John Lennon e a Paz
John Lennon era um activista da paz nos EUA no período mais intenso da guerra do Vietname
Não espanta que se tenham levantado suspeitas sobre o envolvimento da CIA na morte de John Lennon, como afirma o advogado e jornalista Fenton Bressler no livro Who Killed John Lennon (Quem Matou John Lennon, St Martin’s Press, 1990) e insinua o dramaturgo Ian Carroll na peça One Bad Thing (Uma Coisa Má). Ambos defendem a ideia de que a Central Inteligence Agency (CIA – órgão máximo da segurança dos Estados Unidos para os assuntos externos) tenha manipulado Mark Chapman, que terá disparado cinco tiros contra o ex-Beatle em Nova York, no dia 8 de Dezembro de 1980, quatro dos quais atingiram Lennon, que não sobreviveu.
Isto porque o autor de Imagine e da esmagadora maioria das letras do Beatles era um pacifista, um activista da paz nos EUA (vivia em Nova York com Yoko Ono, artista que com Lennon formou a Plastic Ono Band), no tempo em que a guerra de Vietname estava, mais do que nunca, na ordem do dia e, para os defensores da intervenção americana na Indochina, Lennon tinha uma grande capacidade para mobilizar pessoas. Demasiada, para eles.
Não cabe, neste artigo, tirar conclusões definitivas sobre essa questão. Atendemos a factos e, neste caso, os mais relevantes são: John Lennon foi assassinado, Chapman foi condenado a prisão perpétua com possibilidade de sair em liberdade condicional após 20 anos, que foi sendo adiada, também pela intervenção de Yoko Ono, que argumentava que essa liberdade poria em perigo a vida dela, dos filhos de Lennon e do próprio Mark Chapman.
De uma coisa não restam dúvidas: John Lennon escreveu e interpretou, a solo ou com os Beatles ou a Plastic Ono Band, canções como All You Need Is Love (Tudo o que precisas é amor) em 1967 (encomenda da BBC para o primeiro programa televisivo transmitido por satélite e visto por 350 milhões de pessoas), uma mensagem de paz em tempo da guerra do Vietname que contou com a participação de Mick Jagger, Eric Clapton, Marianne Faithful, Keith Moon e Graham Nash; Give Peace a Chance, (Dêem Uma Oportunidade À Paz), de 1969, que condena o paleio do poder, carregado de palavras ocas, e na qual se afirma, em contraposição a isso, «tudo o que nós dizemos é: dêem uma oportunidade à Paz»; Happy Xmas (War Is Over), de 1971, canção integrada na campanha pacifista cujo slogan, era «war is over, if you want» (a guerra acabou, se tu quiseres), fazendo parte dessa campanha internacional as célebres conferências de imprensa na cama, John e Yoko com letreiros a legendar o cenário (war is over), as chamadas Bed Ins For Peace (na cama pela paz), acções integradas no movimento da contra-cultura (contra o sistema) dos anos 60/70; e Imagine, um verdadeiro hino à paz e à harmonia, com Lennon a cantar «imaginem toda a gente compartilhando o mundo inteiro (…), imaginem que não há fronteiras nem nenhum motivo para matar ou para morrer(…), imaginem toda a gente vivendo a vida em paz».
Não espanta que se tenham levantados suspeitas sobre a intervenção da CIA nos acontecimentos que rodearam a morte de John Lennon já que, por menos do que isto que acabamos de contar, a CIA fez das suas e todos sabemos isso. Os factos, e são deles que falamos, dizem-nos, com toda a certeza, que John Lennon foi morto na altura em que mais defendia a paz e condenava a guerra em geral e, particularmente, a guerra do Vietname, que só terminou em 1975, causou a morte de cerca de 60 mil norte-americanos, tendo sido feridos mais de 300 mil, e deixou muitos milhares de estropiados e outros tantos traumatizados, para não falarmos de famílias desfeitas por um conflito armado que decorreu a 13 mil quilómetros de distância e terminou com a derrota dos EUA...
O resto? Bob Dylan escreveu, por sinal numa cantiga em louvor da paz, «the answer, my friend, is blowing in the wind» (a resposta, meu amigo, sopra no vento…).