As maroscas de janotas

Rui Fernandes


As maroscas de janotas convergem sempre na ausência de resposta de fundo aos problemas e de favorecimento dos que mais têm

Sabemos como prolifera por aí o «falabaratismo» carregado de adjectivação procurando esconder as suas reais opções ao serviço dos grandes interesses.

Em vez de proporem a valorização salarial e um subsídio de risco digno, pedem a actualização do valor dos gratificados para as forças de segurança. Ou seja, o que propõem é que os profissionais continuem a trabalhar horas e mais horas para conseguirem compor o seu rendimento, em vez de pugnarem para que os mesmos profissionais cumpram o seu horário e tenham o seu descanso e convívio familiar, condições para um exercício profissional em melhores condições.

Sobre o RASI (Relatório Anual de Segurança Interna) propõem uma Comissão de Inquérito (CI), ou seja, lançam sobre toda a direcção superior das forças e serviços de segurança a desconfiança de que os elementos nele constantes não são os reais. É o RASI isento de lacunas? Não é. É o RASI isento nas leituras que faz dos números? Não é. É possível melhorá-lo e torná-lo um melhor instrumento de análise da realidade? Com certeza que será. Mas que tem tudo isto a ver com uma CI? Nada. O que sobra então dessa proposta é mais uma vez folclore.

Estes são dois exemplos de maroscas de janotas que se replicam quando se olha para outras áreas, seja sobre a fixação de tectos de preços de bens essenciais, seja da tributação sobre os lucros de muitos milhões dos grandes grupos económicos, seja sobre limitação de aumento de rendas de casa, seja sobre medidas para a limitação do custo dos combustíveis, etc., etc.. Tudo medidas que, repercutindo-se na vida dos trabalhadores, também se repercutiriam na vida dos profissionais das forças e serviços de segurança e suas famílias, os tais que dizem querer defender.

As maroscas de janotas, que usam vários emblemas, convergem sempre no mesmo rio de ausência de resposta de fundo aos problemas e de favorecimento dos que mais têm.

Mas há ainda os especialistas em tentar «atirar poeira para os olhos». Está neste caso o MAI, que há umas largas semanas justificou o prosseguimento das medidas para o SEF com compromissos assumidos no âmbito da União Europeia. Ora, em resposta à pergunta dos deputados do PCP no Parlamento Europeu sobre esses eventuais compromissos, a Comissão Europeia diz o seguinte «A organização dos serviços nos domínios da migração, do asilo e das fronteiras a nível nacional incumbe ao Estado-Membro em causa. Após consulta dos representantes do Governo português, confirma-se que esta reorganização constituiu uma decisão ou iniciativa nacional, não tendo sido desencadeada por um pedido formulado pela Comissão». Ou seja, escusa o MAI de se desculpar com terceiros para as opções que o Governo entenda adoptar nesta matéria. Como é referido no O Pequeno Príncipe «cada um é responsável por aquilo que cativa».

 



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