectores estratégicos é um dos elementos centrais da política patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao País, pelo que pode representar no incremento da produção nacional, na planificação democrática do desenvolvimento económico, na valorização dos trabalhadores e na própria coesão nacional. Os casos dos CTT e da Galp estiveram em debate em duas sessões em que participou o Secretário-geral do Partido, Paulo Raimundo.
Sucessivos governos são culpados pelos prejuízos causados pelas privatizações
Anteontem, ao final da tarde, em Sines, decorreu uma audição pública que foi «um verdadeiro julgamento da privatização da Petrogal», como começou por dizer no encerramento o Secretário-geral do PCP. Antes deste, da mesa e da plateia, vários testemunhos sustentaram o escrutínio e condenação do processo desenvolvido durante décadas.
Hélder Guerreiro, da Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal, e Demétrio Alves, salientaram os benefícios para os trabalhadores (nos direitos, nos salários, na estabilidade dos vínculos contratuais) e para o País, decorrentes da nacionalização e desenvolvimento (técnico, produtivo) da empresa pública durante e após a Revolução de Abril. Em contraste com o que vem acontecendo pela mão de diversos responsáveis governativos que a entregaram a vários accionistas, culminando no actual domínio da Galp pelo Grupo Amorim.
E só não se foi mais longe porque os trabalhadores nunca abandonaram a luta em defesa das convenções colectivas, há anos sob fogo cerrado do patronato, nem de uma unidade produtiva absolutamente central, não apenas na soberania energética de Portugal mas, igualmente, na produção de sub-produtos dos combustíveis fósseis, assinalaram.
João Pimenta Lopes, deputado do PCP no Parlamento Europeu que, com Sandra Pereira, se encontrava no Litoral Alentejano em jornadas de contacto (cujas abordaremos na próxima edição), denunciou «a dimensão obscena dos lucros da GALP e de outros operadores do sector na Europa, tão obscenos que já nem a Comissão Europeia os pode ignorar».
Trabalhadores das refinarias de Sines e da antiga congénere de Leça da Palmeira, cujo anúncio de encerramento faz por estes dias dois anos, por seu lado, chamaram a atenção para a heróica resistência de classe que moveram contra a liquidação dos seus direitos e da empresa, bem como para a falsidade do argumento ambiental na decisão de encerrar a refinaria de Matosinhos, já que, notaram, não houve qualquer transição energética nem descarbonização. O que se deixou de produzir em Portugal passou a sê-lo nos mesmos moldes em Espanha e, depois, importado, o que, aliás, faz acrescer a pegada ecológica pela necessidade de transporte rodoviário de longo curso.
Culpados!
Ora, Paulo Raimundo considerou que «o veredicto é simples: culpados por um processo que prejudicou os trabalhadores, os consumidores, a economia nacional e o Estado português; culpados de um crime económico que apenas foi útil – e essa é a razão funda de ter sido concretizado – a um pequeno grupo de pessoas que se apropriaram da empresa e dos seus gigantescos lucros».
O dirigente comunista apontou o dedo aos «grandes grupos económicos e os que estão ao seu serviço: o PS, o PSD e o CDS». Detalhou, também, os prejuízos causados aos trabalhadores, cujas condições de trabalho e remunerações se degradaram; aos consumidores, que, ao contrário do que lhes foi vendido, viram os preços subir «e não foi por causa dos impostos», mas da especulação; para o País em diversos domínios, do recuo na capacidade instalada ao agravamento da dependência, do rombo no saldo de exportações e nas contas públicas pela entrega das receitas à gula capitalista, à degradação ambiental.
De resto, Paulo Raimundo insistiu que o encerramento da refinaria de Matosinhos não foi determinado por consciência ambiental ou obsolescência da infra-estrutura, mas para abrir caminho a um «projecto de construção de imobiliário de luxo em toda a zona».
Perante tudo isto, «o que é urgente e necessário é a valorização do aparelho produtivo nacional e o investimento na Refinaria de Sines».
«Da mesma forma, a retoma do controlo público da Galp» é «uma necessidade concreta», aliada ao «fim da liberalização dos combustíveis e da energia», ao «travão ao aumento de preços e à especulação».
«Uma necessidade dos trabalhadores, das empresas, das famílias, dos patriotas, dos democratas, do povo português», concluiu.